"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 16, 2012

"Ô, povo apático - cidadão-eleitor-consumidor "


Às vezes, sinto que está surgindo no Brasil uma espécie de cidadão-eleitor-consumidor. Ele tem convicções ideológicas meramente consumistas e escolhe seus governantes olhando rótulos e verificando gorduras trans. Sempre está de olho no prazo de validade, na origem, se foram usados agrotóxicos ou produtos sustentáveis no plantio ou na confecção. 
Mas, sinceramente, azeite tem que ser português e a idade física importa na política? Bem, ninguém consome ideologia; apenas vive-se.

De qualquer forma, faço esse preâmbulo para levantar outra vez um questionamento: por que, nas relações de consumo, continuamos tão apáticos, indolentes, insensíveis ou, para sermos um pouco mais duros, covardes? Esta semana, alguns fatos mostram que ainda estamos na pré-escola da cidadania.

Em São Paulo, o Proteste divulgou o resultado das provas de segurança automotiva realizadas pelo Latin NCAP, programa que avalia os carros novos da região. Tristeza: os veículos populares, principalmente os brasileiros, estão uns 20 anos atrasados em relação aos padrões adotados nos países "mais desenvolvidos", abaixo dos padrões globais. 
Dois populares — um de origem francesa e outro importado da China — conseguiram apenas uma estrela em cinco possíveis! Isso não pode existir mais, gente. Até quando seremos tão parvos assim?

Aliás, para elencar aqui as perversidades que empresas e governos praticam contra o consumidor-eleitor eu necessitaria de 15 artigos. Mas prefiro me ater às duas últimas semanas. Um leitor escreveu quarta-feira ao Correio contando como foi maltratado no jogo Santos e Atlético Goianiense, no Bezerrão, no Gama. Sou solidário — afinal, estava lá. 

 Como pode ocorrer o infame overbooking, tão desgraçadamente comum nas companhias aéreas, num dos mais importantes campeonatos de futebol do mundo? 
 Sem complexo de vira-latas: 
começo a entender quem questiona se estamos mesmo preparados para organizar uma Copa do Mundo.

E mais: 
a indignação nossa deve se estender, obviamente, a determinadas decisões dos "nossos" servidores (e seus chefes), sejam do GDF ou do Judiciário. 
O feriado de 2 de novembro foi, para a turma da Justiça, bastante "justo": 
ela também folgou na quinta, 1º/11. 
O feriado do dia 15 foi, para a galera do GDF, funcional, digamos assim: 
ela folgou na sexta, 16/11. 
Dá para ficar calado?

Renato Ferraz Correio Braziliense

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