"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 06, 2010

O PIOR 1º SEMESTRE EM 63 ANOS NAS TRANSAÇÕES COM O EXTERIOR. HÁ QUEM FALE : MUITA GENTE VAI PERDER DINHEIRO.

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HEBERTH XAVIER Correio Braziliense

Prepare-se, pois algo precisará ser feito em relação ao mercado de câmbio brasileiro.

Os últimos números das contas externas mostram uma deterioração crescente e perigosa, sugerindo que o real, na cotação dos últimos meses (em torno de R$ 1,75), está no lugar errado ou sobrevalorizado, como ressaltou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI), chefiado por Dominique Strauss-Kahn.

O problema é que, mesmo ciente disso, o Banco Central também sabe que o espaço para manobras é atualmente inexistente.

O ditado é surrado, mas até que cai bem para o caso: o BC está naquela situação em que se correr, o bicho pega; mas, se ficar, o bicho come.
(...)
Como já ocorreu em vários momentos da história econômica brasileira, o país não está conseguindo sustentar uma moeda tão valorizada. A indústria parou de crescer, o rombo externo bate recordes e os produtos brasileiros perdem competitividade no mundo, sobretudo na comparação com a China.

O que fazer?
Desvalorizar o real, certo?
Mas como fazê-lo sem causar impacto na inflação?
Ou como fazê-lo em pleno período de eleições presidenciais?

O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, resume assim:
Há uma semente germinando e essa é a única certeza que temos, a de que o deficit externo continuará crescendo.

A menos que algo seja feito. Ele, porém, se mostra cético e acrescenta:
Não é preciso fazer nada radical para ajustar o nível do câmbio. Mas, mesmo algo gradual, é improvável agora, às vésperas das eleições.

Um resumo da armadilha em que está o BC:
no primeiro semestre deste ano, o Brasil registrou o pior resultado nas transações com o exterior em 63 anos.

O rombo mais do que triplicou, de US$ 7,2 bilhões, em 2009, para US$ 23,8 bilhões. Esse é um lado do pêndulo.

O outro é aparentemente paradoxal.
É que as apostas no mercado financeiro ainda são de valorização forte do real. Como explicar essa contradição?

Simples, pois apostar na valorização do real ante o dólar rende muito para investidores daqui e do exterior.

Apostando nisso, eles tomam capital a juros baixos lá fora, emprestam a grana ao governo brasileiro (a taxas bem maiores) e, com o lucro dessa operação e o ganho na hora de converter de volta para dólares, têm um jeito de ganhar dinheiro fácil e de risco quase zero.

Como funciona

A percepção de que há algum problema no câmbio faz com que o país receba muito capital especulativo, aquele que não fica muito tempo.

Quem traz esse dinheiro ganha duas vezes

» Imagine um investidor que tenha tomado no exterior um empréstimo de US$ 1 bilhão, pagando juros de 1% ao ano (compatível com a taxa atual na média dos países ricos).

» Esse investidor vem ao Brasil e converte o dinheiro para reais.
Hoje, digamos, a uma cotação de R$ 1,75.

O US$ 1 bilhão vira, portanto, R$ 1,75 bilhão.

» Esse aplicador compra títulos do governo, corrigidos pela taxa básica (Selic). Como se sabe, são investimentos de risco quase zero que, comparados ao resto do mundo, pagam muito bem — 10,75% ao ano.

Ao fim de 12 meses, portanto, cerca de R$ 180 milhões serão adicionados ao R$ 1,75 bilhão original.

» O investidor ganha ainda mais se o real se valorizar no período — o que ocorreu no ano passado. Se o dólar tiver caído para, por exemplo, R$ 1,65, converterá seus reais e ficará com pouco mais de US$ 1,16 bilhão.

» O ganho será mais do que suficiente para pagar a dívida tomada no exterior, a 1% ao ano, que, ao fim de 12 meses, de US$ 1,1 bilhão.

O investidor paga o débito e ainda fica com US$ 150 milhões detalhe:
sem usar nem sequer um dólar de recursos próprios.

» Essas operações foram estimuladas nos últimos meses, quando cresceu a percepção, entre os agentes financeiros, de que o real tende a se valorizar em relação ao dólar.

Contribuem para isso, entre outros fatos, a expectativa de entrada recorde de dólares no país — para a capitalização da Petrobras, por exemplo.
(...)
Um temor já falado no mercado, ainda por enquanto à boca pequena:
alguns fundos e empresas estariam descobertos, ou seja, teriam vendido dólares sem tê-los para entrega futura, acreditando que a moeda será comprada a um preço menor do que hoje.

Na crise mundial, no fim de 2008, empresas como a Sadia e a Aracruz perderam muito com isso.
Teme-se a repetição de algo semelhante agora.

Original/Íntegra :

Quando a bolha do dólar vai estourar?

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