Em sua volta ao Senado, peemedebista terá de explicar por que escondeu da Receita e da Justiça que é dono de emissora no valor de 20 milhões de reais
Jader Barbalho, do PMDB, ostenta um dos mais movimentados currículos da política brasileira. Em 45 anos, conquistou dez mandatos de vereador, deputado, senador e governador pelo Pará.
No mesmo período, foi acusado de corrupção, enriquecimento ilícito, sonegação e desvio de dinheiro público.
Em 2001, renunciou ao Senado para escapar da cassação e foi parar na cadeia. No ano passado, voltou à ribalta ao se eleger senador, cargo que assumirá no próximo mês graças à derrubada da Lei da Ficha Limpa.
Não será um retorno tranquilo.
Assim que tomar posse, Jader terá de responder por que motivo escondeu da Receita, do Congresso e da Justiça Eleitoral que é dono de uma retransmissora da Rede Globo no Pará desde 2001.
No ano passado, um ex-cabo eleitoral do senador, Joaquim da Costa Pereira, morreu de problemas do coração. Oficialmente, Pereira era o dono do Sistema Tapajós de Comunicação. Há dez anos, porém, havia firmado com Jader um contrato de gaveta em que lhe repassava 50% da empresa por 28000 reais (no mercado, o grupo está avaliado em 20 milhões de reais).
Na prática, portanto, Jader era o dono da retransmissora e Pereira, seu “laranja” - aquela figura comumente recrutada por políticos que querem adquirir empresas de comunicação mas:
1) não têm como justificar a procedência dos recursos;
2) precisam permanecer no anonimato, já que intencionam fazer uso político do veículo;
3) não querem pagar impostos;
e 4) não podem comprar empresas de comunicação porque já possuem uma, caso de Jader, dono da Rede Bandeirantes no Pará.
Ocorre que, ao abrirem o testamento de Pereira, seus seis filhos constataram que ele não fez menção alguma à sociedade oculta. De nada adiantou Jader protocolar na 1ª Vara Cível de Santarém o contrato de gaveta que firmou com Pereira. Quatro dos filhos do laranja decidiram ignorá-lo.
Diz um deles, Nivaldo Pereira:
“Esse papel não vale nada. Se o Jader quiser nossa TV, basta pagar 20 milhões de reais”. Segundo o contador Admilton Almeida, que representa o peemedebista, o contrato ficou na gaveta “porque a venda de uma TV é complexa, ainda mais quando envolve um político”.
Mesmo que consiga provar que é o dono da empresa, Jader terá de se entender com a Receita, a Justiça Eleitoral e a Rede Globo, já que o contrato da emissora com a Tapajós prevê a anulação da concessão em caso de “sucessão não natural” do proprietário.
Por fim, a omissão do senador pode acrescentar mais um item ao seu inigualável currículo:
um processo por quebra de decoro assim que ele voltar ao Senado.
Veja
A TV secreta de Jader
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