Amarrado por uma taxa de juros de 12,5% ao ano (a maior do mundo, descontada a inflação), o Brasil desacelerou no segundo trimestre deste ano.
O passo mais curto, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 0,8% em relação aos três primeiros meses, contra um avanço de 1,2% nesse período, na comparação com o anterior (outubro, novembro, dezembro).
Ficou provado, pois, que passava da hora de folgar o garrote monetário, o que começou a fazer esta semana o Banco Central, com corte de 0,5 ponto percentual na Selic, medida que surpreendeu o mercado, cuja aposta era na manutenção do índice.
Mas, recebida como ousada, a decisão do BC ainda deixa o país a longa distância do segundo colocado no campeonato mundial dos juros, a Hungria, com 2,4% ao ano (contra nossos atuais 12%).
E o problema do crescimento pífio do PIB está igualmente longe de se restringir a essa questão.
Outro ponto fatal é a carga tributária. Além de alta, é a mais intricada do planeta, com grande variedade de impostos e contribuições, o que também contribui para elevar os custos.
Somem-se a essas graves distorções problemas como a máquina pública cara e ineficiente, a excessiva valorização do real, a inflação, a precariedade da infraestrutura e o complexo arcabouço legal.
Não à toa, a indústria brasileira avançou reles 0,2% de abril a junho, ante janeiro a março.
Desempenho pior, só sob os efeitos do turbilhão da crise internacional de 2008, no terceiro trimestre de 2009, quando a atividade recuou 7,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Não por acaso, também, o governo lançou, no início do mês passado, o Plano Brasil Maior, pacote com ares de nova política industrial.
O programa oferece dinheiro público a custos mais em conta, ao mesmo tempo em que desonera investimentos. É uma pisada no acelerador, mas com um motor sem potência para adquirir a velocidade desejada.
Enquanto não se enfrentar as questões em seu conjunto, o drama do voo da galinha, de curta altura e distância, perseguirá o Brasil, sétima maior economia do planeta.
A falta de competitividade põe a perder, por exemplo, parte da força que vem do emprego e da renda. Em vez de comprar mais produtos nacionais, aumentamos as importações da China.
Em vez de expandir nossas vendas para o exterior, perdemos importante espaço no mercado internacional. Enfim, falta-nos tecnologia, falta mão de obra qualificada, educação de qualidade; sobram-nos gargalos.
Sobretudo, faltam-nos determinação e ousadia.
O Brasil há décadas discute reformas essenciais que jamais são implementadas.
Hoje, a mais importante delas — comprova-o a inépcia demonstrada todos esses anos pelo Congresso Nacional — é a política. Projetos emperram, leis caducam, fiscalizações são negligenciadas, custos se multiplicam e o país não entra nos eixos. Sozinho, o eleitor pode muito pouco diante de partidos com programas de fachada e candidatos de ocasião, muitos deles fichas sujas interessados apenas na impunidade assegurada pelo cargo.
É hora de acordar o gigante, para que produza todas riquezas de que o cidadão necessita.
Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário