"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 24, 2012

Crime, castigo e popularidade. Estudantes prestam homenagem a Barbosa

 
No dia seguinte ao término da análise dos capítulos da Ação Penal 470 e horas antes da sessão em que o Supremo Tribunal Federal (STF) começaria a estipular as penas dos condenados, após dois meses e 20 dias de julgamento, o relator do processo, Joaquim Barbosa, pôde verificar a repercussão dos trabalhos da Corte perante a opinião pública.

Na manhã de ontem, ele foi aplaudido de pé ao chegar em um encontro de universitários, que lotaram o auditório do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), durante a realização do 2º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Visivelmente cansado e discursando em pé, devido ao problema crônico no quadril, o magistrado foi homenageado pelos alunos, mas recusou o status de herói com que tem sido tratado em redes sociais.

Segundo Barbosa, ele “atuou como todo juiz deve atuar”. “Estou em meio a um vendaval. Mal dormi, mas a luta recomeça”, disse. O ministro recebeu a homenagem prestada por estudantes e docentes da instituição, que enalteceram valores pessoais, defendidos por Barbosa, considerados de grande importância na mudança da concepção da Justiça no Brasil.

Em texto distribuído pelos estudantes, o magistrado é classificado como um “modelo ético-republicano”. Em resposta, Barbosa afirmou que busca apenas “levar a sério o papel que o STF tem no Brasil”. “Longe de mim ter a pretensão de mudar o país. Eu não tenho feito nada além do papel que se espera de um juiz”, disse.

Impacto
Na apresentação para os alunos, o magistrado destacou que o juiz não pode se limitar a interpretar normas jurídicas, mas tem o papel de julgar e verificar qual impacto as decisões tomadas na Corte trarão para a nação.

“Um país que não pune adequadamente — e no momento certo — a criminalidade, leva a sociedade a algo muito mais sério e perigoso que o crime. Leva à desagregação social e à completa descrença no funcionamento da própria democracia”, defendeu o magistrado.

Mais de 300 pessoas, entre professores e alunos, assistiram à palestra de Barbosa, sentadas nas poltronas ou no chão, em pé, encostadas nas paredes, ou acomodadas em cadeiras improvisadas. Muitas chegaram a permanecer do lado de fora do auditório lotado, escutando o discurso por meio de alto-falantes.

O estudante do 5º semestre de direito Gabriel Silva Borges, 23 anos, disse que o magistrado era um exemplo a ser seguido. “Ele desperta no aluno o sentimento de que o caminho pode ser difícil, mas que a gente consegue alcançar os nossos objetivos.”

O professor aposentado Sebastião José Sobrinho, 65 anos, afirmou que via em Barbosa o personagem que tenta recuperar a dignidade nacional. “Ele está revolucionando. A excelente participação dele (no julgamento do mensalão) renova a esperança dos brasileiros”, elogiou.

 “Vivemos um momento histórico e com a presença do ministro podemos incentivar os alunos a transformarem a realidade. A presença dele foi emblemática”, resumiu a coordenadora dos cursos de graduação e pós-graduação em direito do Iesb, professora Any Ávila Assunção.

"Um país que não pune a criminalidade leva a sociedade à completa descrença no funcionamento da própria democracia"
Joaquim Barbosa, ministro do STF

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