"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 05, 2010

BRASIL - UMA DESINDUSTRIALIZAÇÃO?

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Há algo estranho no comércio exterior brasileiro.

Sabemos que estamos nos transformando cada vez mais em exportador de commodities - as exportações representam 36,4% da nossa balança -, mas não sabíamos ainda que a indústria está importando cada vez mais matérias-primas e bens duráveis.

Isto é, estamos importando produtos de consumo que também produzimos no País.

Em outras palavras, lembra editorial no caderno de Economia do Estado de ontem,

"isso parece indicar que nossa indústria está se transformando cada vez numa atividade de montagem, importando mais bens e insumos para vender no País, sem chegar a ter uma produção competitiva nos bens de alta tecnologia".


Estamos em parte abastecendo o mercado interno não mais com produtos "fabricados", mas montados com itens importados. Leia-se, produtos da China, entre outros.

Não é uma desindustrialização, como se poderia dizer, mas um empobrecimento relativo da indústria nacional.
É o que revelam os números da balança comercial no primeiro bimestre do ano anunciados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.


COMMODITIZAÇÃO

Há explicações para isso, mas não convincentes.
Afirma-se que é um processo decorrente do excepcional aumento dos preços das commodities nos anos dourados da economia mundial que antecederam à crise.

Houve um crescimento extraordinário nas exportações de produtos agrícolas e minerais, que desde então passaram a dominar a pauta do comércio exterior.

As vendas industriais também cresceram, mas em ritmo bem menor.
O setor de commodities era mais bem estruturado que o setor industrial.


Outro motivo:
a crise atingiu mais duramente a demanda de produtos industriais do que o agrícolas.


São argumentos válidos, mas não explicam totalmente esse aumento das importações (vejam bem, "importações" e não exportações de bens industriais, neste momento em que a economia mundial começa a se recuperar).

CÂMBIO, ETC.

Há ainda o argumento da desvalorização do dólar que favorece as importações, e até ajuda no controle da inflação.
Mas esse é um fenômeno que afeta toda a pauta comercial, desde produtos como commodities a produtos industriais.

Sei que é mais difícil exportar bens acabados, com alto valor agregado, que produtos primários, principalmente num mercado mundial ainda em recuperação.

Isso, porém, não explica nem justifica o aumento das importações de bens intermediários do setor industrial.


No fundo, tudo indica estar havendo uma falta de política industrial integrada, difícil de se obter quando os ministérios não se entendem.

A manter esse clima, a tendência é de que não só a agricultura continuará superando a indústria na área do comércio exterior, como a própria indústria caminha para o que poderíamos chamar de "terceirização".

É um processo ainda incipiente, mas perigoso por ser indolor.


1 BILHÃO DE FAMINTOS

Jamil Chade, correspondente do Estado em Genebra, está lançando hoje, no Shopping Higienópolis, a partir das 19h30, o seu livro O Mundo não é Plano.
A tragédia silenciosa de 1 bilhão da Famintos.

Um livro-análise-reportagem bem documentado sobre o drama da fome no mundo. Destaque especial para suas viagens à África e à Itália, onde viu de perto o desespero dos imigrantes ilegais que tentam fugir da fome.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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