"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 18, 2013

Reforma eleitoral


O mais notável na mais recente mudança ministerial do governo Dilma talvez tenha sido a data em que os novos ministros assumiram seus cargos. Em Brasília, sábados não costumam combinar com cerimônias oficiais. Afora esta esquisitice, nada vai mudar na Agricultura, no Trabalho ou na Aviação Civil. 
O que já era ruim não tem risco de melhorar.

Não se consegue identificar nenhum critério de mérito que justifique os nomes escolhidos pela presidente da República para cuidar da área que rende o maior volume de divisas para o comércio exterior do país, para a pasta que deveria zelar pela manutenção dos empregos dos brasileiros ou para o órgão que deveria impedir que um apagão nos aeroportos leve o país a dar vexame na Copa do Mundo.

Mas, obviamente, é fácil ver que dar um ministério mais parrudo ao PMDB, voltar a abrigar a ala mais poderosa do PDT no governo e incluir mais um mineiro na Esplanada tem tudo a ver com as aspirações eleitoreiras de Dilma Rousseff. O único objetivo é distribuir nacos de poder, garantir apoios e tempo de TV na disputa do ano que vem. 
Governar bem é o que menos importa.

"Nessa perspectiva é que se enquadram as mudanças que equivocadamente são chamadas de reforma. Não mudam coisa alguma, não visam à melhoria de desempenho, não atendem a um projeto delineado de país e a maioria das pastas não tem importância", comentou Dora Kramer n'O Estado de S.Paulo de ontem.

Pergunte-se, por exemplo, o que esperar de Antônio Andrade. Sua pasta tem a função de administrar a colheita da maior safra de grãos da história, mas mostra-se incapaz de garantir a armazenagem dos estoques e não tem a mais vaga noção do que fazer para enfrentar o apagão logístico que toma conta do país.

O que será que Manoel Dias tem em mente para fazer com que o país passe a gerar oportunidades de trabalho melhor remuneradas e não só empregos que pagam menos de dois salários-mínimos? 
Teria o preposto de Carlos Lupi alguma proposta para evitar que o FAT continue a ser sangrado para financiar empresas escolhidas pelos donos do poder?

E Moreira Franco: 
terá desenvolvido na sua antiga Secretaria de Assuntos Estratégicos planos tão mirabolantes para ajudar o país que agora o credenciam a ser escalado para dar um jeito nos aeroportos que não funcionam? Será que sua missão será inventar um novo jeito de privatizar sem dizer que está privatizando e depois rasgar o modelo para nunca mais usar porque só atraiu operador de quinta categoria?

Todas estas perguntas podem parecer meras provocações, mas se justificam num governo que atingiu o assombroso número de 39 ministérios, uma "burrice", uma "loucura", uma "irresponsabilidade"que já foi longe demais, como disse Jorge Gerdau à Folha de S.Paulo na sexta-feira.

Para manter esta mastodôntica estrutura, incluindo a da Presidência, só neste ano serão gastos R$ 212 bilhões apenas em salários e outras despesas de custeio, como viagens, alimentação e material de escritório, de acordo com a edição da revista Veja da semana passada.

Não há a menor sombra de dúvida que o governo petista age, única e exclusivamente, para perpetuar-se no poder. Uma máquina de 39 cabeças que engole duas centenas de bilhões de reais todos os anos para existir não se presta a servir melhor à população. 
Presta-se a produzir votos, apoios partidários e a manter o domínio de um grupo político sobre o país. 
Custe o que custar.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
 Reforma eleitoral

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