Começo por onde parou o editorial de hoje do Estadão.
A presidente Dilma mostrou diversas vezes quais são as suas diferenças em relação ao presidente Lula. Mas ao aceitar o linchamento do diretor da Vale, Roger Agnelli, está sinalizando a quem interessar possa onde começam as semelhanças.
O que me pergunto é se a escolha do sensível território das invasões barbaras que o PT tem praticado na economia privada para mostrar essas afinidades não indica que as diferenças até hoje comemoradas são mais de tática que de fundo.
Pelo seguinte.
A conquista do Estado é página virada para o PT. Foi um longo aprendizado até que Lula conseguisse aparar todas as arestas que o atritavam com os eleitores mas ele conseguiu. Agora, depois de oito anos “lá” a ocupação e o aparelhamento do máquina pública e a sua integração orgânica ao projeto de poder petista é algo tão sólida e abertamente assumido que, se resta alguma duvida por ser dirimida é se, na eventualidade da Presidência da Republica cair nas mãos de outro partido, o Estado petista vai ou não se submeter ao veredicto do eleitor e seguir as ordens de um governo não petista.
Isto posto, pensemos granmscianamente, como fariam os petistas que interessam.
Com a máquina do Estado bem segura no embornal; com os demais poderes bem amarrados pelas nomeações e seus titulares devidamente documentados no uso das suas tetas licitas e ilícitas; com os grandes empresários no bolso e o governo desfrutando de ampla liberdade para usar as polícias e as leis apenas quando convém e somente contra os incomodados, como tem acontecido desde o esquecido Mensalão 1, não faz mesmo nenhum sentido trombar de frente com as liberdades fundamentais, como a de imprensa, renegar os direitos humanos básicos, nem tampouco alinhar-se automaticamente com os mais notórios desclassificados da cena politica internacional.
Isso só serve para “sujar a barra” internacionalmente e fazer aliados perder votos.
O próprio Lula, aliás, faz jus ao mérito que todos lhe reconhecem de ter convencido os restos da esquerda radical, no Foro de São Paulo, de que já se foi o tempo da violência e da contestação, o caminho para o poder, agora, é o do voto.
E convenceu tão completamente que até o velho Fidel Castro trocou a farda por um moleton e acedeu em “exortar” a ultima guerrilha esquerdista em ação – a das Farc na Colômbia – a aceitar a paz.
Cuba está tão empenhada nessa paz, aliás, que as Farc foram subitamente acometidas de uma epidemia de traições em seus esconderijos na selva que resultaram na morte em sequência de todos os seus lideres “linha dura”, restando apenas os moderados que agora estão negociando com o governo de Bogotá, como deseja Fidel.
Mas tudo isso é passado. A questão que está pela frente, e que desde a segunda eleição de Lula monopoliza obsessivamente a sua atenção, é como projetar internacionalmente o poder desse novo Brasil; desse novo PT.
E para isso o modelo, hoje, indiscutivelmente, é a China.
Vista por essa ótica, passa imediatamente a fazer todo sentido a longa série de estranhos acontecimentos que desagua agora no fuzilamento publico do homem que, desde que passou a comandar a Vale, multiplicou por quase 17 vezes o seu valor.
Por que razão esses nossos antigos paladinos dos fracos e oprimidos vivem hoje abraçados aos superpoderosos empresários que, graças aos seus préstimos, galgam todos os anos novas colocações na lista dos bilionários da revista Forbes?
O que explica que o único banco brasileiro de fomento ignore os milhares de empregadores brasileiros sem acesso a crédito e despeje dezenas de bilhões de dólares exclusivamente nos cofres das mega-empresas, as únicas no país que podem tomar dinheiro tanto no mercado aberto quanto em bancos nacionais ou estrangeiros?
Porque um governo que diz agir em favor dos oprimidos trabalha furiosamente para criar monopólios que darão poderes absolutos a patrões contra trabalhadores com cada vez menos alternativa de empregadores? Porque focam essas operações em produtores de insumos primários em cima dos quais se estruturam todas as grandes cadeias produtivas da indústria nacional?
Porque, depois de cooptar os homens mais ricos do país, tomam-nos pela mão e levam-nos ao exterior para fechar ainda mais os seus esquemas monopolísticos com recursos do Tesouro Nacional?
É a glória eterna dos Gerdau, dos Ermírio de Moraes, dos Batista, dos Joésios que este governo quer garantir?
Ou está-se juntando a fome de poder do PT com a vontade de comer dos “capitalistas de relacionamentos” de modo a reeditar os recorrentes consórcios de interesse entre o Estado e os interesses privados para controlar as torneiras dos insumos básicos onde todo o resto da economia nacional é obrigada a vir beber que sustentaram os esquemas de poder tanto de Getúlio Vargas quanto dos militares por quem Lula tantas vezes declarou admiração?
E com o crescente peso relativo da economia brasileira no cenário mundial, não é esse modus operandi, também, perfeitamente adequado para projetar internacionalmente o poder de um país de que o PT, do qual Lula se considera a encarnação viva, acredita ser “a vanguarda”.
O que, senão o desejo de usar como instrumento político o controle de gargalos nevrálgicos da economia mundial, como os de commodities minerais, petróleo e, especialmente, a produção e comercialização de proteína animal e vegetal, pode explicar o esforço ingente dos governos petistas de criar e se tornar sócio de grandes monopólios em operações onde não se leva em conta o mérito dos escolhidos ou dos preteridos no jogo de cooptação dos representantes do capital nem o interesse da massa dos brasileiros nos seus papéis de trabalhadores assalariados ou de consumidores?
A China, com a sua abordagem predatória do mercado por monopólios que somam o poder do Estado ao do capital anabolizados pelo esmagamento dos direitos dos trabalhadores que os servem, está pondo o mundo de joelhos e ameaçando o capitalismo democrático com a pura e simples supressão do seu habitat (que é o mercado livre de interferências espurias).
E o PT está louco para bancar uma parte desse jogo.
Transcrito do : Verspeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário