"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 12, 2013

A carestia real


Os petistas sempre encararam a inflação como um mal menor. No governo, continuaram a tratá-la como se fosse assunto do interesse apenas de iniciados, do "mercado" ou de obsessivos por percentuais e vírgulas.
 

Desdenharam do principal:
quem mais perde com a alta generalizada de preços são os mais pobres. A inflação é a mais perversa das formas de injustiça social.

Como quem observa a caravana passar, a gestão petista foi vendo os preços escalarem no país, sem ladrar. Desde junho do ano passado, a inflação acumulada em 12 meses veio subindo, até que, em março, ultrapassou o teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional. 

 
Neste ínterim, o governo da presidente Dilma Rousseff só olhou.

Aos poucos, a aceleração dos preços foi ficando incômoda. 
Primeiro, minou o ímpeto dos investidores e dos empresários. 
Se o governo do país não se importa com a inflação, como acreditar na saúde e no futuro de sua economia?

Depois, começou a afetar a confiança dos consumidores, ressabiados com a carestia que viam nas gôndolas, mas na qual ainda se recusavam a crer. E o governo só olhando...

 
Os efeitos foram, então, se disseminando por toda a chamada economia real: serviços, alimentos, combustíveis, bens de consumo. Tudo foi ficando pela hora da morte, deixando as pessoas cada vez mais assustadas. 

O Brasil tornou-se um país muito caro, os preços não param de subir e a dificuldade para sobreviver apresenta-se com todas as suas cores escuras.
 

Os supermercados começaram a esvaziar.

Agora, até o consumo, que ao longo dos últimos anos funcionou como motor do crescimento econômico (aquele que não existiu nos anos Dilma), sente o baque. Em pesquisa
divulgada ontem, o IBGE mostrou que as vendas do comércio varejista caíram 0,4% em fevereiro na comparação com janeiro passado e 0,2% sobre fevereiro de 2012, no primeiro resultado negativo desde novembro de 2003, ou seja, em quase dez anos.

Num reflexo direto da escalada de preços (subiram 13,5% em um ano), alimentos e bebidas estão entre os itens que tiveram as maiores quedas de consumo. "A demanda está diminuindo porque o preço está subindo", resumiu uma técnica do IBGE.


Sua lógica linear e cristalina deveria ser incutida na cabeça dos comissários petistas; até obviedades assim, eles têm dificuldade de compreender.

O governo petista vem tratando a inflação como se fosse uma febrezinha ou uma virose (afinal, qualquer mal-estar hoje é uma virose...). Ministrou-lhe umas dipironas, uns antitérmicos, mas o bicho continuou lá, fazendo estragos no organismo, sem ser incomodado. 
Medicado à base de placebo e paliativo, foi virando doença crônica.  
Tornou-se um monstrão. 

A inflação brasileira está alta e é bem maior do que em países como Chile (1%),
Colômbia (1,8%),
México (3,6%),
EUA (2%)
ou mesmo da zona do euro (1,7%).


Nosso índice geral acumula aumento de 6,59% nos últimos 12 meses e já há um bom tempo não se comporta como o Banco Central prometeu que se comportaria.

Com isso, o comportamento dos agentes econômicos, agora mais especificamente dos consumidores, também foi sendo afetado. A inflação em alta, sem a correspondente vigilância do governo, foi elevando nas pessoas o receio de consumir, diminuindo-lhes o ímpeto de investir e incutindo-lhes a expectativa de que pior do que está pode ficar.

Olhando para o futuro com ceticismo e vendo que o governo mal se importa se os preços continuam subindo mais do que a meta com havia se comprometido, o ressabiado consumidor incorporou as más expectativas ao seu comportamento.

Percebeu que a inflação decolou e mudou de patamar, para pior, e assumiu atitude que termina por jogar gasolina na fogueira da carestia.

Está acontecendo o óbvio:
inflação aleija,
estropia o consumo,
mutila a capacidade de produzir.


A consequência é ainda mais óbvia: 
golpeada pela alta disseminada dos preços, a atividade econômica padece. Como, aliás, mostrou a prévia do PIB divulgada nesta manhã pelo Banco Central, apontando queda - mais uma - de 0,52% na atividade econômica em fevereiro.

Depois de desdenhar da inflação, insistir em profilaxias equivocadas (como desonerações discricionárias e reduções tarifárias artificiais), aferrar-se a visões ultrapassadas e agir a esmo, ao governo Dilma resta agora como única arma o aumento dos juros - que, por sua vez, tente a esfriar um pouco mais o consumo e a manietar um tanto mais o já trôpego crescimento do país.


 
É o beco sem saída no qual a gestão petista, que não entendeu o mal maior que a perda da estabilidade da moeda representa, se meteu e do qual não sabe como escapar.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

A carestia real

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