"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 14, 2014

Grupos investigados na Lava Jato movimentaram R$ 90 mi para empresas de Youssef, diz PF. Investigações da Polícia Federal apontam existência de acordo prévio entre as empresas para definir vencedores de contratos da Petrobrás

A Justiça Federal de Curitiba identificou pagamentos de R$ 90 milhões das empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato às empresas controladas por Alberto Youssef. O doleiro seria o responsável por repassar os recursos desviados da Petrobrás a partidos políticos, empresários e outros beneficiados do esquema de corrupção. Os pagamentos eram justificados como pagamento a serviços terceirizados de consultoria financeira e técnica mas, de acordo com as investigações, as empresas controladas por Youssef não exerciam qualquer atividade econômica e funcionavam apenas como fachada para a lavagem do dinheiro. 

Entre as movimentações suspeitas aparecem depósitos de US$ 4,8 milhões feitos pela OAS African Investments Limited em três parcelas entre maio e agosto de 2013. Os recursos foram depositados em uma conta em agência do PBK Bank, na Suíça, em nome da empresa de serviços off-shore Santa Thereza Services, que também seria controlada pelo próprio Alberto Youssef. Além do depósito, foram localizadas transferências de R$ 5,5 milhões feitas por consórcios liderados pela Mendes Junior, que teve o vice-presidente preso durante as operações da PF desta sexta-feira. Também há depósitos da Investminas (R$ 4,3 milhões), da construtora OAS (R$ 1,6 milhão) e Engevix (R$ 3,2 milhões), entre outros. 

De acordo com o relatório, que embasou as prisões e investigações deflagradas pela Polícia Federal nesta sexta-feira, as investigações indicaram que "as maiores empreiteiras do País formariam uma espécie de cartel, definindo previamente as vencedoras das licitações da Petrobrás, o que lhes permitia cobrar o preço máximo da empresa estatal, e que pagavam um porcentual, de 3% ou 2%, sobre o valor dos contratos a agentes públicos". 

O documento relata que os valores desviados da estatal eram repassados pelos consórcios de empreiteiras a empresas terceirizadas e fornecedoras de equipamentos. Estas, então, repassavam os valores a empresas controladas por Alberto Youssef, como a MO Consultoria e a GDF Investimentos, simulando a execução de serviços de consultoria.

Contas. 
Somente o Grupo Sanko teria movimentado mais de R$ 33 milhões para as contas do doleiro. O grupo possui contratos de mais de R$ 3 bilhões para fornecimento de tubulações para obras da estatal. Um dos executivos do grupo, Márcio Bonilho, em depoimento prestado na Justiça Federal, confirmou o relacionamento e os repasses ao doleiro. O relatório apresenta trechos do depoimento em que descreve Youssef como alguém de "credibilidade boa", que "abria portas" e andava com pessoas "tomadoras de decisão" em relação aos contratos.

"Saímos tentando vender esse projeto, eu conheci o Alberto Youssef, se eu não me engano uns quatro ou cinco. (...) Ele era uma pessoa que gozava de uma credibilidade boa nesse setor e ele andava com pessoas tomadoras de decisão (...). Eu coloquei a possibilidade, ele falou de uma possibilidade de pagar comissões para ele, eu fechei o negócio e aconteceram as comissões", diz o trecho. Em outra passagem, Bonilho afirmou que o doleiro tinha relações com diretores das empreiteiras e marcava reuniões com o executivo.

"Ele apresentava, marcava uma reunião, eu era recebido, fazia a apresentação técnica e nós tentávamos fazer a venda. Eu fechei negócios com o CNCC, fechei negócios com o Conest, fechei negócios com a UTC, fechei negócios com Engevix, com o Estaleiro, fechei... Não recordo todos, mas fechei meia dúzia de negócios, assim, com 10 empresas distintas", completou o trecho.

Assinatura. 
O relatório é assinado pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná, responsável pelo caso. O documento apresenta uma planilha resultado de perícia elaborada no decorrer das investigações a partir de informações obtidas com a quebra do sigilo fiscal e bancário das empresas. Também foram investigadas "planilhas de contabilidade informal" do doleiro citando "comissões e repasses", mas sem identificar beneficiários. Os depósitos teriam ocorrido entre 2009 e 2013, período em que foram identificadas as irregularidades na Petrobrás.

Os depoimentos de funcionários das empresas do doleiro Alberto Youssef também indicaram que os contratos não eram efetivamente cumpridos e que as empresas apenas forneciam notas fiscais. "Não foi colhida qualquer prova de que as referidas empresas MO Consultoria, GDF Investimentos, Empreiteira Rigidez e RCI Software prestassem, de fato, alguma espécie de serviço de consultoria ou mesmo que tivessem quadro especializado de empregados ou terceirizados aptos a atender consultorias técnicas para as maiores empreiteiras de obras do Brasil", completa o juiz Sérgio Moro.

ANTONIO PITA - O Estado de S. Paulo

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