"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 05, 2009

CALOTES ELEITORAIS



“Garantir segurança pública de qualidade à população.”
Então candidato ao governo do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral assegurava aos eleitores, em sua campanha de 2006, que todo o estado teria policiais “ocupando as ruas de dia, de noite e de madrugada”.

O que afirmou ser um “compromisso”, não uma promessa, caiu por terra à medida que o crime e a violência cresceram, principalmente na capital - com confrontos pesados entre policiais e traficantes, que culminaram na derrubada de um helicóptero por traficantes, em outubro deste ano.

Uma estratégia comum entre os políticos: dizer que o governo anterior aumentou os impostos, que os índices atuais são inadimissíveis e que uma de suas prioridades será reduzir as taxas cobradas da população e fazer o dinheiro do trabalhador render.

Marta Suplicy entrou nesse barco na campanha de 1999, à prefeitura de São Paulo.

Como que tomada por uma amnésia da promessa feita aos eleitores, as medidas colocadas em prática depois da posse em nada lembravam o que havia sido dito pela então candidata.

A história se resume no apelido com o qual ela deixou a prefeitura, ao fim de seu mandato: Martaxa.

“Reduzir o número de impostos” é promessa recorrente entre os governantes brasileiros, talvez porque o peso da carga tributária sempre foi (e ainda é) uma das principais reclamações dos brasileiros.

Fernando Henrique Cardoso repetiu a mesma promessa nas duas candidaturas à Presidência, em 1994 e 1998: garantiu a realização de uma reforma fiscal, que aumentaria a receita e diminuiria o número de impostos.

Mas FHC repetiu o costume dos antecessores e deixou de lado esse compromisso.

A carga tributária brasileira seguiu crescendo. E ao brasileiro continuou restando uma parte pequena demais do salário.

José Serra colocou seus mandatos seguintes em jogo ao garantir aos eleitores de São Paulo que cumpriria integralmente seu período à frente da prefeitura de São Paulo, na campanha eleitoral de 2004.

“Meu propósito, meu compromisso é governar São Paulo (a cidade) por quatro anos”, disse, em um debate na TV, recomendando aos eleitores que não votassem mais nele caso descumprisse a promessa.

O eleitor não seguiu a orientação do tucano.

Dois anos depois de eleito à prefeitura, ele se candidatou ao governo paulista - e venceu.

“Lutar contra a corrupção e melhorar a vida do povo”.

Esse era o slogan repetido pela trinca de ases do PT  Marta Suplicy, José Dirceu e José Genoino  na campanha de Lula em 2002.

E o então candidato completava:
“A turma do PT só pensa nisso”.

O discurso vinha sendo exaustivamente usado desde os tempos de sindicalismo. Lula é, então, eleito para o primeiro mandato de presidente.

E a estrela do PT, até então incorruptível, se trinca com denúncias como a do mensalão, derrubando os altos nomes do partido, como Dirceu e Genoino - acusados de comandar o esquema de suborno de parlamentares.

Quando não pode mais permanecer calado e alheio às denúncias, Lula defende-se dizendo que não sabia de nada.

“É essa injustiça, uns ganhando tanto, outros tão pouco, que vamos corrigir quando eu chegar à Presidência.”

Com essa promessa, o então candidato Fernando Collor iniciou um de seus programas na campanha de 1989, quando garantiu que tiraria qualquer “corrupto e boa vida” do governo.

Mas o homem que surgiu para o cenário nacional como “caçador de marajás” marcou seu nome na história política brasileira como o primeiro presidente afastado por impeachment, depois de uma série de denúncias de corrupção feitas por seu irmão Pedro Collor em entrevista a VEJA.

Ao pedir “mais um voto de confiança” à população, Lula abre seu programa eleitoral, rumo ao segundo mandato, afirmando:
“Ao assumir o governo, uma das minhas primeiras providências foi reforçar o combate ao crime e à corrupção”.
Ele diz que, na verdade, o que aumentou não foi a corrupção, mas sim o combate a ela.

Depois desse exercício de retórica, ele diz que a “luta” continua “doa a quem doer” e que “todos os culpados, sejam quais forem, serão exemplarmente punidos”.
O presidente, no entanto, rasga o compromisso. O presidente do Senado, José Sarney, se mete numa teia de escândalos difícil de se safar.
Quando a oposição começa a pedir sua renúncia, Lula reúne a cúpula do PT e ordena: “É para salvar o Sarney”.
Fonte e Imagens: Veja.com (Leia mais aqui....)