"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 18, 2012

Leônidas Pires : Comissão da Verdade é ‘moeda falsa’, diz general

Ex-ministro do Exército do governo José Sarney, o general da reserva Leônidas Pires Gonçalves atacou a presidente Dilma Rousseff e a Comissão da Verdade instalada na quarta-feira, em solenidade no Palácio do Planalto, classificando-a de “uma moeda falsa, que só tem um lado” e de “completamente extemporânea”.

Ao Estadão, Leônidas disse que a presidente Dilma deveria ter “a modéstia” de deixar de olhar o passado e olhar para frente, “para o futuro do País”.

Recolhido em sua residência, Leônidas, que está com 91 anos, evita fazer declarações à imprensa, mas fez questão de falar sobre a instalação da Comissão da Verdade por considerar que os militares estão “sendo injustiçados” e não vê quem os defenda no governo.

Segundo ele, quando Nelson Jobim era ministro da Defesa havia um interlocutor. “Ele se colocava”, disse. “Mas o seu sucessor, Celso Amorim, que deveria se manifestar está ligado ao problema.”

O general se diz indignado com o que define como “injustiça que está sendo feita com o Exército”. Para ele, a Força está sendo “sumariamente julgada e punida”. Mas Leônidas defendeu a liberdade de expressão.

“Que se respeite a minha opinião. Aqui é uma democracia. A palavra é livre e isso foi graças à nossa intervenção”, reagiu.

Para ele, “embora o discurso seja de que não haverá punição com esta Comissão da Verdade, já estão promovendo a maior punição ao Exército, que está tendo o seu conceito abalado injustamente”.

O ex-ministro do Exército acha que os comandantes militares deveriam falar em defesa da categoria e espera que eles, pelo menos, estejam levando a insatisfação dos oficiais aos demais integrantes do governo em relação à Comissão da Verdade.

Leônidas declarou ainda que os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica “têm de orientar como os militares que forem chamados à comissão devem se comportar”.

Convite.
O general da reserva não acredita que será convidado a depor na comissão.

“Não há razão para eu ser convidado”, declarou ele, citando que no tempo em que o DOI-Codi do Rio de Janeiro esteve vinculado a ele, entre abril de 74 e fevereiro de 77, “nunca apareceu nada nem ninguém que tivesse alegado ter sido torturado”.

E emendou:
“Eu já desafiei que alguém se apresentasse na TV e nunca apareceu nada”.

Nas declarações feitas ao Estado, o ex-ministro - que foi um dos avalistas da posse do presidente Sarney, quando Tancredo Neves morreu, garantindo a transição de um governo militar para o civil - diz que a presidente Dilma Rousseff tem que “esquecer o passado, olhar para a frente” e se preocupar com o futuro do País.

O general Leônidas Pires rechaçou a possibilidade de a Lei de Anistia ser revogada, como um segundo passo, depois de a comissão da Verdade fazer seu trabalho, por conta de pressão das esquerdas.
“Isso não tem cabimento. A não ser que exista vontade expressa do revanchismo.”

Para ele, “é impossível mexer na Lei da Anistia, que foi fruto de um acordo no passado e que já foi chancelada pelo Supremo”.
E emendou:
“Se quiserem fazer pressão no Supremo, o poder moderador tem de entrar em atuação no País”.

Tânia Monteiro, de O Estado de S. Paulo

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