Mesmo depois de preso, o contraventor Carlos Cachoeira mantém prestígio entre os políticos de Goiás. Até agora, nenhum dos cinco deputados goianos que tiveram os nomes envolvidos com ele, além do senador Demóstenes Torres, negou ter mantido relações com Cachoeira.
Alguns exaltam o trânsito do contraventor na alta sociedade goiana e até sua influência política. O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes, não vê constrangimento e declara não se interessar pela forma como o amigo ganha dinheiro.
— Não vou negar a amizade porque o cara foi preso. Eu não era muito próximo, mas o conhecia. Sou o tipo de cara que não fica procurando se a pessoa tem problema na vida dela. Não sei se ele ganhou dinheiro em jogo, se era um negócio legal ou ilegal. Não me interessa. Não sei, não me aprofundei nem quero me aprofundar — disse Jovair.
— É claro que eu o conheço. A cidade de Goiânia, apesar de ser grande, é muito provinciana. As pessoas se encontram em eventos, em festas. Duvido que haja um parlamentar de Goiás que nunca tenha falado com ele. Ele é um empresário muito conhecido no estado.
O deputado admite que procurou Cachoeira para pedir apoio para sua pré-candidatura à Prefeitura de Goiânia.
Diz, porém, que não fez negócios ou recebeu dinheiro de Cachoeira e nega que o "apoio" significasse recursos:
— O que eu queria não era dinheiro, mas apoio político. O apoio dele seria importante, porque ele tem muitos funcionários e muita influência aqui no estado. Ele tem relação com muitos políticos e com vários partidos.
É um cara influente, isso é inegável e está provado por esta operação (da Polícia Federal).
Ontem em São Paulo o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), defendeu investigação interna da Casa e não descartou a criação de uma Comissão Parla mentar de Inquérito (CPI) para investigar os deputados.
— São denúncias graves que chocam a todos e que vão precisar ser investigadas no âmbito judiciário e no âmbito da Câmara dos Deputados e do Senado.
Até agora, o único deputado formalmente denunciado por envolvimento com Carlos Cachoeira é o petista Rubens Otoni (GO). Ele aparece em vídeo no qual Cachoeira promete lhe doar R$ 200 mil por meio de caixa 2.
Otoni assegura que foi vítima de armação. Segundo ele, o vídeo foi gravado em 2004, quando era candidato à Prefeitura de Anápolis e teria procurado Cachoeira em busca de recursos para a campanha:
— Tentaram misturar esse vídeo com a Operação Monte Carlo, mas eles não têm relação. Essa gravação foi feita de maneira clandestina, em 2004, quando procurei vários empresários, inclusive ele, que era dono da Vitapan. Houve a simulação de algo que não aconteceu. Ele não doou nada. Só depois que o dinheiro não veio, percebi que era uma armação — afirmou Otoni que diz ter concordado em receber por caixa 2, na conversa gravada, porque "estava lá de boa-fé".
Hoje à tarde, os deputados Francisco Praciano (PTAM) e Chico Alencar (PSOL-RJ) vão se encontrar com Marco Maia, para pedir que a Casa solicite os autos do processo para definir se devem abrir processos contra os demais citados — como os deputados Stepan Nercessian (PPS-RJ), Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO).
Os três assumiram manter contatos com Cachoeira. Carlos Alberto Leréia disse que não pronunciará até ter acesso à investigação.
Sandes Júnior reiterou que não teme as investigações.
Segundo o deputado, os cheques citados pelos dois em uma conversa gravada pela Polícia Federal faziam parte de uma rescisão profissional. Ao comentar o fato com o empresário, este teria feito uma "brincadeira" ao falar em repartir os recursos.
Paulo Celso Pereira O Globo
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