A indústria brasileira continua sua trajetória em direção ao fundo do poço. O fraco desempenho do setor deve prejudicar um pouco mais o crescimento do PIB neste ano. É o custo dos juros altos e do câmbio desfavorável, aliados à ausência de reformas estruturais no país.
A produção industrial teve queda de 0,2% em agosto em comparação com o mês anterior. Foi a terceira vez no ano que isso aconteceu, repetindo abril e junho. Ao longo de 2011, o setor vem andando de lado: a um mês de alta segue-se outro de queda.
O país produz hoje em níveis abaixo dos de maio de 2010. Ou seja, nestes 15 meses desde então a indústria brasileira atrofiou, com consequências negativas para a geração de renda e emprego no país.
Em agosto, 11 das 27 atividades pesquisadas pelo IBGE apontaram redução na produção em relação ao mês anterior. O principal impacto negativo sobre a média geral veio do setor de alimentos, que recuou 4,6% em razão, principalmente, de dificuldades na exportação de produtos.
No acumulado em 12 meses, a indústria brasileira apresenta crescimento de 2,3%. Para se ter ideia de quão pouco isso representa, basta ver que há um ano, em outubro de 2010, o mesmo indicador estava em 11,8%. Significa que, a cada mês que passa, o parque industrial nacional fica mais fraquinho.
Outra forma de perceber a vertiginosa perda de vigor da indústria brasileira é observar o seu comportamento por quadrimestres. Entre janeiro e abril de 2010, o crescimento havia sido de 18% em relação a igual período do ano anterior. De maio a agosto últimos, o percentual caiu a 1,2%, na mesma base de comparação.
Analistas são unânimes em dizer que o setor que responde por quase um terço da economia brasileira definha, principalmente, por causa de dois fatores: os juros altos e o câmbio desfavorável.
Mesmo com a recente valorização da moeda americana, que favorece nossas exportações, o ainda pujante mercado interno brasileiro continua sendo abastecido preferencialmente por produtos vindos de outros países. Quanto aos juros, mesmo com o corte efetuado em agosto pelo Banco Central, a taxa real em vigor no Brasil mantém-se como a mais alta do mundo.
Ao coquetel mortal junta-se também a elevada carga tributária e a falta de infraestrutura adequada, como aponta Tony Volpon, analista da Nomura Securities, na Folha de S.Paulo:
"A falta de competitividade vai além da questão cambial. (Mas) Infelizmente, enquanto a alta do dólar devolve à indústria alguma competitividade, os efeitos da crise diminuem a demanda, e os preços das nossas exportações caem."
Um dado positivo da pesquisa mensal do IBGE é que o setor de bens de capital tem apresentado os resultados mais favoráveis entre os que compõem o parque industrial nacional.
Em agosto, cresceu 0,9% em relação a julho, e 8,6% na comparação com igual período do ano passado. São mais máquinas e equipamentos para ampliar a produção de toda a indústria local.
Mas, mesmo neste quesito, a trajetória é descendente, como observa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), segundo O Estado de S.Paulo.
"Há forte desaceleração da produção de bens de capital desde dezembro de 2010.
A produção de bens de capital fechou 2010 com crescimento de 20,9%, e hoje o crescimento está em 6,8% no acumulado em 12 meses. Está desacelerando muito rápido".
Até agora, a única atitude do governo diante da debacle da indústria brasileira tem sido buscar dar-lhe mais proteção, por meio da imposição de barreiras tarifárias a produtos importados.
Seria mais benéfico se reformas estruturais fossem levadas adiante, recuperando para o parque industrial nacional a competitividade que a política econômica em vigor lhe subtraiu.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
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