"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 26, 2013

QUANDO A REPÚBLICA É TORPE... Restos a roubar

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O Orçamento público, com merecido O maiúsculo, deveria ser tratado como algo sagrado. É esse dinheiro que completa a aposentadoria do velhinho morador do grotão, que abre leito numa UTI neonatal para o bebê da favela e que compra remédios caríssimos para o soropositivo pobre. Mas o uso legal (nos dois sentidos) dos recursos da União que restam após os salários dos servidores serem depositados e dos juros mensais da trilionária dívida com bancos serem pagos é diariamente ignorado. E autoridades de todos os escalões continuam a perpetuar práticas denunciadas há décadas.

Numa mão, a má gestão e a falta de planejamento fazem escorrer suadas verbas recolhidas do contribuinte pelo mal cheiroso ralo do desperdício. Noutra, os corruptos posicionados dentro e fora da máquina de governo insistem em embolsar cada vez mais o que é de todos os brasileiros. Nem mesmo o humanitário programa Fome Zero escapou da avidez dos inescrupulosos. Graças a Deus que surgem, de tempos em tempos, operações independentes da Polícia Federal para nos situar sobre o quão deteriorada está a maioria das administrações governamentais.

A revolta com os fatos exibidos pelas manchetes dos jornais tende ainda a crescer ou a virar desânimo quando, meses e até anos depois, a punição aos ladrões desmascarados em frente às câmeras é branda ou nula. Isso tudo apesar do marketing dos agentes policiais e dos protestos populares. Não é por acaso que frases como "este país não tem mesmo jeito" ou "só no Brasil mesmo para uma coisa dessas" voltaram a circular com mais intensidade nas últimas semanas. E dá-lhe asfalto novo sobre ciclofaixas recém-pintadas e carrões de doleiros 

apreendidos pela PF.

Para piorar o quadro, políticos e funcioná
rios interessados em fazer algo para defender o erário e elevar a eficiência dos serviços prestados ao cidadão são punidos pelos próprios colegas, vaidosos e invejosos dedicados só ao umbigo. É igual àquela metáfora do caranguejo. Sozinho, ele se debaterá até agarrar a borda e conseguir sair.

Mas basta ser colocado com outr
os para ser tragado pelo individualismo alheio. Nosso herói até conhece o caminho da liberdade, mas logo outro vai vê-lo como escada e puxá-lo para baixo — infinitamente. No caso dos barnabés, quem se destaca é fuzilado pelo corporativismo.


Silvio Ribas Correio Braziliense

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