"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 10, 2015

LENHA NA FOGUEIRA


A cada tentativa de criar algum fato político favorável ao governo, Dilma piora sua situação. Ela não compreende que as manifestações são atos espontâneos de indignação
A inépcia de Dilma Rousseff para governar o país é evidente e está comprovada em números. Já sua incapacidade de comunicar-se com a população revela-se episodicamente: basta ela abrir a boca em público. É certo que, a cada tentativa de estabelecer algum fato político favorável ao governo, a presidente piora sua situação, como aconteceu no domingo.

A pretexto do Dia Internacional da Mulher, a petista usou rede nacional de rádio e televisão para defender as medidas do arrocho fiscal. Foi tão enganosa e insincera que colheu, em tempo real, uma das mais explícitas desaprovações que se tem notícia no país, um panelaço gigante. Pôs mais lenha na fogueira da insatisfação contra ela.

Mostra de sua inépcia, no dia seguinte ao pronunciamento Dilma estava falando às câmeras de TV sobre o risco de sofrer impeachment, com o que ganhou todas as manchetes do dia. Ou seja, o enredo saiu totalmente do script bolado pelo marketing petista.

Os protestos que se vê e ouve nas ruas são sinais da cidadania. São manifestações democráticas, dentro dos limites institucionais, que ecoam a indignação dos brasileiros com o estado atual das coisas. Mas para Dilma e o PT não passam de afrontas ao poder constituído.

Para a presidente, trata-se de coisa de quem busca um "terceiro turno" para as eleições que ela, com todas as suas armas sujas, venceu em outubro passado. Para o PT, são mera "orquestração de viés golpista" promovida pela "burguesia" e pela "classe média alta". É esta, pois, a maneira como eles convivem com o contraditório.

O que Dilma e a turma dela parecem não haver compreendido é que as manifestações são atos espontâneos de quem não suporta mais a incapacidade latente do governo para lidar com o momento de dificuldade que o país atravessa. Mais: de quem não aguenta mais ligar a TV e ver que o comando do país vem sendo movido à base de grossa corrupção.

Com sua inépcia para tratar do momento delicado, Dilma está conseguindo transformar o que era dificuldade econômica numa crise política. Os descaminhos do governo da petista aumentam o custo do ajuste e dificultam ainda mais a vida de quem trabalha e produz.

Haja vista que todos os prognósticos para a economia do país pioraram desde que a presidente iniciou seu segundo mandato. A inflação aproxima-se dos 8%, longe até do teto da meta. O crescimento será negativo, com previsão agora já na casa de -0,7% - mas é possível que o tombo acabe sendo o dobro disso.

Desnorteada, a presidente da República novamente recorrerá a seu tutor. Mas é certo que não será nos maus conselhos de Lula que Dilma encontrará alguma luz a iluminar seu governo. Seria melhor que ela interpretasse melhor o que vem das ruas, antes que não lhe sobre mais tempo algum.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

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