Os sinais cada vez mais claros de que a economia real será bastante afetada pela crise financeira praticamente travaram a rolagem da dívida pública brasileira no mês passado.
Em julho, o Tesouro Nacional foi obrigado a resgatar R$ 83,78 bilhões em títulos do governo prestes a vencer e, acuado pelos investidores, reduziu pela primeira vez no ano a venda de novos papéis.
A emissão modesta de ativos foi a resposta dada pela instituição aos investidores que, desconfiados do cenário futuro, exigiram uma remuneração maior (juros mais altos) para financiar a máquina federal.
A recusa do Tesouro em emitir papéis para não aceitar os juros exigidos pelo mercado já foi empregada em outros momentos de instabilidade econômica e permanece, segundo admitiu o coordenador da Dívida Pública, Fernando Garrido, como a estratégia principal em agosto.
"O Tesouro optou por não vender o lote integral que foi ofertado nas duas últimas semanas", afirmou.
Segundo o técnico, embora as taxas de alguns títulos tenham sido reduzidas novamente pelo mercado, na última quinzena, ainda há uma "dispersão" entre os preços cobrados pelos investidores.
Nessas ocasiões, lembrou Garrido, o governo prefere se retirar das negociações para impedir mais especulação com os juros e para evitar ficar refém dos bancos, corretoras e fundos de pensão.
"Se o Tesouro sancionasse as propostas com taxas maiores, estaria contribuindo com o nervosismo e a desconfiança dos agentes. Estaria na mão deles nas próximas emissões", comentou o operador de uma corretora de valores, que pediu para não ser identificado.
Como o Tesouro pagou os títulos que valiam R$ 83,78 bilhões em vez de emitir novos papéis no mesmo valor, o endividamento público recuou 3,93% em julho, ficando em R$ 1,734 trilhão.
Para honrar os compromissos financeiros mais imediatos, sem o lançamento de bônus novos, o governo deve recorrer ao colchão de recursos mantido para momentos de crise. Segundo Garrido, essa reserva é suficiente para seis meses de vencimentos.
A parcela do endividamento que precisará ser coberto nos próximos 12 meses cresceu de 21,5% para 22,3% do total da dívida.
Nas contas do coordenador, o governo precisará de R$ 72 bilhões para resgatar os papéis até o fim do ano.
Guerra cambial ficará mais séria
A fraqueza dos países ricos deve pressionar negativamente a economia mundial e a disputa dos países pelos mercados globais vai intensificar a guerra cambial, previu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
"Os Estados Unidos não têm a recuperação que esperávamos. Na Europa, a coisa está ainda pior por causa da crise aguda da dívida. Nos próximos dois anos, esses países vão crescer num ritmo lento, pífio.
Isso se não entrarem em recessão", disse.
Segundo Mantega, a política de injetar recursos nos mercados para estimular o crescimento traz o "risco de formação de bolhas" imobiliárias ou de crédito.
Ainda na visão do ministro, a disputa pelos mercados internacionais vai se intensificar, implicando a desvalorização forçada das moedas numa tentativa de os governos ganharem competitividade para os produtos nacionais.
"A guerra cambial tende a recrudescer."
Correio Braziliense
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