A inflação deve encerrar o ano acima do teto da meta do governo, segundo a mediana das estimativas de economistas do mercado financeiro que mais acertam projeções de inflação no médio prazo. De acordo com o chamado "top 5" do relatório Focus, do Banco Central, o IPCA ficará em 6,57% em 2014, enquanto o limite estabelecido pelo governo é de 6,5%. Na semana passada, o mesmo grupo esperava alta de 5,99% para este ano.
Na mediana de todas as projeções do Focus, a previsão também aumentou, de 6,11%, na semana passada, para 6,28%. É a projeção mais pessimista desde janeiro de 2012, quando esperava-se alta de 6,5% para o IPCA de 2011.
Para o economista Adré Perfeito, da Gradual Investimentos, o aumento joga “um balde de água fria” na política monetária do Banco Central, que diminuiu recentemente o ritmo de altas da taxa básica de juros, elevando a meta da Selic em 0,25 ponto percentual, em vez dos aumentos de 0,5 ponto percentual que viam sendo realizados no ano passado.
“O relatório Focus divulgado hoje joga um balde de água fria na homeopatia monetária do BCB e vai forçar o Copom a subir pelo menos mais duas altas de 25 pontos base na Selic. Não há escapatória para a Autoridade Monetária. Ao invés de ter dado uma alta de 50 (pontos base) na ultima reunião e ter ancorado assim parte das expectativas, o BCB decidiu diminuir o ritmo frente os desafios existentes para o nível de atividade e assim deixou aberto o flanco das expectativas”, avaliou o analista, em comunicado enviado a clientes.
Para Mauro Rochlin, economista e professor do Ibmec-RJ, a alta nos alimentos foi uma das surpresas que contribuíram para aumentar as projeções do mercado. Na prévia da inflação divulgada na sexta-feira pelo IBGE, o grupo foi um dos principais responsáveis por puxar para cima o IPCA-15 de março, que ficou em 0,73%. Só o tomate, por exemplo, subiu 28,53%.
— O IPCA-15 veio acima das expectativas, o que piora as previsões para o ano. Houve uma pressão de alimentos que não estava no radar — afirmou o especialista, que destaca também a pressão dos chamados preços administrados, controlados pelo governo, que podem surpreender "ainda que não haja expectativa de alta acentuada de preços de gasolina e energia até as eleições".
Os dados são divulgados a pouco mais de uma semana do início da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 1º e 2 de abril. A mediana das estimativas do Focus desta segunda-feira prevê que a Selic encerre o ano em 11,25%. Como a meta da Selic está em 10,75% ao ano, a projeção significa que o mercado espera mais dois aumentos de 0,25 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom.
MARCELLO CORRÊA
O Globo
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