"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 14, 2012

Lavanderia Mensalão

Terminada mais uma fase do julgamento do mensalão, nenhuma das acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) foram desmentidas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) até agora.

O próximo passo é comprovar que o dinheiro desviado dos cofres públicos alimentou a compra de apoio parlamentar ao PT.
Avizinha-se a hora da verdade.

Ontem, os ministros atestaram a existência de uma lavanderia montada para dissimular a origem dos recursos que o esquema surrupiou de empresas como o Banco do Brasil para molhar a mão de políticos da base aliada ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Oito dos dez réus acusados pela PGR foram condenados.

Os casos mais vistosos são os de Marcos Valério e seus dois sócios na agência de publicidade SMP&B. O operador do mensalão já soma o suficiente para passar, pelo menos, 13 anos na cadeia. Equivalem à pena mínima por duas condenações por corrupção ativa, três por peculato e uma por lavagem de dinheiro, calcula O Globo.

O próximo elo da cadeia - sem trocadilho - é comprovar que os recursos desviados dos cofres públicos foram usados para comprar apoio parlamentar e dar sustentação ao projeto de poder do PT. Disso, há evidências de sobra.

Por exemplo:
um dos depoimentos colhidos pelos promotores no processo, de um ex-tesoureiro do Rural, atesta que, mal começado o governo Lula, os saques tornaram-se frenéticos e vultosos na agência do banco em Brasília. Saíam de lá para os mensaleiros, como o já condenado João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Da rodada desta semana no Supremo, restou provado que o PT montou uma Operação Paraguai para escamotear a origem suja do dinheiro que usou para remunerar parlamentares e partidos que lhe serviram de esteio em seu projeto de perpetuação no poder.
Tudo bem longe da vista do Banco Central e do Coaf, órgão de inteligência financeira do governo.

Os "empréstimos" concedidos pelo Banco Rural ao partido eram fajutos, fictícios, rolados em condições a perder de vistas em prol de um devedor que sequer requisitos para obter crédito na praça tinha.

Pelas operações, passaram R$ 32 milhões, que, devidamente lavados, irrigaram os bolsos mensaleiros.

"O dinheiro é, para o crime, o que o sangue é para a veia. Se não circular, não temos esquemas criminosos como esse. Há uma necessidade enorme de que existam instituições financeiras que se prestem para situações como essa", resumiu, com precisão, a ministra Cármen Lúcia, ao concluir, ontem, pela existência de crime de lavagem de dinheiro.

Na semana que vem, o julgamento começa a chegar perto de quem realmente interessa: o núcleo político que, entre quatro paredes de um palácio presidencial, manipulou todo o esquema mafioso de assalto aos cofres do Estado e desvirtuamento da representação legislativa.

É a parte que realmente interessa.

A fatia do julgamento referente à acusação de compra de apoio político envolve 23 réus, tendo à frente o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula José Dirceu.
Pelas decisões precedentes tomadas pelos ministros do Supremo até agora, ficará difícil para eles provar que não sabiam que manipulavam dinheiro ilícito para fins tenebrosos.

A cúpula petista já percebeu que os magistrados não estão dispostos a deixar pedra sobre pedra no julgamento do maior escândalo de corrupção da escola política do país - noves fora as deprimentes exceções de Ricardo Lewandowski e José Antônio Dias Toffoli, cada dia mais evidentemente devotados a amaciar para os criminosos.

Estão em pânico, porque se julgavam inimputáveis.

Como a desfaçatez do PT não encontra limites, pode-se esperar que o partido dos mensaleiros tente de tudo para desferir um contra-ataque.

Mas a disposição dos ministros do STF de fazer valer a justiça e reservar um cantinho na cadeia a quem lesou os cofres públicos é razão suficiente para acreditar que quem mais deve mais pagará.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Lavanderia Mensalão

Nenhum comentário: