Uma das primeiras promessas de Dilma Rousseff, logo depois de empossada no cargo de presidente da República, foi reduzir a taxa de juros reais brasileira.
Ela caminha para cumpri-la, mas de uma maneira perversa:
permitindo que a inflação suba.
O atual governo está pondo em risco a fórmula macroeconômica que deu sustentação à economia nacional nos últimos tempos:
o tripé que une responsabilidade fiscal,
metas para a inflação
e câmbio flutuante.
Não se sabe ao certo, porém, o que pretende pôr no lugar.
O grande sonho de Dilma, manifestado na intenção anunciada no início do ano, é levar a taxa de juro real praticada no país à casa de 2% ao ano.
No primeiro semestre, a diferença entre a Selic e a inflação rodou à casa de 6% a 7%.
Nas últimas semanas começou a cair, e está agora ao redor de 5%, quando se toma como referência os títulos negociados pelo governo.
Juros menores são uma ótima notícia.
Ajudam o país a gastar menos com a rolagem da sua dívida - R$ 225 bilhões foram gastos nos últimos 12 meses -, colaboram para atrair menos capital especulativo do exterior (que, por sua vez, barateia o dólar) e ampliam os incentivos para o investimento produtivo, já que o custo do dinheiro fica mais barato.
O que não é bom é reduzi-los na marra, como fez o Banco Central nesta semana.
A consequência sobre as taxas de inflação projetadas foi imediata.
As remunerações implícitas nos papéis negociados no mercado financeiro (que servem como termômetro do comportamento dos preços) projetaram ontem uma subida na inflação exatamente igual ao corte da Selic.
Já se dá de barato uma inflação anual em torno de 6%, implodindo a crença de que o Banco Central, por meio de sua política de juros, perseguirá a meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional para os próximos dois anos.
Todos os resultados recentes indicam presença de recidiva do risco inflacionário, após brevíssima trégua em junho e julho. O IGP-M subiu 0,44% em agosto, puxado pelos preços no atacado, que depois vão bater no varejo.
Em 12 meses, acumula alta de 8%. O IPCA, índice oficial que baliza o regime de metas, já ultrapassou o limite de tolerância e encostou em 7% nos últimos 12 meses, período em que os serviços sobem em torno de 9%.
Para cortar os juros em 0,5 ponto percentual, o BC apostou no arrefecimento da atividade econômica internacional, com reflexos sobre os preços globais e efeitos diretos sobre a economia brasileira.
Mas fato é que as cotações das commodities estão subindo com gosto:
em agosto, em comparação com o mês anterior, o milho ficou 9% mais caro;
a soja, 0,5%;
o trigo, 8%;
e o café, 2%, mostrou o Valor Econômico.
Ao mesmo tempo, os juros projetados pelo mercado estão caindo substancialmente após a inesperada decisão do Copom. Já há quem preveja taxa básica de um dígito na virada do ano, ou seja, alguma coisa em torno de 9% anuais.
Se assim for, o juro real estará abaixo de 3% quando 2012 chegar. O preço terá sido a perda de estabilidade da moeda. Vale a pena pagá-lo?
"Poucas coisas são tão perigosas para a inflação quanto um BC capturado pelos interesses do governo. O guardião da moeda se transforma em cúmplice do populismo eleitoreiro, alimentando o dragão inflacionário", escreve Rodrigo Constantino no Valor.
Além de um compromisso mais tênue com a contenção dos preços, o governo Dilma também não mostra convicção quanto ao equilíbrio fiscal. A semana começou com juras de amor à austeridade nos gastos públicos e anúncio de aumento do superávit, mas termina com uma peça orçamentária que renega o compromisso.
A meta formal de superávit em 2012 será menor do que neste ano, embora o governo garanta que irá perseguir um resultado mais robusto, sem descontar os investimentos no PAC.
Se este é o objetivo, por que não o colocou no papel?
No ano que vem, as despesas primárias crescerão 15,9% em relação aos gastos previstos para 2011, enquanto o aumento previsto do PIB, em valores nominais, é de 10,4%.
"Ou seja, o governo custará proporcionalmente mais para o contribuinte", ressalta O Estado de S.Paulo, em editorial.
É salutar que o governo persiga um "mix" mais saudável de política econômica, que repouse em menor pagamento de juros e menos gastos públicos.
Mas não é desejável que isso seja feito de forma voluntarista.
A gestão Dilma está erodindo um modelo que garantiu bons resultados, sem dar nenhuma garantia do que pretende pôr no lugar.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Ela caminha para cumpri-la, mas de uma maneira perversa:
permitindo que a inflação suba.
O atual governo está pondo em risco a fórmula macroeconômica que deu sustentação à economia nacional nos últimos tempos:
o tripé que une responsabilidade fiscal,
metas para a inflação
e câmbio flutuante.
Não se sabe ao certo, porém, o que pretende pôr no lugar.
O grande sonho de Dilma, manifestado na intenção anunciada no início do ano, é levar a taxa de juro real praticada no país à casa de 2% ao ano.
No primeiro semestre, a diferença entre a Selic e a inflação rodou à casa de 6% a 7%.
Nas últimas semanas começou a cair, e está agora ao redor de 5%, quando se toma como referência os títulos negociados pelo governo.
Juros menores são uma ótima notícia.
Ajudam o país a gastar menos com a rolagem da sua dívida - R$ 225 bilhões foram gastos nos últimos 12 meses -, colaboram para atrair menos capital especulativo do exterior (que, por sua vez, barateia o dólar) e ampliam os incentivos para o investimento produtivo, já que o custo do dinheiro fica mais barato.
O que não é bom é reduzi-los na marra, como fez o Banco Central nesta semana.
A consequência sobre as taxas de inflação projetadas foi imediata.
As remunerações implícitas nos papéis negociados no mercado financeiro (que servem como termômetro do comportamento dos preços) projetaram ontem uma subida na inflação exatamente igual ao corte da Selic.
Já se dá de barato uma inflação anual em torno de 6%, implodindo a crença de que o Banco Central, por meio de sua política de juros, perseguirá a meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional para os próximos dois anos.
Todos os resultados recentes indicam presença de recidiva do risco inflacionário, após brevíssima trégua em junho e julho. O IGP-M subiu 0,44% em agosto, puxado pelos preços no atacado, que depois vão bater no varejo.
Em 12 meses, acumula alta de 8%. O IPCA, índice oficial que baliza o regime de metas, já ultrapassou o limite de tolerância e encostou em 7% nos últimos 12 meses, período em que os serviços sobem em torno de 9%.
Para cortar os juros em 0,5 ponto percentual, o BC apostou no arrefecimento da atividade econômica internacional, com reflexos sobre os preços globais e efeitos diretos sobre a economia brasileira.
Mas fato é que as cotações das commodities estão subindo com gosto:
em agosto, em comparação com o mês anterior, o milho ficou 9% mais caro;
a soja, 0,5%;
o trigo, 8%;
e o café, 2%, mostrou o Valor Econômico.
Ao mesmo tempo, os juros projetados pelo mercado estão caindo substancialmente após a inesperada decisão do Copom. Já há quem preveja taxa básica de um dígito na virada do ano, ou seja, alguma coisa em torno de 9% anuais.
Se assim for, o juro real estará abaixo de 3% quando 2012 chegar. O preço terá sido a perda de estabilidade da moeda. Vale a pena pagá-lo?
"Poucas coisas são tão perigosas para a inflação quanto um BC capturado pelos interesses do governo. O guardião da moeda se transforma em cúmplice do populismo eleitoreiro, alimentando o dragão inflacionário", escreve Rodrigo Constantino no Valor.
Além de um compromisso mais tênue com a contenção dos preços, o governo Dilma também não mostra convicção quanto ao equilíbrio fiscal. A semana começou com juras de amor à austeridade nos gastos públicos e anúncio de aumento do superávit, mas termina com uma peça orçamentária que renega o compromisso.
A meta formal de superávit em 2012 será menor do que neste ano, embora o governo garanta que irá perseguir um resultado mais robusto, sem descontar os investimentos no PAC.
Se este é o objetivo, por que não o colocou no papel?
No ano que vem, as despesas primárias crescerão 15,9% em relação aos gastos previstos para 2011, enquanto o aumento previsto do PIB, em valores nominais, é de 10,4%.
"Ou seja, o governo custará proporcionalmente mais para o contribuinte", ressalta O Estado de S.Paulo, em editorial.
É salutar que o governo persiga um "mix" mais saudável de política econômica, que repouse em menor pagamento de juros e menos gastos públicos.
Mas não é desejável que isso seja feito de forma voluntarista.
A gestão Dilma está erodindo um modelo que garantiu bons resultados, sem dar nenhuma garantia do que pretende pôr no lugar.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
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