Os cubanos foram apresentados ontem à verdadeira Dilma Rousseff.
Assim como os brasileiros, eles puderam constatar que a personagem real difere muito do mito propagandeado pelo marketing.
A presidente do Brasil jogou no lixo a peça de ficção de defensora dos direitos humanos que vinha encenando.
Num país onde é vedado aos cidadãos o simples direito de transpor suas fronteiras quando bem entenderem, Dilma preferiu relativizar seu compromisso, que deveria ser absoluto, com as liberdades civis.
Disse ela:
"Se vamos falar de direitos humanos, vamos falar de direitos humanos em todos os lugares. (...) Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós, no Brasil, temos os nossos".
Quando se quer evitar encarar um problema, tal abordagem serve para qualquer assunto; é o mesmo que virar as costas, dar de ombros ou olhar de lado. Dilma apedrejou a democracia.
Sua atitude equivale a um aval cúmplice ao que a ditadura castrista pratica há 53 anos em Cuba:
um duro regime de exceção em que as pessoas têm de se contentar com migalhas.
"O dia a dia da população ainda é marcado pelas cadernetas onde são anotados os suplementos dados aos habitantes: um pãozinho por dia, oito ovos a cada três meses, meio litro de óleo por mês", relatou O Globo em sua edição de ontem.
Ontem, Dilma encontrou-se com o atual ditador Raúl Castro e, "com muito orgulho", com o sempre ditador Fidel Castro. Passou longe de entrever-se com algum - unzinho que fosse - representante dos opositores ao regime cubano.
Contradisse, na prática, as boas intenções que enunciara ao jornal Washington Post logo depois de eleita:
"Tenho um compromisso histórico com todos aqueles que foram ou são prisioneiros somente por expressarem suas visões, suas opiniões".
Dilma repete agora, em boa medida, a postura de Luiz Inácio Lula da Silva em visita à ilha em 2010. Na ocasião, o então presidente brasileiro confraternizou-se gostosamente com os Castro e, de quebra, ainda aproveitou para comparar os dissidentes cubanos encarcerados a presos comuns do sistema penitenciário brasileiro.
A presidente não está sozinha em sua visão torpe da realidade cubana. Sua atitude encontra eco na de outros integrantes de sua equipe de governo. O chanceler Antonio Patriota, por exemplo, considera que a situação dos direitos humanos em Cuba "não é emergencial".
E Maria do Rosário, secretária de Direitos Humanos, diz que "violação verdadeira é o embargo dos EUA [à ilha]".
"O governo brasileiro põe suas relações fraternais com a ditadura Castro, e todo o simbolismo que tenham para a esquerda do PT, acima do direito universal à liberdade", comenta Dora Kramer n'O Estado de S.Paulo.
Nunca é demais lembrar que o governo cubano se abstém de assinar tratados internacionais sobre direitos humanos e mantém dezenas de pessoas em masmorras.
Ao longo dos últimos meses, Dilma Rousseff pareceu ensaiar alguns passos divergentes em relação à política externa de Lula.
O respeito aos direitos humanos, que jamais foi o forte e nunca esteve no foco da diplomacia companheira, despontava como uma agradável mudança.
O teste da realidade, porém, foi desmentindo a suposta guinada. Basta lembrar que, nas rebeliões árabes do ano passado, o Brasil não se manifestou contra os governos despóticos de Egito e Líbia, derrubados após intensa insurgência de populações oprimidas por décadas de exceção.
O Itamaraty também continua insuflando sua inócua política diplomática voltada a países do Hemisfério Sul e virando as costas às maiores economias do planeta.
Como fez, pateticamente, no sábado passado ao patrocinar um encontro ministerial Índia-Brasil-África do Sul à margem do Fórum Econômico Mundial em Davos.
A passagem de Dilma Rousseff por Cuba recoloca o respeito às liberdades pelo PT de volta ao seu trilho original:
direitos humanos são aspecto menor para o partido e seus seguidores, que preferem o silêncio reverente diante de ditadores à defesa da democracia.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Pedrada na democracia
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