Dias atrás, correu na praça o boato de que um dos dois consórcios de empresas interessados na hidrelétrica de Belo Monte tinha desistido do leilão. Um grupo é encabeçado pela Andrade Gutierrez. O outro, pela Camargo Corrêa e pela Odebrecht.
Não se sabe como a história começou, mas ela se espalhou rapidamente. "Parece que o outro consórcio está fora", disse ao Estado um alto executivo de um dos consórcios. No grupo rival, outro executivo foi mais sutil: "Ouvi também. Mas aqui não foi".
Alimentado pelos dois lados, o boato tem um pouco de provocação contra os adversários. Mas serviu, principalmente, para manter o governo sob pressão.
A 22 dias do leilão, a guerra de nervos é uma prévia do que promete ser a competição por Belo Monte. A divulgação do edital, primeira etapa da disputa, detonou uma descarga elétrica em alguns dos maiores grupos privados do País.
Eles querem sair do leilão do dia 20 de abril carregando embaixo do braço a concessão para explorar a terceira maior hidrelétrica do mundo. Detalhe: as duas maiores usinas, a chinesa Três Gargantas e Itaipu, são estatais.
Belo Monte será, portanto, a maior usina hidrelétrica do mundo controlada por empresas privadas.
O primeiro embate, no entanto, é com o governo. As empresas dizem que a tarifa máxima fixada para a usina, de R$ 83 o megawatt/hora, não remunera o investimento e pedem compensações para fazer frente ao preço que, segundo elas, é baixo.
Na quinta-feira à noite, executivos da Camargo e da Odebrecht trataram o assunto em Brasília com o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. Para hoje está marcada uma nova rodada de negociações, mas entre técnicos do governo e das empresas.
Com custo estimado em R$ 19 bilhões pelo governo e em cerca de R$ 30 bilhões pelas empresas interessadas, Belo Monte interessa a uma gama enorme de empresas. São grandes grupos econômicos com investimentos no setor elétrico, indústrias que têm na energia um dos seus principais insumos e as construtoras, que cobiçam a obra.
Se Belo Monte entrasse em operação hoje, com a tarifa-teto de R$ 83 por megawatt-hora fixada pelo governo, proporcionaria uma receita mínima de R$ 3,3 bilhões a seus donos.
É um sonho para empreiteiros e fornecedores.
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