Com a maioria das atenções voltadas para os problemas globais em discussão na Rio+20, a economia brasileira segue, lentamente, dia após dia, sua trajetória ladeira abaixo. Até agora não se ouviu do governo Dilma Rousseff nenhuma explicação sobre as razões de a situação ter piorado tanto e em tão pouco tempo. Falta um mea culpa.
Vale recordar que, até bem pouco tempo atrás, a presidente da República propagandeava aos quatro ventos que a economia brasileira aceleraria neste ano. Dilma não falava sozinha:
seu ministro da Fazenda apostava ainda mais alto e previu, durante muito tempo, crescimento de 5% em 2012. Era só bravata ou foi má-fé mesmo?
De repente, sorrateiramente, o discurso róseo do governo foi sendo deixado de lado. As projeções fantasiosas de dias atrás foram sendo abandonadas, sem, contudo, merecer qualquer explicação oficial do governo petista ao distinto público.
A portas fechadas, em encontro com governadores na semana passada, a presidente Dilma disse não enxergar "luz no fim do túnel" para a crise europeia. Foi uma forma de dizer que, por aqui, a escuridão também deve prevalecer. Por que ela não vem a público manifestar-se com o mesmo realismo?
Já se dá de barato que o desempenho da economia brasileira neste ano deverá ficar aquém até mesmo dos 2,7% do pibinho de 2011. No boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, os prognósticos despencaram. A previsão prevalecente entre analistas financeiros agora é de que o nosso PIB crescerá apenas 2,3% em 2012.
A deterioração nas expectativas foi rápida, e implacável:
as projeções caíram quase um ponto percentual em pouco mais de um mês, algo incomum neste ambiente. Não há dúvida de que a onda virou. E o pior é que o chamado "mercado" não é muito costumeiro em acertar prognósticos de PIB; quase sempre erra para mais.
Não são apenas as projeções que azedaram. A economia real continua amarga no segundo trimestre:
de acordo com a prévia do PIB divulgada pelo BC na sexta-feira, em maio a economia caiu 0,02% sobre o mesmo mês de 2011, na primeira queda neste tipo de comparação desde setembro de 2009. No acumulado em 12 meses, o crescimento é de 1,65%.
Ocorre que o governo brasileiro apostou alto numa única estratégia:
a do aumento do consumo, parecendo julgar que a curva ascendente verificada nos últimos anos poderia perdurar para sempre. Descuidou, neste ínterim, de incentivar os investimentos e os empreendimentos privados, apesar de toda a fama de boa gerente de que a presidente gozava.
Com as vendas no comércio já refluindo, o governo simplesmente ignorou - ou será que desconhecia? - que o consumidor tem limites para se endividar. Estrilou quando a federação que representa os bancos fez um alerta nesta direção, mostrando que não bastaria os juros baixarem na marra, se o tomador não quer beber da água da dívida.
Erros acontecem. O que não se admite é a insistência neles, a despeito de todos os alertas em contrário. Não é de hoje que o governo vem sendo criticado pelo seu samba de uma nota só na economia, o do incentivo ao consumo desenfreado - e justamente no momento em que o mundo todo discute como tornar o planeta mais sustentável e menos agredido pelos excessos.
Não é de hoje também que se pede mais celeridade para destravar investimentos privados, concessões, parcerias público-privadas no país. Mas, aos apelos, novamente a gestão petista responde com promessas tardias, voltadas agora a incitar o "espírito animal" do empresariado - apenas, porém, no ano que vem, porque neste Inês já é morta.
Em dezembro, Mantega falava que havíamos batido "no fundo do poço" e começaríamos a decolar. Meses depois, afirmou que "ter 2,7% como piso de crescimento tá é muito bom". Em ambos os casos errou feio, mas nem na primeira nem na segunda ocasião foi desautorizado pela presidente. Caberia agora a ambos justificar por que alcançar o pibinho de 2011 tornou-se tarefa impossível.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
A economia despenca e o governo silencia
Vale recordar que, até bem pouco tempo atrás, a presidente da República propagandeava aos quatro ventos que a economia brasileira aceleraria neste ano. Dilma não falava sozinha:
seu ministro da Fazenda apostava ainda mais alto e previu, durante muito tempo, crescimento de 5% em 2012. Era só bravata ou foi má-fé mesmo?
De repente, sorrateiramente, o discurso róseo do governo foi sendo deixado de lado. As projeções fantasiosas de dias atrás foram sendo abandonadas, sem, contudo, merecer qualquer explicação oficial do governo petista ao distinto público.
A portas fechadas, em encontro com governadores na semana passada, a presidente Dilma disse não enxergar "luz no fim do túnel" para a crise europeia. Foi uma forma de dizer que, por aqui, a escuridão também deve prevalecer. Por que ela não vem a público manifestar-se com o mesmo realismo?
Já se dá de barato que o desempenho da economia brasileira neste ano deverá ficar aquém até mesmo dos 2,7% do pibinho de 2011. No boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, os prognósticos despencaram. A previsão prevalecente entre analistas financeiros agora é de que o nosso PIB crescerá apenas 2,3% em 2012.
A deterioração nas expectativas foi rápida, e implacável:
as projeções caíram quase um ponto percentual em pouco mais de um mês, algo incomum neste ambiente. Não há dúvida de que a onda virou. E o pior é que o chamado "mercado" não é muito costumeiro em acertar prognósticos de PIB; quase sempre erra para mais.
Não são apenas as projeções que azedaram. A economia real continua amarga no segundo trimestre:
de acordo com a prévia do PIB divulgada pelo BC na sexta-feira, em maio a economia caiu 0,02% sobre o mesmo mês de 2011, na primeira queda neste tipo de comparação desde setembro de 2009. No acumulado em 12 meses, o crescimento é de 1,65%.
Ocorre que o governo brasileiro apostou alto numa única estratégia:
a do aumento do consumo, parecendo julgar que a curva ascendente verificada nos últimos anos poderia perdurar para sempre. Descuidou, neste ínterim, de incentivar os investimentos e os empreendimentos privados, apesar de toda a fama de boa gerente de que a presidente gozava.
Com as vendas no comércio já refluindo, o governo simplesmente ignorou - ou será que desconhecia? - que o consumidor tem limites para se endividar. Estrilou quando a federação que representa os bancos fez um alerta nesta direção, mostrando que não bastaria os juros baixarem na marra, se o tomador não quer beber da água da dívida.
Erros acontecem. O que não se admite é a insistência neles, a despeito de todos os alertas em contrário. Não é de hoje que o governo vem sendo criticado pelo seu samba de uma nota só na economia, o do incentivo ao consumo desenfreado - e justamente no momento em que o mundo todo discute como tornar o planeta mais sustentável e menos agredido pelos excessos.
Não é de hoje também que se pede mais celeridade para destravar investimentos privados, concessões, parcerias público-privadas no país. Mas, aos apelos, novamente a gestão petista responde com promessas tardias, voltadas agora a incitar o "espírito animal" do empresariado - apenas, porém, no ano que vem, porque neste Inês já é morta.
Em dezembro, Mantega falava que havíamos batido "no fundo do poço" e começaríamos a decolar. Meses depois, afirmou que "ter 2,7% como piso de crescimento tá é muito bom". Em ambos os casos errou feio, mas nem na primeira nem na segunda ocasião foi desautorizado pela presidente. Caberia agora a ambos justificar por que alcançar o pibinho de 2011 tornou-se tarefa impossível.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
A economia despenca e o governo silencia
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