O Estado de S.Paulo
Quem ocupa o cargo de secretário nacional de Justiça, no exercício do qual comanda áreas estratégicas do Estado - como a de rastreamento de dinheiro ilegal no exterior e o controle da regularidade da situação de estrangeiros no País -, e, além do mais, é presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria não pode ter relações tão estreitas com um cidadão preso há vários meses sob a acusação de comandar uma quadrilha especializada em contrabando de telefones celulares, como tem o delegado Romeu Tuma Júnior com Li Kwok Kwen, conhecido como Paulo Li.
Se, por razões de amizade ou de qualquer outra natureza, tiver esse tipo de relação, não pode ocupar os cargos públicos que ocupa no governo federal.
Ele tem todo o direito de se justificar e as autoridades policiais têm o dever de investigar esse caso em profundidade, para que não restem dúvidas ou suspeitas.
Trata-se de começar, de uma vez por todas, a combater com eficácia a cultura da promiscuidade que prevalece no País, sobretudo no setor público - e, de maneira notável, na área federal.
Já para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não há nada de condenável na relação de amizade entre o secretário nacional de Justiça e o indigitado Paulo Li.
Na opinião do senador do Maranhão (Estado onde efetivamente exerce seu poder político, embora tenha sido eleito pelo Amapá), não têm substância as investigações da Polícia Federal (PF) ligando o delegado a uma pessoa acusada de chefiar "uma das maiores organizações criminosas de São Paulo e, consequentemente, do País". O que há, segundo o senador, são apenas informações sobre a compra de um telefone (por Tuma Júnior, de Paulo Li) e um pedido de emprego para o "genro".
Não haveria nada de mais, de fato, se a compra fosse de um objeto importado regularmente, fornecido por comerciante legalmente estabelecido, e o pedido de emprego não envolvesse pressões sobre funcionários públicos por meio do uso do prestígio do cargo que ocupa.
Paulo Li, de sua parte, tinha livre trânsito na Secretaria Nacional de Justiça e se apresentava como "assessor especial" do órgão. Segundo a PF, Li também ganhava dinheiro fazendo andar mais depressa os processos de emissão de vistos permanentes de chineses em situação irregular no País. Esses vistos são emitidos pelo Departamento de Estrangeiros, subordinado ao secretário nacional de Justiça.
Não são relações e atitudes simples e fáceis de justificar - e até o momento o delegado Tuma Júnior não apresentou justificativas convincentes.
Mas, mesmo que as apresente e comprove que nada tem a ver com as ilegalidades praticadas pelo amigo e que não utilizou o prestígio do cargo que ocupa para beneficiar parentes ou contraparentes, as informações já conhecidas sobre o caso recomendam seu afastamento imediato do cargo - para o qual foi nomeado por razões meramente políticas.
Íntegra : Promiscuidade que condena
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