A presidente Dilma Rousseff está desde ontem na China, para visita oficial que durará cinco dias. É a terceira viagem internacional dela no cargo e a mais importante até agora.
O governo brasileiro indica estar pondo em marcha uma espécie de "diplomacia de resultados", mas é bom ficar de olhos bem abertos para não voltar do Oriente carregando espelhinhos na bagagem.
A China tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, numa velocidade nunca antes vista. Dez anos atrás, a corrente de comércio entre os dois países somava US$ 2 bilhões. No ano passado, já atingira impressionantes US$ 56 bilhões.
A China é a maior compradora de produtos brasileiros exportados - foram US$ 30,8 bilhões em 2010, ultrapassando em quase 60% o comércio com os EUA - e a segunda maior origem das nossas importações - compramos US$ 25,6 bilhões deles. O fluxo ainda é favorável ao Brasil, mas não se sabe por quanto tempo.
O maior problema é a composição da pauta comercial entre os dois países. Nada se assemelha tanto ao que ocorria no período colonial do que as atuais relações bilaterais Brasil-China.
Eles levam nossas riquezas naturais e também nos entopem de quinquilharias.
Segundo a Fiesp, 97,5% das importações brasileiras vindas da China em 2010 foram de bens manufaturados, numa lista liderada por aparelhos transmissores e receptores e dispositivos de LCD. Em contrapartida, 80% das vendas do Brasil para os chineses concentram-se em apenas três produtos:
minério de ferro, soja em grãos e celulose - todos, portanto, matérias-primas.
Ontem, a diplomacia brasileira comemorou o anúncio de alguns acordos com os chineses. O principal deles permite a venda de um dos modelos de avião fabricados pela Embraer em solo chinês. Travas impostas pelos camaradas de Pequim deixaram a fábrica erguida pela empresa brasileira lá quase inoperante - maldição da qual não escapou a Marcopolo, que abandonou seu projeto para produzir ônibus por falta de aval do governo chinês.
Também foram permitidas vendas de carnes suínas.
Correspondem a mais ou menos uma migalha:
no ano passado, o setor apresentara uma lista de 26 estabelecimentos brasileiros para serem inspecionados pelo governo chinês, mas apenas 13 foram visitados em novembro e somente três finalmente credenciados ontem.
É positivo que o Itamaraty empenhe-se na defesa dos interesses comerciais brasileiros na China. Conseguirá fazer, porém, apenas leve contraponto à agressividade comercial que os chineses exibem com muito mais desenvoltura.
Não apenas aqui, como em todo o mundo.
Outro estudo da Fiesp constatou que, em uma década (até 2009), o Brasil perdeu US$ 18,2 bilhões para os chineses nos dois maiores mercados do mundo: EUA e União Europeia.
O dano espraiou-se por dezenas de segmentos da economia e acentuou-se nos dois últimos anos.
A diplomacia companheira ficou vendo a caravana passar...
Mesmo entre empresários nacionais é difícil achar quem aposte no êxito da nossa diplomacia no sentido de melhorar a qualidade do comércio entre os dois países. Diz Robson Andrade, presidente da CNI: "Os chineses definem o que querem importar e da maneira que querem". Desde 2008, a invasão chinesa já levou ao fechamento de 46 mil vagas na indústria nacional.
Além de comprar o que querem, vender o que desejam e empurrar o produto brasileiro para fora de mercados suculentos, os chineses agora estão tomando ativos no Brasil de assalto. Desde 2003, US$ 37 bilhões foram investidos aqui, dos quais praticamente a metade (US$ 18 bilhões) em setores ligados à extração e à produção de matérias-primas, como petróleo, gás e mineração. No ano passado, dos US$ 17 bilhões investidos, 84% destinaram-se a produzir commodities.
É desproporcional a força das duas economias, embora o Brasil goste de encenar o teatrinho dos Brics com os coleguinhas chineses. Há uma quase unanimidade em reconhecer que as condições de produção na China são imensamente mais favoráveis que aqui:
impostos menores, juros inexistentes, mão-de-obra tão abundante quanto desumanamente barata.
Para enfrentar esta batalha desigual, seriam necessárias reformas mais profundas na nossa estrutura produtiva. Nada que Dilma esteja disposta a fazer, a julgar pelos seus cem primeiros dias no cargo.
A "diplomacia de resultados" será pouco para compensar esta falta de resultados.
Fonte: ITV
O governo brasileiro indica estar pondo em marcha uma espécie de "diplomacia de resultados", mas é bom ficar de olhos bem abertos para não voltar do Oriente carregando espelhinhos na bagagem.
A China tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, numa velocidade nunca antes vista. Dez anos atrás, a corrente de comércio entre os dois países somava US$ 2 bilhões. No ano passado, já atingira impressionantes US$ 56 bilhões.
A China é a maior compradora de produtos brasileiros exportados - foram US$ 30,8 bilhões em 2010, ultrapassando em quase 60% o comércio com os EUA - e a segunda maior origem das nossas importações - compramos US$ 25,6 bilhões deles. O fluxo ainda é favorável ao Brasil, mas não se sabe por quanto tempo.
O maior problema é a composição da pauta comercial entre os dois países. Nada se assemelha tanto ao que ocorria no período colonial do que as atuais relações bilaterais Brasil-China.
Eles levam nossas riquezas naturais e também nos entopem de quinquilharias.
Segundo a Fiesp, 97,5% das importações brasileiras vindas da China em 2010 foram de bens manufaturados, numa lista liderada por aparelhos transmissores e receptores e dispositivos de LCD. Em contrapartida, 80% das vendas do Brasil para os chineses concentram-se em apenas três produtos:
minério de ferro, soja em grãos e celulose - todos, portanto, matérias-primas.
Ontem, a diplomacia brasileira comemorou o anúncio de alguns acordos com os chineses. O principal deles permite a venda de um dos modelos de avião fabricados pela Embraer em solo chinês. Travas impostas pelos camaradas de Pequim deixaram a fábrica erguida pela empresa brasileira lá quase inoperante - maldição da qual não escapou a Marcopolo, que abandonou seu projeto para produzir ônibus por falta de aval do governo chinês.
Também foram permitidas vendas de carnes suínas.
Correspondem a mais ou menos uma migalha:
no ano passado, o setor apresentara uma lista de 26 estabelecimentos brasileiros para serem inspecionados pelo governo chinês, mas apenas 13 foram visitados em novembro e somente três finalmente credenciados ontem.
É positivo que o Itamaraty empenhe-se na defesa dos interesses comerciais brasileiros na China. Conseguirá fazer, porém, apenas leve contraponto à agressividade comercial que os chineses exibem com muito mais desenvoltura.
Não apenas aqui, como em todo o mundo.
Outro estudo da Fiesp constatou que, em uma década (até 2009), o Brasil perdeu US$ 18,2 bilhões para os chineses nos dois maiores mercados do mundo: EUA e União Europeia.
O dano espraiou-se por dezenas de segmentos da economia e acentuou-se nos dois últimos anos.
A diplomacia companheira ficou vendo a caravana passar...
Mesmo entre empresários nacionais é difícil achar quem aposte no êxito da nossa diplomacia no sentido de melhorar a qualidade do comércio entre os dois países. Diz Robson Andrade, presidente da CNI: "Os chineses definem o que querem importar e da maneira que querem". Desde 2008, a invasão chinesa já levou ao fechamento de 46 mil vagas na indústria nacional.
Além de comprar o que querem, vender o que desejam e empurrar o produto brasileiro para fora de mercados suculentos, os chineses agora estão tomando ativos no Brasil de assalto. Desde 2003, US$ 37 bilhões foram investidos aqui, dos quais praticamente a metade (US$ 18 bilhões) em setores ligados à extração e à produção de matérias-primas, como petróleo, gás e mineração. No ano passado, dos US$ 17 bilhões investidos, 84% destinaram-se a produzir commodities.
É desproporcional a força das duas economias, embora o Brasil goste de encenar o teatrinho dos Brics com os coleguinhas chineses. Há uma quase unanimidade em reconhecer que as condições de produção na China são imensamente mais favoráveis que aqui:
impostos menores, juros inexistentes, mão-de-obra tão abundante quanto desumanamente barata.
Para enfrentar esta batalha desigual, seriam necessárias reformas mais profundas na nossa estrutura produtiva. Nada que Dilma esteja disposta a fazer, a julgar pelos seus cem primeiros dias no cargo.
A "diplomacia de resultados" será pouco para compensar esta falta de resultados.
Fonte: ITV
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