Assim como o cinema, com o Framboesa de Ouro, a política nacional também tem uma premiação para os piores do ano: o Troféu Algemas de Ouro destaca as personalidades acusadas de corrupção, citadas em voto aberto na internet.
Em sua segunda concorrida edição, nomes como o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e do empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta Construções, estão entre os mais votados.
Os três estão envolvidos em dois episódios que marcaram a cena política em 2012:
o julgamento do mensalão e a CPI do Cachoeira, que investigou o envolvimento de políticos e empresários com o bicheiro.
O concurso está na reta final. Usuários do Facebook têm até o dia 15 para eleger a personalidade mais corrupta de 2012. Para votar, basta acessar a página neste link.
Campeão isolado de 2011, com 60% dos 7 mil votos, o senador José Sarney ficou de fora da lista deste ano. Segundo a organização da disputa, a decisão foi tomada para estabelecer uma briga mais equilibrada, como pediram os próprios internautas. Mesmo assim, Sarney não será esquecido: ele será homenageado como hors concours.
No entanto, a ausência de Sarney não evitou um novo desequilíbrio. Desta vez, é o ex-presidente Lula que tem a preferência absoluta dos internautas, com 4.194 votos até as 9h30m desta terça-feira. Em segundo lugar, e forte candidato ao prêmio Algemas de Prata, aparece o ex-senador Demóstenes Torres, com 1.433 votos computados no mesmo horário.
Na edição anterior, com 20% da preferência, o ex-ministro José Dirceu levou o Algemas de Prata. No julgamento do mensalão, Dirceu foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos e dez meses de prisão pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa, além de ter sido apontado como chefe do esquema.
Já as Algemas de Bronze podem ficar com o deputado Eduardo Azeredo, réu do processo do chamado mensalão mineiro, que soma 369 votos até esta manhã.
No ano passado, a posição foi conquistada pela deputada federal Jaqueline Roriz, que apareceu em um vídeo recebendo dinheiro do delator do mensalão do DEM no DF, Durval Barbosa.
A eleição é uma iniciativa do Movimento 31 de Julho contra a Corrupção e a Impunidade. Marcelo Medeiros, coordenador da entidade, explica que a ideia da competição surgiu em 2011, em meio à série de demissões no primeiro ano do governo Dilma Rousseff. Segundo ele, foi uma forma de punir os políticos que não foram reprimidos.
Já que ninguém é preso, a gente encontrou uma forma de punir, simbolicamente, os políticos corruptos conta ele.
Marcelo revela que o nome da eleição veio de um cartaz exibido durante um ato contra a corrupção realizado em setembro na Cinelândia, no Centro do Rio.
Um manifestante levantou um cartaz com a frase Algema neles!. Foi daí que veio a ideia do nome do prêmio diz o coordenador.
Além de Lula, Demóstenes, Azeredo e Cavendish, mais seis nomes compõem a lista:
a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra (PT), envolvida em um esquema de tráfico de influência durante o governo Lula;
o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), acusado de prestar serviços de consultoria mesmo depois de assumir o cargo;
o senador Jader Barbalho (PMDB/PA), que escapou da Ficha Limpa apesar de estar envolvido no escândalo da Sudam;
o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, cassado por corrupção;
o deputado federal Paulo Maluf (PP/SP), que é procurado pela Interpol por fraude, roubo e lavagem de dinheiro;
e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, por relações com a empreiteira Delta, citada na CPI do Cachoeira.
O coordenador do Movimento 31 de Julho explica que a seleção dos nomes foi pensada com base nos fatos que mais repercutiram no ano. A orientação permite, então, que mesmo casos que não aconteceram em 2012 sejam lembrados.
O assunto do ano foi o mensalão, que foi denunciado em 2005, começou a ser investigado dois anos depois, mas só foi julgado agora. São casos que não necessariamente aconteceram em 2012, mas repercutiram no ano. Usamos também os comentários que foram feitos na votação do ano passado. Nomes como o de Jarder Barbalho, que tinha ficado de fora, foram cobrados.
Marcelo Medeiros diz que Lula, Maluf e Cabral lideravam a disputa quando a votação foi lançada, em 16 de novembro. O ex-presidente da República manteve a liderança, até então, mas houve uma reviravolta. Cabral acabou perdendo a terceira posição para Demóstenes Torres, que depois disparou e chegou ao segundo lugar. Maluf saiu da disputa, e Azeredo entrou na briga.
Parece até que os políticos pedem para conhecidos votarem nos outros brinca o coordenador, que ainda acredita em outra reviravolta até o dia do encerramento da votação.
A premiação dos vencedores dos troféus de ouro, prata e bronze será em um evento aberto ao público, ainda sem lugar definido, no próximo dia 20.
Como ninguém vai querer ir receber o prêmio, nós estamos providenciando máscaras dos políticos para que eles possam ser representados por nós mesmos, em uma grande brincadeira adianta Marcelo. É uma brincadeira levada a sério, porque a crítica feita com bom humor tem um poder muito mais interessante conclui.
Os mocinhos também têm vez
Não só de vilões vive a política. Pensando nisso, o Movimento 31 de Julho lançou outra disputa: o troféu Vassoura de Ouro. O objetivo é fazer um contraponto ao Algemas de Ouro, ressaltando iniciativas de combate à corrupção, usando um de seus símbolos: a vassoura verde e amarela.
Os candidatos à Vassoura de Ouro são o presidente do STF, Joaquim Barbosa;
o ex-presidente da Corte Ayres Britto;
o procurador-geral da República, Roberto Gurgel;
a ex-corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon;
o ex-presidente da Comissão de Ética da Presidência da República Sepúlveda Pertence;
o deputado Miro Teixeira;
o senador Randolfe Rodrigues;
e o coordenador do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral, Marlon Reis, um dos mentores da ação popular que virou a Lei da Ficha Limpa.
A eleição foi uma ideia do coordenador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, inspirado pela decisão do Museu Histórico Nacional de incorporar ao seu acervo uma vassoura verde e amarela como símbolo da cidadania. A lista foi composta pelo Movimento 31 de Julho, e, segundo Marcelo Medeiros, foi aprovada pelo próprio Antônio Carlos.
Houve uma dificuldade em escolher os nomes. Nós não militamos por partido algum, mas o concurso não deixa de ser um ato político. A gente teve que avaliar as implicações de todos os nomes que a gente ia incluir. Nossa ideia é fortalecer os poderes e não enfraquecer explicou ele.O prazo para votação do Vassoura de Ouro é maior: termina em 28 de fevereiro.
A entrega do prêmio será realizada em março
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