"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 04, 2011

Indústria recua e antecipa PIB ruim

O violento tombo registrado pela indústria em outubro, o terceiro mensal consecutivo, sacramentou o mau desempenho da economia brasileira neste fim de ano.

A produção caiu 0,6% em comparação a setembro, e de forma generalizada, com queda em 20 dos 27 setores pesquisados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Além de reforçar a certeza de que o Produto Interno Bruto (PIB) entre julho e setembro ficou negativo — o resultado oficial só será divulgado na terça-feira —, o recuo mostrou o que a equipe de Dilma Rousseff não queria ver:
o último trimestre de 2011 também será mais fraco do que se desejava.

Não à toa, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ciente dos números ruins, tentou se antecipar à notícia desfavorável com o anúncio do pacote de desonerações, feito na quinta-feira.

Embora tenha medidas voltadas ao consumidor, os economistas são unânimes na avaliação de que o pacote tem como única preocupação sustentar a produção. Tanto que até as massas alimentícias e o pão comum foram desonerados.

Na retração de outubro, a indústria de alimentos produziu 5% menos do que em setembro, anulando o crescimento de 3,1% registrado anteriormente. Outros setores vitais da economia, como os de siderurgia e de material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicação também reduziram a fabricação em 1% e 5%, respectivamente.

Para o economista-chefe da Corretora Gradual, André Perfeito, o alerta mais preocupante dado pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) é a forte queda da produção de bens de capital, que recuou 1,8% entre setembro e outubro.

"É perigoso porque é um dos canais mais claros de transmissão da crise. Significa que o investimento parou", analisou.
O economista ressaltou ainda que, ao contrário do que aconteceu até o meio do ano, na reta final de 2011 as importações de maquinário também esfriaram.


Dificuldade

Na comparação com outubro de 2010, o desempenho da indústria foi ainda pior e recuou 2,2%. Foi a segunda taxa negativa consecutiva e, assim como na comparação mensal, disseminada em 17 dos 27 setores pesquisados. Nos últimos 12 meses, a produção ainda mantém avanço de 1,3% em relação a igual período anterior.

Apesar da pujança do mercado doméstico no Brasil, responsável por sustentar o desempenho da indústria e do restante da economia durante a primeira metade do ano, o cenário externo adverso pesa cada vez mais e aumenta a dificuldade do setor produtivo em manter aquecidas as turbinas.

"Você tem um clima de incerteza que afeta o consumo no país. As pesquisas mostram níveis de estoques elevados e desconfiança de empresários e clientes", declarou André Macedo, analista do IBGE.

Felipe França, economista do Banco ABC Brasil, lembrou que os efeitos externos na indústria não ocorrem por acaso. "É o setor que está mais exposto às oscilações econômicas de fora do país, seja porque elas afetam a procura por produtos brasileiros, seja porque encarecem os insumos usados para produzir aqui ou, ainda, reduzem as linhas de financiamento da produção", comentou.

Diante do cenário desfavorável, os economistas já preveem que a indústria ficará estagnada em 2011, depois de subir mais de 10% em 2010. França destacou que, mesmo que o setor apresente uma leve expansão em novembro e dezembro, o crescimento no ano não irá além de 0,5%.
"Isso não é nada. Não salva a indústria."


Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú-Unibanco, o resultado de outubro derrubará ainda mais a perspectiva de crescimento do PIB no último trimestre.
"Aumentou a chance de ser mais fraco que nossa projeção de 0,5%", calculou.

Gabriel Caprioli Correio Braziliense

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