"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 01, 2011

CONGRESSO NACIONAL : CÍRCULO VICIOSO COM JEITO DE PÃO ADORMECIDO, MESMAS CARAS, VÍCIOS, PROJETOS DE SEMPRE ...

Com quatro meses de atraso desde a eleição, e um mês depois da posse da presidente Dilma Rousseff, a nova legislatura estreia hoje já com jeito de pão amanhecido.
O senador José Sarney será reconduzido à direção do Senado e, na Câmara, apenas 12% dos 513 deputados que tomam posse são novatos.
Está mais para reprise.

Com 594 parlamentares ao todo, não se pode cobrar eficiência de um sistema que descarta a qualidade em favor da quantidade.

São três senadores por estado, vários deles suplentes empossados sem nunca terem sido votados, e mais 513 deputados eleitos sem muita correspondência com o tamanho dos colégios eleitorais, e outros tantos beneficiados pelo tal do coeficiente eleitoral — sistema que premia os candidatos de legendas com campeões de votos.


Como diz o vice-presidente da República, Michel Temer, crítico do sistema eleitoral, mas cético quanto às possibilidades de uma reforma política abrangente, teve deputado do PMDB com 128 mil votos que não se elegeu, enquanto em outro partido foi eleito um candidato com anedóticos 345 votos na esteira da elevada votação de um companheiro de legenda.

Temer poderia ter recorrido à história atribuída ao sertanista e militar marechal Cândido Rondon, patrono das comunicações. Em suas andanças para supervisionar a instalação, entre os séculos 19 e 20, de linhas telegráficas, conta-se que Rondon recebeu um dia o pedido de mais gente, porque 12 peões não conseguiam erguer um poste de madeira.

Ele mandou que 11 tentassem. Não deu certo.
Depois, 10. Fracasso.
Nove, oito, idem.
Com sete, o poste subiu.

Estudos demonstram que em democracias sólidas, como nos EUA e na Europa, mas também na emergente Índia, há um nexo de causa e efeito entre o tamanho da representação parlamentar e o grau de corrupção.
Todos têm menos parlamentares, proporcionalmente à população, que no Brasil.

E a lisura parlamentar, digamos assim, se não é melhor, não é pior. Mas o custo da burocracia é menor.

O que também é menor é o tamanho da assessoria à disposição dos parlamentares.
O Congresso brasileiro emprega mais de 25 mil, ou 42 funcionários por parlamentar. O dos EUA também emprega muita gente, mas serve a todos — e acompanha as contas fiscais.

Aqui, o governo arrecada e fiscaliza.
E o Congresso, quando intervém, o faz só na votação da lei orçamentária, para inchar, em geral, a previsão de receita, pois o governo normalmente a subestima.

Governo faz a agenda
Se o governo equilibra mal o esforço fiscal entre distribuição de renda e investimento público, além de sustentar um perfil de Estado sem muito compromisso com a produtividade dos dinheiros do contribuinte, não é do Congresso que sairão os exemplos.

O que a Câmara omite
Coisas simples, de interesse público, como a regulamentação do artigo da Constituição que obriga a divulgação, em anúncios e notas fiscais, dos tributos que incidem sobre o preço de todos os produtos e serviços, dormita numa mesa da direção da Câmara, depois de ter sido aprovada no Senado.
Mas há grande chance de que seja aprovado um sucedâneo da CPMF, se o governo quiser.

É o que há pela frente, conforme pesquisa do portal G1 junto a 414 dos 513 deputados que hoje tomam posse:
34,3% deles aceitam recriar o sucedâneo da CPMF, contra 57,7% que o rejeitam.
Placar assim o governo reverte fácil, com “gerênciana liberação das emendas parlamentares e nomeação de apaniguados da base aliada.


Retrógrado e gastalhão
Cada vez mais o Congresso se torna uma força retrógrada quanto às questões dos costumes e progressista nas fiscais, abdicando, ou olhando para o outro lado, de sua real motivação:
zelar pelo interesse do contribuinte, fiscalizando os atos do Executivo.

Antônio Machado / Correio Braziliense

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