As comemorações do Halloween foram embora e as festas de fim de ano já começam a pedir passagem. Para o governo, essa fase de encerramento do ano vai continuar, contudo, sendo dominada pelas travessuras deixadas pelos seus magos financeiros e rasputins palacianos, chefiados pela economista e presidente Dilma Rousseff. Tal qual o bruxinho Mickey, naquele clássico das animações Disney, ela achou que poderia usar os seus poderes a favor de atalhos rumo a tal “nova matriz econômica”. Mas as consequências ficaram incontroláveis e se voltaram contra tudo e todos.
Entre os desfechos mais recentes dos equivocados abracadabras sobre os negócios e as finanças do país está a transformação do príncipe das bolsas de valores, Eike Batista, em um sapo difícil até mesmo do Planalto engolir. O campeão nacional escolhido por Dilma para brilhar em seu reino encantado desapareceu como passe de mágica, deixando petrificados credores de todos tamanhos, incluindo órgãos federais. “Foi só um acidente”, desculpa-se Luciano Coutinho, um dos velhos mestres do Hogwarts keynesiano.
A exemplo do ocorrido na Era Geisel (1974-1979), o desenvolvimentismo dilmista está presenteando a próxima gestão com pressões inflacionárias, contas públicas desarranjadas e dívidas internas e externas em níveis desconfortáveis como não se via há um bom tempo. O mérito de Lula, como antecessor e feiticeiro titular, foi justamente não ter cedido às tentações de virar a página do livro de poções para tentar mudar a realidade conforme o seu discurso ideológico.
Seu populismo tomou assento, mas as estripulias econômicas se limitaram a abusos fiscais, como reajustes generosos ao funcionalismo, conta deixada para sua sucessora, entre outras heranças malditas. Graças aos bruxos do marketing, as transmutações políticas sofridas pelo líder supremo do PT só o deixaram mais popular, mesmo passando de inimigo a admirador de Sarney e, mais ainda, de ex-crítico dos programas de transferência de renda no patrono deles, resumidos no cálice do Bolsa Família.
É por essas razões que, não por acaso, quando a rival Marina Silva (PSB) — a heróica fada madrinha da floresta tropical — aponta a sua varinha de condão para Dilma e cobra uma marca da atual administração, o espelho mágico do Planalto fica mudo. O que era para ser “a” virada sobre os tempos de FHC e Lula — uma espetacular derrubada dos juros mediante escancarado ativismo do chefe do Executivo nas decisões do Banco Central (BC) — acabou sendo engolido pelos efeitos colaterais de outras pretensiosas e mal-sucedidas manipulações.
A autonomia perdida do BC só não foi pior que a mínima autonomia de caixa perdida pela Petrobras, cuja diretoria agora esbraveja em público, pedindo o direito de continuar de pé. O tabelamento do preço dos combustíveis em nome de um combate improvisado da inflação foi um fardo pesado demais para a maior empresa do país suportar. Na mesma linha, começam a sair dos armários esqueletos de decisões erradas e a emergir dos balanços do Tesouro e da balança comercial números monstruosos, mesmo com tanta maquiagem contábil em cima.
Outra esperança sinalizada pela aprendiz de feiticeiro do Palácio do Planalto sucumbiu logo, afogada pelo pragmatismo político-eleitoral. Sua vassoura ética parecia que iria voar alto, mas acabou empurrando as mazelas da máquina pública para debaixo do tapete da histórica e deixando que novos entulhos acumulassem pelos cantos da sala.
Mas é na economia que os abusos recentes cometidos contra a ordem natural das coisas cobra e cobrará cada vez mais caro. O fantasma do intervencionismo estatal e regulatório já espantou muito investidor estrangeiro, como ficou evidente no resultado do leilão de Libra, o primeiro do pré-sal dentro das regras da partilha. O ousado pacote de concessões de ferrovias, rodovias, portos e aeroportos, lançados em série há mais um ano, também não está conseguindo avançar a contento, apesar dos ajustes de última hora. O jeito é pedir ao cabo eleitoral número que tente encantar o setor privado.
Brasil S.A Correio Braziliense
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