Esse é o desfecho que o deputado do PSB prevê para a CPI mista do Cachoeira
Da mesma maneira como “vestiu à vera” as camisas dos times e da Seleção Brasileira, o deputado Romário (PSB-RJ) resolveu assumir oficialmente o figurino de político. Admite que até acostumou com o terno, algo impensável para alguém conhecido pelas chuteiras, meiões ou sandálias de dedo. Mantém, contudo, a língua afiada e critica a CPI mista do Cachoeira:
“Mais uma vez, o povo vai se decepcionar, com certeza”, disse, em entrevista exclusiva ao Correio.
Durante papo de quase 45 minutos (um tempo inteiro de futebol fora os acréscimos), reclamou que não tem espaço no PSB — “a minha relação com eles é zero” — jurou que está apaixonado por Brasília — “você pode até não acreditar porque às vezes eu também não acredito nas pessoas” —, mas mantém ressalvas quanto às baladas sertanejas: “Estou acostumando, não me dói tanto quanto no início”.
Apesar de aparecer em terceiro lugar em uma pesquisa avulsa para a prefeitura do Rio de Janeiro, afirma que ainda não pensa em política pós-2014. Disse que a grande motivação para candidatar-se foi o nascimento de sua filha, Ivy, portadora da síndrome de Down. E avisou:
“Eu penso em lutar muito nestes últimos dois anos por essas causas que eu acredito”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
Qual sua avaliação sobre a CPI mista do Cachoeira?
Era para ser um grande exemplo. Mas pelo que a gente vê, ouve e percebe, muitos dos que deveriam pagar pelas coisas que fizeram poderão se safar. Mais uma vez, o povo vai se decepcionar, com certeza.
É possível ser, na política, tão autêntico como o senhor era no futebol?
Tanto é possível que eu continuo sendo o mesmo Romário, falando aquilo que vejo e acredito. Por causa disso, não tenho nenhum espaço no partido. Talvez alguns grandes do PSB estejam achando que estou crescendo acima do que eles esperavam. A minha relação com eles é zero.
Essa postura atrapalha?
Atrapalha inclusive dentro da Câmara, porque tem alguns colegas que não estão acostumados a ouvir algumas coisas. Não tenho como mudar. O dia que eu acordar e falar: “Mudei”, vou parar de falar e com certeza as pessoas vão imaginar: “Esse cara tá corrompido”. E uma coisa que a política não vai fazer é me corromper.
Como surgiu o interesse pela política?
Comecei a prestar atenção em política depois do nascimento da minha filha Ivy (portadora da síndrome de Down). Comecei a ver a Constituição, estudar os direitos que essas pessoas têm e que não são cumpridos. Como ex-jogador, ídolo, sabia que poderia dar uma contribuição maior ao assunto.
Algum outro assunto interessa ao senhor?
Eu vim da favela, alguns amigos meus morreram por drogas. Tem o crack invadindo o país. Nunca quis ser exemplo para ninguém, mas eu sou meio que espelho para essas pessoas, esses jovens, que sabem de onde eu vim e, pelo esporte, consegui chegar aonde cheguei.
Pensa em política pós-2014?
Quando eu jogava no Vasco e ia jogar contra o Olaria, eu pensava no Olaria. Três semanas depois o jogo era contra o Flamengo. Claro que era um clássico. Mas eu só pensava no Flamengo quando acabava o jogo anterior. Política é mais ou menos por aí. Eu penso em lutar muito nestes últimos dois anos por essas causas que eu acredito. Em julho de 2014, eu vou ter que decidir.
O senhor chegou a manifestar o desejo de ser candidato a prefeito do Rio?
Foi feita uma pesquisa espontânea e meu nome apareceu em terceiro lugar. Muitos deputados estaduais e vereadores do partido falaram que poderia ser uma maneira de o PSB crescer mais no município. Até hoje, sete meses depois, estou esperando a resposta do presidente do meu partido.
Está preparado para ser prefeito?
Há seis meses, eu achava que não. Hoje, eu entendo que, para ser um bom administrador, você tem que ter um grande grupo trabalhando para você. Pessoas técnicas, capazes.
Antes da posse, indagaram-lhe se você conseguiria usar terno. Já se acostumou?
Foi inclusive bem rápido. Quando estou de férias ou de recesso, sinto até falta. Muitas vezes, no Rio, nem precisa, eu coloco terno para me sentir político. Posso dizer que estou amarradão nesse aprendizado.
Como é Brasília na visão do Romário, um típico carioca?
Conheço Brasília há quase 20 anos. Antes de 2 de fevereiro do ano passado (data da posse como deputado federal), já tinha tido a oportunidade de passar alguns fins de semana aqui.
O que você faz aqui nas horas vagas?
Gosto de jogar futebol e futevôlei. Sair para comer bem e aqui tem bons restaurantes. Gosto de ir para a noite, ouvir hip-hop, funk, apesar de aqui em Brasília tocar muito eletrônico. Sertanejo, estou começando a me acostumar.
Mas está gostando?
Não é gostar, é se acostumar.
Não me dói tanto como no começo.
Talvez não passe tanto tempo como todo mundo em uma balada sertaneja, mas hoje eu já vou. Você tem até o direito de não acreditar, porque às vezes eu também não acredito nas pessoas, mas estou apaixonado por Brasília.
O time de coração é mesmo o América?
É o América.
Sempre respeitei o Vasco porque é o time que abriu a porta para eu entrar no futebol e de uma forma ou outra fechou com o gol 1.000. Com o Flamengo, tenho uma relação de carinho muito grande com a torcida. E no Fluminense, apesar de eu não ter passado muito tempo lá, tentei fazer o máximo para ajudar. Claro que não poderia ser o Romário de 10 anos antes.
O jogo inesquecível foi a final contra a Itália?
Foi, porque fomos campeões do mundo. Mas o melhor jogo com a camisa da Seleção foi o Brasil e Uruguai nas eliminatórias de 1993.
E com as camisas de clube?
A final Vasco e Palmeiras (Copa Mercosul de 2000) que nós viramos para 4 x 3. Tem um Barcelona e Sevilha. Eu tinha prometido, no primeiro período de 1993, que faria 30 gols. Eu só estava com 11 e tinha passado quase a metade do campeonato. Os caras achavam que eu era um doente. O último jogo era Barcelona e Sevilha. Eu estava com 29 gols, jogando mal. Sobrou uma bola e eu fui e botei, 1 x 0. Abri o placar e fiz os 30 gols.
E o América?
Por ser meu time de coração, por ser o time do meu pai, eu queria jogar com a camisa do América. Quando subimos da segunda para a primeira divisão do Rio, depois de termos sido campeões, ainda faltava um jogo para acabar a competição. E eu, oficialmente, joguei um tempo.
O gol 1.000?
O jogo, em si, foi mais um jogo. Mas o ato do gol 1.000 é algo que tem que marcar. Outro jogo que marcou foi Flamengo e Botafogo, final da primeira competição que eu disputei pelo Flamengo (Taça Guanabara de 1995). Fiz três gols e foi 3 x 2. Com a camisa do Fluminense, teve o meu único gol de bicicleta.
Futebol e política são dois ambientes extremamente competitivos. Dá para ter amigos?
Amigo é um conceito muito complexo.
A maioria dos meus amigos é de fora. Tenho alguns no futebol, que vão à minha casa, vou à casa deles. Mas é diferente da relação que tenho com o Batata, com o Gaguinho, com o Dentinho, amigos que vocês não conhecem. Eu acho que é possível encontrar na política pessoas como eu: firmes, dignas e cumpridoras da palavra.
"Nunca quis ser exemplo para ninguém, mas eu sou meio que espelho para essas pessoas, esses jovens, que sabem de onde eu vim e, pelo esporte, consegui chegar aonde cheguei”
Da mesma maneira como “vestiu à vera” as camisas dos times e da Seleção Brasileira, o deputado Romário (PSB-RJ) resolveu assumir oficialmente o figurino de político. Admite que até acostumou com o terno, algo impensável para alguém conhecido pelas chuteiras, meiões ou sandálias de dedo. Mantém, contudo, a língua afiada e critica a CPI mista do Cachoeira:
“Mais uma vez, o povo vai se decepcionar, com certeza”, disse, em entrevista exclusiva ao Correio.
Durante papo de quase 45 minutos (um tempo inteiro de futebol fora os acréscimos), reclamou que não tem espaço no PSB — “a minha relação com eles é zero” — jurou que está apaixonado por Brasília — “você pode até não acreditar porque às vezes eu também não acredito nas pessoas” —, mas mantém ressalvas quanto às baladas sertanejas: “Estou acostumando, não me dói tanto quanto no início”.
Apesar de aparecer em terceiro lugar em uma pesquisa avulsa para a prefeitura do Rio de Janeiro, afirma que ainda não pensa em política pós-2014. Disse que a grande motivação para candidatar-se foi o nascimento de sua filha, Ivy, portadora da síndrome de Down. E avisou:
“Eu penso em lutar muito nestes últimos dois anos por essas causas que eu acredito”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
Qual sua avaliação sobre a CPI mista do Cachoeira?
Era para ser um grande exemplo. Mas pelo que a gente vê, ouve e percebe, muitos dos que deveriam pagar pelas coisas que fizeram poderão se safar. Mais uma vez, o povo vai se decepcionar, com certeza.
É possível ser, na política, tão autêntico como o senhor era no futebol?
Tanto é possível que eu continuo sendo o mesmo Romário, falando aquilo que vejo e acredito. Por causa disso, não tenho nenhum espaço no partido. Talvez alguns grandes do PSB estejam achando que estou crescendo acima do que eles esperavam. A minha relação com eles é zero.
Essa postura atrapalha?
Atrapalha inclusive dentro da Câmara, porque tem alguns colegas que não estão acostumados a ouvir algumas coisas. Não tenho como mudar. O dia que eu acordar e falar: “Mudei”, vou parar de falar e com certeza as pessoas vão imaginar: “Esse cara tá corrompido”. E uma coisa que a política não vai fazer é me corromper.
Como surgiu o interesse pela política?
Comecei a prestar atenção em política depois do nascimento da minha filha Ivy (portadora da síndrome de Down). Comecei a ver a Constituição, estudar os direitos que essas pessoas têm e que não são cumpridos. Como ex-jogador, ídolo, sabia que poderia dar uma contribuição maior ao assunto.
Algum outro assunto interessa ao senhor?
Eu vim da favela, alguns amigos meus morreram por drogas. Tem o crack invadindo o país. Nunca quis ser exemplo para ninguém, mas eu sou meio que espelho para essas pessoas, esses jovens, que sabem de onde eu vim e, pelo esporte, consegui chegar aonde cheguei.
Pensa em política pós-2014?
Quando eu jogava no Vasco e ia jogar contra o Olaria, eu pensava no Olaria. Três semanas depois o jogo era contra o Flamengo. Claro que era um clássico. Mas eu só pensava no Flamengo quando acabava o jogo anterior. Política é mais ou menos por aí. Eu penso em lutar muito nestes últimos dois anos por essas causas que eu acredito. Em julho de 2014, eu vou ter que decidir.
O senhor chegou a manifestar o desejo de ser candidato a prefeito do Rio?
Foi feita uma pesquisa espontânea e meu nome apareceu em terceiro lugar. Muitos deputados estaduais e vereadores do partido falaram que poderia ser uma maneira de o PSB crescer mais no município. Até hoje, sete meses depois, estou esperando a resposta do presidente do meu partido.
Está preparado para ser prefeito?
Há seis meses, eu achava que não. Hoje, eu entendo que, para ser um bom administrador, você tem que ter um grande grupo trabalhando para você. Pessoas técnicas, capazes.
Antes da posse, indagaram-lhe se você conseguiria usar terno. Já se acostumou?
Foi inclusive bem rápido. Quando estou de férias ou de recesso, sinto até falta. Muitas vezes, no Rio, nem precisa, eu coloco terno para me sentir político. Posso dizer que estou amarradão nesse aprendizado.
Como é Brasília na visão do Romário, um típico carioca?
Conheço Brasília há quase 20 anos. Antes de 2 de fevereiro do ano passado (data da posse como deputado federal), já tinha tido a oportunidade de passar alguns fins de semana aqui.
O que você faz aqui nas horas vagas?
Gosto de jogar futebol e futevôlei. Sair para comer bem e aqui tem bons restaurantes. Gosto de ir para a noite, ouvir hip-hop, funk, apesar de aqui em Brasília tocar muito eletrônico. Sertanejo, estou começando a me acostumar.
Mas está gostando?
Não é gostar, é se acostumar.
Não me dói tanto como no começo.
Talvez não passe tanto tempo como todo mundo em uma balada sertaneja, mas hoje eu já vou. Você tem até o direito de não acreditar, porque às vezes eu também não acredito nas pessoas, mas estou apaixonado por Brasília.
O time de coração é mesmo o América?
É o América.
Sempre respeitei o Vasco porque é o time que abriu a porta para eu entrar no futebol e de uma forma ou outra fechou com o gol 1.000. Com o Flamengo, tenho uma relação de carinho muito grande com a torcida. E no Fluminense, apesar de eu não ter passado muito tempo lá, tentei fazer o máximo para ajudar. Claro que não poderia ser o Romário de 10 anos antes.
O jogo inesquecível foi a final contra a Itália?
Foi, porque fomos campeões do mundo. Mas o melhor jogo com a camisa da Seleção foi o Brasil e Uruguai nas eliminatórias de 1993.
E com as camisas de clube?
A final Vasco e Palmeiras (Copa Mercosul de 2000) que nós viramos para 4 x 3. Tem um Barcelona e Sevilha. Eu tinha prometido, no primeiro período de 1993, que faria 30 gols. Eu só estava com 11 e tinha passado quase a metade do campeonato. Os caras achavam que eu era um doente. O último jogo era Barcelona e Sevilha. Eu estava com 29 gols, jogando mal. Sobrou uma bola e eu fui e botei, 1 x 0. Abri o placar e fiz os 30 gols.
E o América?
Por ser meu time de coração, por ser o time do meu pai, eu queria jogar com a camisa do América. Quando subimos da segunda para a primeira divisão do Rio, depois de termos sido campeões, ainda faltava um jogo para acabar a competição. E eu, oficialmente, joguei um tempo.
O gol 1.000?
O jogo, em si, foi mais um jogo. Mas o ato do gol 1.000 é algo que tem que marcar. Outro jogo que marcou foi Flamengo e Botafogo, final da primeira competição que eu disputei pelo Flamengo (Taça Guanabara de 1995). Fiz três gols e foi 3 x 2. Com a camisa do Fluminense, teve o meu único gol de bicicleta.
Futebol e política são dois ambientes extremamente competitivos. Dá para ter amigos?
Amigo é um conceito muito complexo.
A maioria dos meus amigos é de fora. Tenho alguns no futebol, que vão à minha casa, vou à casa deles. Mas é diferente da relação que tenho com o Batata, com o Gaguinho, com o Dentinho, amigos que vocês não conhecem. Eu acho que é possível encontrar na política pessoas como eu: firmes, dignas e cumpridoras da palavra.
"Nunca quis ser exemplo para ninguém, mas eu sou meio que espelho para essas pessoas, esses jovens, que sabem de onde eu vim e, pelo esporte, consegui chegar aonde cheguei”
PAULO DE TARSO LYRA Correio Braziliense
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