Mesmo um relógio parado mostra a hora certa duas vezes por dia. Na semana passada a campanha eleitoral - vazia, modorrenta e escapista - esbarrou, por mero acaso, numa questão fundamental. Instados pela mídia, Dilma e Serra viram-se obrigados a discordar de Lula sobre a carga tributária.
O ruído durou pouco.
A campanha logo voltou ao seu leito natural. Mas o raro e pequeno surto de relevância merece atenção.
Para desqualificar críticas à carga tributária, o presidente lançou mão de um velho truque diversionista a que o governo recorre com frequência: rotular qualquer censura ao peso do Estado na economia como reles "defesa do Estado mínimo".
Desta vez, o argumento de sempre veio em nova embalagem. Para justificar a carga tributária no Brasil, Lula alegou que países onde a arrecadação mal chega a 10% do PIB não têm Estado.
"O Estado não pode fazer nada."
O argumento não convenceu nem mesmo a candidata governista. Tanto Dilma como Serra se viram compelidos a discordar do presidente e externar preocupações com a carga tributária no País.
Não há ninguém defendendo, em sã consciência, que a carga tributária seja reduzida de 36% do PIB para 10%.
Trata-se de discutir como mudar o atual regime fiscal para que, dentro de quatro anos, ao fim do próximo mandato presidencial, o País não esteja arcando com carga tributária ainda mais alta, beirando, quem sabe, 40% do PIB.
Que prioridade o novo ocupante do Planalto poderá vir a atribuir a tal desafio? É bom não alimentar ilusões. Vai ser preciso bem mais do que vagas declarações de preocupação com a elevação da carga tributária.
Sem desmontar os mecanismos subjacentes à expansão explosiva do gasto público, não há como conter a elevação da carga tributária.
É ingênuo esperar que o vencedor da eleição presidencial, seja ele quem for, terá as convicções necessárias para abrir mão dessa possibilidade de aprofundamento da extração fiscal.
Preparem-se, portanto, para nova e substancial escalada da carga tributária nos próximos quatro anos.
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