Grampo derruba a versão de Sarney sobre fundação
Sérgio Lima/Folha
O Senado camuflou os detritos que se acumularam na porta do seu presidente.
Ninguém se atreve a estragar a festa da família, todos tem passado e rabos "presos".
Todos os sapos tem de ser engolidos e digeridos.
Pra salvarem os próprios pescoços.
Mas a sujeira,de tão grande, continua vazando :
- Conversas telefônicas e e-mails interceptados pela Polícia Federal demonstram que Sarney participa da rotina da fundação que leva o nome dele.
- Nos grampos, as vozes do presidente do Senado e de uma de suas netas, Ana Clara, advogada da Fundação José Sarney.
- 27 de fevereiro de 2008: "Olha, vai te ligar o [empresário] Richard Klien que também quer nos ajudar tá..."
“...Diz [a ele] que nós precisamos para a manutenção do convento [sede da fundação]. Que tem que pagar INSS...”
“...Veja quanto ele quer nos ajudar. (...) Dá o número da conta [bancária] da fundação".
- No mesmo telefonema, Sarney informa a Ana Clara: "Já falei com o Iphan". Vem a ser o órgão público que custeia a preservação de prédios históricos.
Prédios como o Convento das Mercês, assentado em São Luís, onde funciona a sede da Fundação José Sarney.
- Richard Klien, o empresário com quem Sarney negociava doações à fundação, atua no ramo de transportes portuários.
Numa de suas empresas, a Santos Brasil, Klein é sócio do banqueiro Daniel Dantas, o Investigado-geral da República.
Amigo da família, Klien "contribuí" verbas, em 2006, nos cofres eleitorais de José Sarney (R$ 270 mil) e nos de Roseana Sarney (R$ 240 mil).
- Dois dias depois de conversar com o avô-senador, Ana Clara recebe um telefonema de Klien. "Meu avô disse que você iria ligar", ela diz.
E ele: "Estou analisando como posso ajudar com a fundação e te pergunto: tem Lei Rouanet [que permite descontar patrocínio no Imposto de Renda] nisso?"
Ana Clara responde:
"Não. A gente tem até um projeto, mas a gente está fazendo com a Petrobras para digitalização do acervo de artes e livros".
- No início de março, Ana Clara avisa ao avô que Klien, como previsto, lhe telefonara.
O celular dela estava sob monitoramento da PF por conta de investigação aberta contra Fernando Sarney, o filho do senador que cuida dos negócios da família.
- Depois de quatro dias, o empresário Klien volta a tocar o telefone para Ana Clara. "Vou viajar semana que vem talvez e tava querendo deixar a primeira remessa pronta...”
“...Vou te mandar entre 70 e 100 mil". Recorre a uma metáfora alimentícia para dizer que a remessa seguiria em parcelas: "Vou cortar a linguiça em pedaços".
- Fora os telefonemas, a PF capturou e-mails de Ana Clara. Um deles, datado de 7 de agosto de 2008, é endereçado a Sarney.
-. Na mensagem, a neta informa ao avô sobre decisões que seriam tomadas em reunião da Fundação José Sarney.
-. Ela fornece detalhes sobre a destituição de membros do conselho curador da fundação.
- "O único receio aqui é que não há prova da efetiva convocação desses membros, e a Promotoria pode alegar que eles não foram convocados e, assim, não poderiam perder os mandatos", Ana Clara anotou.
- A neta sugere a Sarney a obtenção de cartas de renúncia de conselheiros. "O que o sr. acha?".
A fórmula sugerida seria adotada no dia 19 daquele mesmo mês.
- A troca de telefonemas e o e-mail evidenciam que o presidente do Senado participa do dia a dia da fundação que traz seu nome enganchado na logomarca.
- Evidência de que Sarney mentiu ao Senado: "Nunca tive nenhuma função administrativa na fundação fundada por mim", discursara, o senador, no plenário, em 5 de agosto passado.
- No discurso, Sarney tentara tomar distância de malfeitos pendurados nas manchetes daqueles dias.
O principal deles envolvia um patrocínio da Petrobras.
- Coisa de R$ 1,34 milhão. Dinheiro provido pela para recuperar o acervo da fundação.
Um pedaço da verba foi parar na caixa registradora de empresas que ou não explicaram que serviços prestaram ou que são ligadas à família Sarney.
- Procurado, Sarney reiterou que está afastado da gestão da fundação. Sua assessoria repassou à Folha uma tentativa de resposta.
- “Ajudar na captação de recursos e dar opiniões sobre temas de importância da fundação demonstram apenas o apreço do presidente José Sarney pela instituição.
Mas está longe de caracterizar participação na sua administração".
- Em condições normais, a mentira constituiria quebra de decoro parlamentar. Em 2000, uma inverdade pronunciada pelo então senador Luiz Estevão custara-lhe o mandato.
No caso de Sarney, porém, já não parece haver quem tenha moral e isenção para se pronunciar e acabar com a imundície enterrada sob o tapete." Tudo não passa de “campanha da mídia”.
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