Por pressão de Dilma e da Fazenda, Selic cai 0,75 ponto. Dois diretores votam contra
Para alegria da presidente Dilma Rousseff, que foi avisada diretamente pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o Comitê de Política Monetária (Copom) pisou no acelerador e cortou a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, a 9,75% ao ano.
O BC não deu bolas para as acusações de que estaria agindo por pressões políticas.
Por cinco votos a dois, a autoridade monetária optou por dar mais estímulos ao crescimento econômico, já que a indústria está agonizando, e por reduzir o diferencial entre o custo do dinheiro no país e no exterior, que empurra o dólar ladeira abaixo.
Os dois votos dissidentes, por recuo de 0,5 0 ponto, foram dos diretores Carlos Hamilton (Política Econômica) e Luiz Awazu Pereira (Assuntos Internacionais).
A queda dos juros já havia sido sacramentada entre Tombini e Dilma na semana passada, antes de ela viajar para a Alemanha.
Mas tudo indicava que a Selic baixaria 0,5 ponto, até para não estimular desconfianças em relação à autonomia do BC. Mas com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2011 — crescimento de apenas 2,7% — e o tombo de 2,1% da produção industrial em janeiro, comprometendo o avanço da economia neste ano, o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda partiram com tudo para cima da autoridade monetária, que respondeu favoravelmente.
Os diretores que votaram por uma baixa mais moderada alegaram que há o risco de o mercado entender que o BC aboliu o compromisso com a meta de inflação deste ano, de 4,5%, adotando um objetivo informal entre 5% e 5,5%, para garantir um avanço do PIB mais próximo de 4% do que de 3%.
Esse argumento se sustenta no fato de as expectativas de inflação para 2013 estarem em alta há várias semanas, justamente porque uma ação mais ousada do Copom estimularia o consumo além do recomendável.
A maioria do Comitê entendeu que vale a pena correr riscos.
Essa é a primeira vez, desde abril de 2010, que a Selic está em um dígito. A pergunta, agora, é para onde ela irá. O Planalto prevê uma taxa de 9% já no próximo mês.
Os mais otimistas falam em juros de 8,75% no primeiro semestre, voltando ao nível de 2009. Esse movimento dos juros foi tema da conversa de Dilma com assessores no avião que a levou para a Alemanha.
As respostas, acreditam os especialistas, poderão vir na ata do Copom a ser divulgada na quinta-feira da próxima semana.
"Se a recuperação da atividade for mais lenta do que se previa, o corte mais agressivo da Selic não será problema. Agora, se a recuperação for forte, poderemos ver a retomada das pressões inflacionarias ao longo de 2013", alertou Maurício Molan, economista-chefe do Banco Santander.
Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a mudança da meta de crescimento da China, de 8% para 7,5% em 2012, afetou a decisão do Copom.
"Essa nova previsão fortalece a posição do BC de que o cenário externo implicará menos inflação", avaliou. "A dúvida, agora, é se o Copom manterá o ritmo de corte ou se já antecipou tudo o que pretendia fazer no ano", disse.
Encargo mais baixo no BB
A política de redução da taxa Selic foi transferida para a economia real imediatamente pelo Banco do Brasil.
Após o anúncio do corte de 0,75 ponto percentual na taxa, a instituição informou que diminuiu o custo de sete operações de crédito — quatro para consumidores e três para empresas.
O crediário do banco caiu de 3,35% ao mês para 3,31%; o financiamento de veículos encolheu de 1,32% para 1,29%.
A decisão de repassar a queda da Selic para os clientes reflete uma ordem do Ministério da Fazenda e da presidente Dilma Rousseff para reativar o canal de crédito para fortalecer a economia.
VICTOR MARTINS » VÂNIA CRISTINO Correio Braziliense
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