"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 20, 2012

Expulsem o mastodonte da Esplanada

Maioria no Congresso Nacional não é sinônimo de governabilidade. Menos ainda se os interesses dos aliados se colocam à frente dos da nação.

A multiplicação de cargos para a acomodação política é pecado original de governos mais voltados a ouvir as vozes que fazem sua defesa nos gabinetes refrigerados do que as das ruas.

No caso, para ambos os lados, pouco importa faltar médico nos hospitais e professores nas escolas, desde que haja ministérios, autarquias e empresas suficientes para ratear entre os amigos do poder e enchê-los de amigos dos amigos do poder.

Esse pacto antidemocrático e dissimulado desafia a República.
Planejada em um dos períodos mais ousados da história do país em termos de desenvolvimentismo, a era JK, a Esplanada dos Ministérios se tornou acanhada diante do gigantismo dos Três Poderes.

Nada ingênuos, Lucio Costa e Oscar Niemeyer sabiam que ali não caberia toda a máquina pública federal. Deixaram espaço para anexos nas vias paralelas ao Eixo Monumental — já tomado; e criaram setores de autarquia — igualmente esgotados.

Hoje, até prédios comerciais abrigam órgãos da União.Fosse a questão apenas física, Brasília certamente ainda encontraria terrenos para resolvê-la. Um problema mais grave é conseguir espaço para o mastodonte no bolso mirrado do brasileiro. Outro, administrar a infinidade de órgãos e servidores.

O descontrole atingiu ponto tal que virou um desafio achar autoridade capaz de nominar todos os ocupantes do primeiro escalão — e a dificuldade não está na rotatividade, apesar das sete baixas do primeiro ano de Dilma Rousseff, mas no exagerado número de ministros: 38.

Reuni-los é um tormento improdutivo; ensaiá-los para tocarem como orquestra afinada, uma improbabilidade.

A presidente, contudo, encontra-se em momento ímpar do mandato. As eleições municipais de outubro a obrigam a mexer no tabuleiro do xadrez governamental. Fernando Haddad deixou a pasta da Educação para disputar a prefeitura paulistana.

Aloizio Mercadante foi para o lugar dele, liberando o posto em Ciência e Tecnologia para Marco Antonio Raupp, físico que presidia a Agência Espacial Brasileira. Até aqui, a troca de cadeiras segue o script tradicional.

Cabe à chefe do Executivo imprimir marca original à reforma e dar um xeque-mate no império da irracionalidade.

Dilma Rousseff teve sua candidatura à Presidência da República construída sobre uma imagem de gerente competente. Eleita, convidou a assessorá-la o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, a quem entregou a coordenação da Câmara de Políticas de Gestão.

Para ele, "é pacífico que é impossível administrar com 40 (são tantos, que errou a conta ou quis indicar o absurdo, mostrando que não importam dois a mais ou a menos) ministérios". Por que, então, não modernizar o Estado, privilegiando a meritocracia e a racionalidade?

Com popularidade crescente, cabe à presidente costurar o apoio político necessário ao enxugamento da máquina estatal.

Grandes potências mundiais, Estados Unidos, Alemanha e França têm 15 ministérios cada uma.
Não precisamos de 38.

Correio Braziliense

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