"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 07, 2013

A GERENTONA E A SUA "UNIÃO ESTÁVEL" : Mais um ano de inflação


O governo prome­te mais crescimen­to e menos infla­ção em 2013, mas sua prioridade se­rá, com certeza, o cumprimento da primeira promes­sa. O estilo de jogo, tudo indica, será o mesmo dos últimos dois anos, com mais estímulos ao consumo e al­gum esforço para impulsionar o in­vestimento. 

A presidente Dilma Rousseff e sua equipe tratarão a alta de preços como assunto secundário, como até agora, e cuidarão apenas de manter o resultado final abaixo de 6,5%, limite de tolerância fixado na política de metas. 

Se esse roteiro for cumprido, o quarto ano de man­dato será iniciado com um potencial de crescimento ainda medíocre e um quadro de preços muito pior que o das economias mais produtivas - emergentes ou industrializadas.

O Banco Central (BC) mantém as projeções mais otimistas: 
inflação de 4,8% em 2013 e 4,9% em 2014, se­gundo o último relatório trimestral de inflação. No fim de dezembro, a estimativa do mercado financeiro para este ano chegou a 5,5%, de acor­do com a pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC. Essas previ­sões se referem ao índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política monetária.

A inflação deverá ser contida, se­gundo as autoridades, pela conjun­ção de alguns fatores externos e internos. A economia global continua­rá em marcha lenta e os preços inter­nacionais dos produtos agrícolas e de outras matérias-primas deverão acomodar-se ou, em alguns casos, recuar. Internamente, o crescimen­to econômico será maior que em 2012, mas o aumento dos salários e do crédito será moderado e, além disso, o governo alcançará a meta fiscal sem ajuste, isto é, sem recor­rer ao desconto do valor investido no Programa de Aceleração do Cres­cimento (PAC).

O aumento de 9% para o salário mínimo, a partir de 1.° de janeiro, põe parcialmente em xeque uma das hipóteses do BC. A elevação real certamente supera, com folga, qual­quer ganho de produtividade imagi­nável, mesmo com muito esforço, para o ano passado. Moderação no crédito é algo para ser conferido, nos próximos meses, mas nada per­mite supor, até agora, um padrão di­ferente do observado nos últimos anos. 

Quanto à política fiscal, prova­velmente continuará expansionista, confirmando uma avaliação do pró­prio BC.
No fim do ano o governo confir­mou a intenção de manter a política de estímulo fiscal ao consumo. Está prevista uma redução gradual do in­centivo, mas o governo cedeu a pres­sões dos setores mais favorecidos, nos dois últimos anos, e poderá ce­der de novo em 2013 e esticar os be­nefícios. 

Quanto aos investimentos, são muito menos certos, embora o Tesouro já esteja comprometido com mais créditos subsidiados para o BNDES.

Os indicadores de preços conti­nuaram subindo vigorosamente no último bimestre e nada aponta para um arrefecimento significativo em 2013. As cotações das matérias-primas voltaram a subir, depois de um breve arrefecimento, como aponta­ram tanto a Fundação Getúlio Var­gas (FGV) como o IBGE. 

Em dezem­bro, em 14 das 23 atividades da indús­tria de transformação cobertas pela pesquisa oficial houve alta de preços ao produtor. O IPC-S, 0 índice de preços ao consumidor atualizado se­manalmente pela FGV em sete capi­tais, subiu 0,66% na última quadrissemana de dezembro e 5,74% no ano. Para 2013, a projeção é de um aumento de 5,4%.

Economistas de várias institui­ções de pesquisa têm procurado ava­liar os efeitos positivos e negativos de alguns eventos esperados - rea­justes de preços de combustíveis, au­mentos de tarifas de ônibus e redu­ção das contas de eletricidade. 

Essas contas podem ser muito interes­santes, mas o fator decisivo é de outra ordem: 
qualquer aumento de preço pode gerar um amplo efeito de contágio simplesmente porque as condições da demanda são favoráveis. Essas condições dependem do nível de emprego, da massa de salários e dos gastos públicos. 

Isso explica a ampla difusão da alta de preços nos últimos dois anos e a persistên­cia da inflação elevada. No fundo da cena está a política de tolerância. Es­se quadro, tudo indica, deve manter- se em 2013.

O Estado de S. Paulo

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