O Banco Central já esperava uma esticada na inflação de janeiro, mas não tanto. Já avisara que havia pressões “no curto prazo”, mas os números do mês surpreenderam até mesmo os analistas independentes, como indicam as pesquisas.
A inflação não saltava para níveis superiores a 6,0% em 12 meses desde janeiro de 2012. E isso acontece mesmo depois de colocada em marcha operação de represamento dos reajustes, como acontece com os preços dos combustíveis e com as tarifas do transporte público.
Aumenta a desarrumação dos fundamentos da economia, que enfrenta agora uma síndrome multicontraditória de inflação progressiva, atividade econômica fraca (ou em retração), pleno emprego e consumo aquecido.
As autoridades não reconhecem que esteja equivocada a estratégia de incentivo ao consumo num quadro de custos crescentes para o setor produtivo. Preferem afirmar que esses desajustes são normais e temporários depois das mudanças de fundo da economia, como as que derrubaram os juros básicos (Selic) e providenciaram a desvalorização cambial (alta do dólar) perto de 20%.
No entanto, a atual estocada da inflação está fortemente concentrada no setor de alimentos e bebidas e de despesas pessoais. Apenas esses itens concorreram em 61% para a inflação dos últimos 30 dias terminados em 15 de janeiro. São indicações de uma demanda excessivamente aquecida, sem oferta suficiente.
Como nos desastres aéreos, não há uma única causa para o crescente desarranjo. O mais recente deles são os estímulos ao consumo, conjugados com queda forte dos juros e desvalorização cambial, sem que esse mix de estímulos tenha sido compensado com aperto na condução das contas públicas (mais austeridade fiscal).
É o que o Banco Central vem apontando há mais de dois meses quando afirma em seus documentos que a política fiscal se tornou expansionista.
Nessas condições, mais estímulo ao consumo que proviesse da redução do superávit primário, como vem sendo pensado, trabalharia contra os objetivos do governo, como já vem acontecendo. Em vez de aumentar a produção da indústria, a elevação do consumo está vazando para o exterior; impulsiona as importações de combustíveis, de matérias-primas, de componentes e de bens de consumo.
Além disso, puxa para cima a procura por serviços, que não comportam importações.
Os fatos estão atropelando a atual política econômica. Mas, em vez de se dobrar a eles e de concluir que há algo de errado no arranjo, o governo dobra sua aposta no que entende por políticas anticíclicas, imaginando que a virada está logo aí, atrás do nevoeiro.
É por isso que insiste no adiamento dos reajustes de preços.
É por isso que insiste no adiamento dos reajustes de preços.
Entende que essas pressões inflacionárias são de fôlego curto e que, adiante, mais espaço se abrirá para recomposição de preços.
O tempo passa e, com ele, vai tomando corpo a percepção de que o governo não consegue cumprir seus objetivos. Mais ainda, vai sendo surpreendido todos os dias pela mediocridade dos resultados.
E a erosão na confiança torna tudo mais difícil.
Aí está o volume de Investimento Estrangeiro Direto (IED) que chega anualmente no Brasil desde 2007. O gráfico acima traz também projeção para este ano.
Celso Ming/O Estado de S. Paulo
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