"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 15, 2014

Empresas formavam espécie de 'clube vip' - Oito das nove empreiteiras da Lava Jato doaram R$ 182 milhões para campanhas eleitorais


Oito das nove empreiteiras que foram alvo da mais recente fase da Operação Lava Jato doaram, juntas, R$ 182 milhões para as campanhas eleitorais em 2014. 

O número leva em conta apenas os valores declarados pelos candidatos aos parlamentos estaduais e federal e pelos candidatos a cargos executivos que não passaram para o 2º turno – isso porque eles já enviaram suas prestações de contas completas para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Assim, o valor final deve ser ainda maior, já que as declarações de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), por exemplo, ainda não foram finalizadas. Apenas a Iesa Óleo e Gás não teve doações registradas entre as nove empresas sob suspeita. 

A que mais desembolsou foi a Construtora OAS, a segunda maior doadora neste ano: R$ 56,7 milhões. Em seguida, vêm a Queiroz Galvão (R$ 42 milhões) e a UTC Engenharia (R$ 35 milhões). Todas as outras doaram mais de R$ 5 milhões, com exceção da Mendes Júnior – há apenas uma doação de R$ 200 mil.

Por Rodrigo Burgarelli/Estadão

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As nove principais empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato formaram um "clube" para desviar recursos de obras públicas, segundo depoimentos dos delatores do esquema. Na Petrobrás, o cartel fraudou licitações e superfaturou contratos em pelo menos nove grandes empreendimentos, mediante o pagamento de suborno a dirigentes. O ex-diretor de Serviços Renato Duque, preso ontem, recebeu propinas de até R$ 60 milhões, conforme relataram os executivos da Toyo Setal Júlio Camargo e Augusto Mendonça de Ribeiro.

Aos investigadores, Mendonça disse que na obra de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), por exemplo, ele negociou o pagamento de propina diretamente com Duque. Segundo ele, já existia um entendimento entre o então diretor de Serviços e Ricardo Pessoa (presidente da UTC) de que todos os contratos do "clube" deveriam ter contribuições. "O declarante negociou propina diretamente com Duque e acertou pagar a quantia de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões, o que foi feito entre 2008 e 2011. Duque tinha um gerente que, agindo em seu nome, foi quem mais tratou com o declarante, chamado Pedro Barusco", descreve o Ministério Público Federal em seu relatório. Autoridades da Suíça bloquearam US$ 20 milhões em nome de Barusco.

No pedido de prisão enviado Justiça, o Ministério Público diz que houve repasses do "clube" ao ex-diretor nas obras, além da Repar, do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), dos gasodutos Urucu-Manaus e de Cabiúnas, de sondas de perfuração, além das refinarias de Paulínia (SP), Abreu e Lima (PE) e Henrique Lage (SP). O "clube" ainda mantém contratos de R$ 4,2 bilhões em vigor com a Petrobrás. "Caso seja pago o porcentual de 3% de propina em todos eles, o valor do desvio de recursos atualmente acontecendo será de aproximadamente R$ 120 milhões", destacam os procuradores encarregados da investigação.

Paraísos fiscais. 
Segundo os dois delatores, o dinheiro das propinas era pago pelas empreiteiras, via offshores em países no Uruguai e a Suíça, a empresas indicadas pelo doleiro Alberto Youssef, apontado como o responsável pela lavagem dos recursos desviados. Em seguida, eram repassados ao ex-diretor ou ao gerente Pedro Barusco, seu subordinado na Petrobrás.
Não raro, os pagamentos eram feitos em espécie.

Nos depoimentos, os delatores do esquema - que esperam ter suas penas reduzidas após a colaboração com a Justiça - disseram que o cartel das empreiteiras funciona ao menos desde os anos de 1990 fraudando contratos. Entre elas, havia um grupo de VIPs, supostamente formado por Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e OAS, que tinha maior poder de "persuasão" para ficar com os melhores contratos.

"Com esse poder de persuasão, o clube Vip garantiu a refinaria Rnest (Abreu e Lima) só para eles", disse Augusto Mendonça aos investigadores.

Fabio Fabrini e Andreza Matais - O Estado de S. Paulo

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