"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 16, 2010

R$1BI EM CRÉDITO PODRE.

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Os executivos do PanAmericano promoveram um verdadeiro festival de irregularidades na instituição controlada por Silvio Santos.

Segundo técnicos envolvidos na investigação, quanto mais se reviram as contas, mais problemas aparecem, o que tem tirado o sono do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ainda que, publicamente, ele garanta que “agiu a tempo e a hora” para evitar respingos no sistema financeiro nacional.

Há o temor de que mais bancos de menor porte tenham enveredado pelo mesmo caminho do PanAmericano, mostrando uma saúde que realmente não têm.

Do R$ 1 bilhão dado a consumidores sem perfil adequado, 46,83% estão em atraso há mais de 14 dias o equivalente a R$ 470 milhões.

O tamanho do buraco, porém, pode ser ainda maior, já que os administradores do banco maquiavam a contabilidade para dar bons resultados ao Grupo Silvio Santos.

Prejuízos

O temor do BC é de que esses créditos podres tenham sido vendidos a outras instituições que agora correm o risco de amargar prejuízo bilionário.

Se esses empréstimos arriscados não tiverem sido vendidos à outras instituições, o impacto no sistema financeiro será menor, mas, em contraponto, o PanAmericano pode perder ainda mais valor de mercado ao ser vendido — o que deve ocorrer rapidamente para que Silvio Santos possa arcar com parte da dívida de R$ 2,5 bilhões que fez com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e que impediu a bancarrota de seu braço financeiro.

Outra engenharia mirabolante dos executivos do PanAmericano fez o empresário mineiro Adalberto Salgado, de Juiz de Fora (MG), receber incríveis 27% anuais de rentabilidade em uma aplicação de R$ 386 milhões em certificado de depósito bancário (CDB).

O resultado obtido pelo empresário — de quase R$ 120 milhões ao ano — é praticamente o triplo da remuneração das taxas médias de mercado de 10,75% ao ano.

A suspeita é de que a operação era usada como um atalho para que os ex-diretores do banco desviassem dinheiro sem levantar suspeitas. Esse ex-executivos foram intimados pelo BC e deverão ser ouvidos até a sexta-feira.

A corda só estica

Ninguém sabe dizer onde vão parar as fraudes.

Dúvidas persistem

O caos instalado no sistema financeiro pelos executivos do PanAmericano exigem, além de medidas rápidas de contenção de impactos, respostas para a omissão ou cegueira do Banco Central, da Caixa Econômica Federal e das empresas que auditaram as contas do banco.

A primeira pergunta ventilada entre os analistas de mercado é como um sistema bancário que sobreviveu à crise de 2008 e era tido como um dos mais seguros do mundo deixou nascer esse monstro?

As suspeitas recaem sobre a possibilidade de vista grossa para obter vantagens tanto por parte da Caixa quanto das instituições que fizeram a análise. Mas, até o momento, ninguém foi chamado a depor.

O BC também deve justificativas, já que o PanAmericano operava irregularmente há pelo menos quatro anos sem que nenhuma autoridade incomodasse os executivos do banco em suas seguidas fraudes.

Victor Martins/Correio Braziliense

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