"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 14, 2012

IMAGEM E SEMELHANÇA ? Desconjuntada e incoesa

Se o clima na economia não tem estado dos melhores para o governo, o da política azedou de vez agora.

A presidente da República pôs-se a reformar sua base de sustentação no Congresso, lançando-se num campo no qual tem pouco traquejo.

Dilma Rousseff tem tido de agir no varejo porque não tem um projeto de nação que una seus apoiadores e muito menos que mobilize o país.


A crise na política foi deflagrada na semana passada, quando a presidente foi diretamente derrotada com a desaprovação, pelo Senado, do nome de Bernardo Figueiredo para a diretoria-geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

Tratava-se de indicação pessoal dela, ao largo dos partidos; insuficiente, porém.


Com a base congressista em clima de conflagração, o Planalto também teve de desistir de tentar aprovar o novo Código Florestal. Retirou o projeto da pauta de votação da Câmara, com receio de que se repetisse a derrota do ano passado.

Duas mudanças repentinas no ministério em dez dias - Pesca e Desenvolvimento Agrário - reforçam a impressão de que a presidente atira para todo lado na seara política.


Mas o caldo entornou mesmo nos últimos dois dias, com a troca dos dois líderes do governo no Congresso, empreendida pela presidente. Caíram Romero Jucá no Senado e Cândido Vaccarezza na Câmara.

Em ambos os casos, a decisão presidencial equivaleu a comprar briga feia com o PMDB - que já reagiu escalando Jucá para relatar o Orçamento, função-chave para qualquer governo.


"Ao promover trocas nas lideranças do governo no Senado e na Câmara, a presidente Dilma Rousseff incendiou parte da cúpula peemedebista, deixou descontentes setores do PR e do PT e não conseguiu, por ora, atingir seu objetivo:
o fim da crise com a base aliada. (...) A operação foi interpretada ainda como 'estranha' e 'desastrada' por líderes da base aliada", resume
O Estado de S.Paulo.

Dilma está tentando assumir as rédeas da situação depois de ter escalado prepostas que têm se mostrado inaptas para as lides parlamentares, como Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann. Mas, tanto quanto suas subordinadas, a perícia da presidente para a política é nula.

"Dilma segue fiel a seu estilo. Decide quase tudo de maneira solitária. Age de supetão, com aflição e paranoia por causa de vazamentos para a mídia", escreve Fernando Rodrigues na Folha de S.Paulo.

Há tempos a "base aliada" já vinha dando sinais de insubordinação. O mais importante projeto apreciado no Congresso neste ano só foi aprovado porque parlamentares da oposição, por convicção, votaram a favor:
o que cria o fundo de previdência complementar dos servidores federais.


O Funpresp é uma das raras iniciativas do atual governo que mira o longo prazo e busca construir bases mais sólidas e estruturais para o desenvolvimento do país. Durante anos, Lula eximiu-se de patrociná-lo, colaborando para que o desequilíbrio na previdência se acentuasse.

Outra iniciativa de mérito é a decisão, ainda que tardia, de abrir a exploração dos principais aeroportos à iniciativa privada. Por anos, defendida e apoiada pela oposição; por anos, demonizada e impedida pelo petismo.

A penúria em que se encontram nossos aeroportos deixa claro quem sempre esteve com a razão.


Estas duas exceções servem para confirmar a regra:
o governo Dilma não apresentou propostas capazes de unir a nação em torno de um projeto de futuro, nada capaz de mudar a face do país.


A administração federal vive de administrar um varejo de pequenas, e muitas vezes escusas, demandas. Que agenda move a presidente e seus aliados?

Que rumos Dilma ofereceu até agora ao Brasil?


"As crises são geradas sempre por interesses particulares e não por programas ou teses", comenta Merval Pereira n
'O Globo.

Alheia ao furacão político, a presidente diz que seu governo é uma equipe "conjunta e coesa". Só se for na peculiar visão de mundo dela. O que há é uma base parlamentar balofa e amorfa, amalgamada pela gestão cotidiana e errática de um balcão de interesses.

Cada vez que um destes microfeudos é tocado, a casa balança. É provável que, a partir de agora, cresçam as dificuldades do governo no Congresso.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Desconjuntada e incoesa

Nenhum comentário: