A maior parte dos investimentos cabe às distribuidoras, que preveem desembolsar quase R$ 3,4 bilhões em obras, incorporando critérios e procedimentos mais rigorosos de segurança energética para a realização do torneio.
Uma força-tarefa constituída pela União, governos estaduais e concessionárias do setor elétrico identificou a necessidade de investimentos adicionais no valor de R$ 4,7 bilhões para blindar as 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 contra blecautes ou imprevistos no suprimento de energia durante o evento. O dinheiro sairia das próprias empresas.
A maior parte cabe às distribuidoras, que preveem desembolsar quase R$ 3,4 bilhões em obras necessárias para reforçar o sistema, incorporando critérios e procedimentos mais duros de segurança energética para a realização do torneio.
O diagnóstico da força-tarefa aponta risco de déficit de 650 megawatts (MW) no suprimento de energia a Manaus, caso haja atraso na entrada em operação da linha de transmissão que liga a cidade à hidrelétrica de Tucuruí (PA).
A linha já enfrentou atrasos na execução e agora está prevista para junho de 2013. Se não sair, exigirá a geração de energia térmica adicional.
Nas demais cidades-sede, a situação, apesar de considerada mais tranquila, ainda requer investimentos bilionários.
No Rio, por exemplo, a Light pretende trocar todos os equipamentos de distribuição com "elevado tempo de uso" até a Copa de 2014. Também recebeu a recomendação de antecipar, em três anos, a construção de nova subestação na zona oeste.
Haverá a implantação de "eletroanéis" em Belo Horizonte,
Brasília
e Cuiabá. São Paulo propôs a mesma solução.
No sistema radial, ainda presente em muitas cidades, a eletricidade só tem um caminho para ser distribuída de um ponto a outro.
Os eletroanéis interligam as principais linhas e subestações, criando rotas alternativas de alimentação da rede e o restabelecimento mais rápido da energia quando há interrupção em um determinado ponto.
Parte dos investimentos será financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As distribuidoras afirmam que as regras previstas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o terceiro ciclo de revisão tarifária comprometem o fluxo de caixa das empresas e colocam esses financiamentos em risco, prejudicando as obras.
"Os financiamentos foram fechados considerando certas receitas, agora não mais seguras, como garantia", diz Nelson Fonseca Leite, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
Sob coordenação do Ministério de Minas e Energia, oito grupos de trabalho diferentes estudaram desde dezembro as ações necessárias para a Copa. Um relatório foi apresentado em e julho. Participaram o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a Aneel, secretarias estaduais de Energia, distribuidoras e empresas de geração e transmissão, cujas instalações atendem as cidades-sede.
Os critérios adicionais de segurança levaram à necessidade de obras principalmente em quatro capitais:
São Paulo,
Rio,
Belo Horizonte
e Curitiba.
A Fifa exige que os estádios recebam energia elétrica de pelo menos duas fontes distintas.
Na realização dos jogos e sua transmissão por TV, de acordo com a EPE, os estádios e centros de imprensa serão atendidos também por geradores próprios e especiais, exclusivos para essas finalidades.
A distribuidora gaúcha CEEE recebeu orientação para substituir os módulos de alimentadores e transformadores na subestação Porto Alegre 4, responsável pela alimentação de energia do estádio Beira-Rio, devido à "obsolescência e ocorrência de danos" em parte dos equipamentos.
Além do diagnóstico de obras, o relatório cita 26 recomendações, que incluem a agilização dos processos de outorga de concessão das linhas de transmissão consideradas "estratégicas" para a Copa, a possibilidade de antecipação das revisões tarifárias de distribuidoras pela Aneel e a manutenção de estoques de combustível para uso emergencial na geração térmica durante o evento.
É o caso, por exemplo, da termelétrica Mário Covas, em Cuiabá. Ela pode operar tanto com gás quanto com óleo diesel - a segunda possibilidade é muito mais cara -, mas funciona precariamente desde que a Bolívia interrompeu o fornecimento de gás, em agosto de 2007. Às companhias distribuidoras e transmissoras, foi recomendado promover campanhas contra queimadas nas faixas de passagem dos linhões, especialmente no período da Copa do Mundo.
Os valores de investimentos identificados pela força-tarefa não incluem as obras já previstas pelas concessionárias em decorrência do crescimento da economia, mesmo ligadas indiretamente à Copa.
Especialistas calculam que só a inauguração de 200 novos hotéis nas cidades-sede, por exemplo, acrescentará ao sistema elétrico demanda equivalente a uma cidade com 100 mil habitantes. A estimativa toma como base que cada hotel teria cem quartos, com potência média de 5 kilowatts (kW).
Daniel Rittner | Valor Econômico -
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