Depois de amargar no ano passado a primeira recessão desde o governo Collor, a economia brasileira voltou a crescer no primeiro trimestre.
Não é ainda um ritmo efetivamente chinês: enquanto lá a expansão foi de 11,9%, cá foram 9%, ambos calculados sobre igual período de 2009.
Trata-se de um resultado a ser saudado, embora emprenhado de sinais preocupantes.
A primeira constatação a fazer é que a impressionante marca - a maior para este tipo de comparação desde 1996 - foi obtida sobre uma base de comparação deprimidíssima.
No primeiro trimestre do ano passado, auge da crise econômica, a economia brasileira recuara 2,1%. Ponderados estes dois extremos, o resultado alcançado agora ficaria mais ou menos no nível do início de 2008.
Ainda assim bom, embora não tão exuberante.
(...)
Em paralelo, o nível dos investimentos ainda continua baixo para ancorar uma economia que queira crescer em velocidade efetivamente asiática: com toda a alta deste início de ano, aquilo que o economês chama de "formação bruta de capital fixo" ou FBCF corresponde agora a 18% do PIB.
Bom? Vejamos:
No início do bombástico 2008, os investimentos estavam em 18,1%. Ou seja, apenas voltaram ao mesmo patamar de dois anos atrás e, retroagindo um pouco mais, encontram-se também no mesmo nível de 2001, ano reconhecidamente difícil para a economia mundial.
(Em todos os demais anos do governo Lula, o percentual esteve abaixo deste padrão. Nunca é demais lembrar que a promessa do PAC era elevá-lo a 25% do PIB...)
Resultado é que a economia do país roda hoje num ritmo maior do que sua estrutura produtiva comporta. Tenta ser Ferrari com carcaça de fusquinha.
O problema é que, se não há investimento suficiente, os gargalos afloram, os preços sobem, a inflação recrudesce (basta olhar os alimentos, com a terceira maior alta desde 1995 para os cinco primeiros meses do ano, conforme divulgado há pouco).
Onde se veem estes contratempos com total clareza?
Olhe ao redor e não será difícil perceber: estradas cada vez mais abarrotadas e perigosas; aeroportos em petição de miséria; transportes públicos de qualidade insuficientes ou mesmo inexistentes; dificuldade para encontrar mão-de-obra para tocar qualquer obrinha ou serviço.
Para complicar a equação, há também a insuficiência da nossa poupança. No trimestre, a sua correlação com o PIB foi a 15,8%, bem abaixo, também, do nível anterior à crise, quando oscilou em torno de 17,5%, chegando ao pico de 18,2% em 2004.
Como o Brasil, principalmente o setor público, poupa pouco (o paradigma chinês neste quesito alcança 40% do PIB), vê-se obrigado a recorrer a dinheiro de fora.
Com isso, fica dependente do humor do capital externo, nem sempre seguro.
Isso fica claro no descompasso entre o crescimento das importações e das exportações no trimestre. Enquanto as primeiras subiram 13% ante o último trimestre de 2009, as nossas vendas ao exterior expandiram-se apenas 1,7% no mesmo período.
Disso resulta uma necessidade de financiamento externo da economia (via ingresso de dólares) que deve chegar a US$ 48,5 bilhões este ano, a maior da história.
Trata-se de uma bomba H de demanda, que eleva a temperatura da economia e exige do Banco Central doses mais cavalares de juros já altos - como deve sair da reunião de hoje do Copom.
O risco é derraparmos na curva do superaquecimento e tocar fogo no que pode dar muito certo.
Fonte Pauta em Ponto :
Íntegra : Muita lenha na fervura pode dar queimadura
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