Continuamos nos perguntando por que os brasileiros não vão para as ruas protestar contra a onda de corrupção que assola o país. Cadê os nossos "indignados"? É como se a sequência interminável de escândalos tivesse anestesiado as pessoas, principalmente os jovens.
Nada mais choca.
Descobre-se que 70% das verbas desviadas são das áreas de Saúde e Educação, e é como se esse crime hediondo fosse natural.
A empresa de um rapaz de 27 anos, filho de ministro, cresce incríveis 86.500% em dois anos, e a gente acha graça, faz piada. Tudo bem que a presidente Dilma está tendo a coragem de promover uma faxina num dos maiores antros de desvio do dinheiro público:
o Ministério dos Transportes. Até o momento em que escrevo, 17 já foram demitidos.
Mas isso está sendo feito agora, e a pasta foi entregue ao PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto há tanto tempo que o dinheiro desviado daria para asfaltar até a floresta amazônica (aliás, é bom não dar a ideia).
Para quem acha que protestar não adianta, há um pequeno exemplo contrário que acaba de vir de Nova Friburgo.
Depois que os repórteres Antonio Werneck e Waleska Borges mostraram que mais de dez inquéritos tinham sido instaurados na cidade para apurar várias irregularidades no uso dos R$10 milhões de verbas federais recebidas, o prefeito e seis secretários, em entrevista coletiva, tentaram desmentir as denúncias "maldosas e equivocadas" que eles atribuíam não ao Ministério Público, mas ao GLOBO. Um secretário chegou a afirmar que "nenhum recurso de reconstrução chegou ao município".
A resposta foi dada no dia seguinte pela indignação de "centenas de friburguenses que saíram às ruas para protestar", como noticiou o jornal "A Voz da Serra". O resultado é que no dia seguinte foi aprovada na Câmara de Vereadores a CPI que vinha sendo protelada há três meses "para investigar a utilização dos R$10 milhões repassados ao município para serviços de limpeza" - justamente aqueles que as autoridades negavam ter recebido e malversado.
Em seguida, a Polícia Federal fez uma devassa em documentos da Prefeitura. Fiquei orgulhoso da cidade que embalou minha adolescência.
Reclama-se que só evangélicos, gays e adeptos da maconha fazem passeatas, numa espécie de protestos, digamos, a favor.
Por que não uma contra a corrupção?
Já me contentaria com uma faixa em cada uma das manifestações:
"A favor de Jesus e contra a roubalheira";
"A favor da maconha e contra a corrupção";
"A favor dos gays e contra os ladrões do dinheiro público".
Houve um tempo em que uma onda de corrupção muito menor foi chamada de "mar de lama" e terminou em tragédia. Agora, um "oceano de lama" está mais para pastelão, sem direito sequer a uma simbólica torta de espuma, como a destinada a Rupert Murdoch em Londres.
Zuenir Ventura O Globo
Nada mais choca.
Descobre-se que 70% das verbas desviadas são das áreas de Saúde e Educação, e é como se esse crime hediondo fosse natural.
A empresa de um rapaz de 27 anos, filho de ministro, cresce incríveis 86.500% em dois anos, e a gente acha graça, faz piada. Tudo bem que a presidente Dilma está tendo a coragem de promover uma faxina num dos maiores antros de desvio do dinheiro público:
o Ministério dos Transportes. Até o momento em que escrevo, 17 já foram demitidos.
Mas isso está sendo feito agora, e a pasta foi entregue ao PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto há tanto tempo que o dinheiro desviado daria para asfaltar até a floresta amazônica (aliás, é bom não dar a ideia).
Para quem acha que protestar não adianta, há um pequeno exemplo contrário que acaba de vir de Nova Friburgo.
Depois que os repórteres Antonio Werneck e Waleska Borges mostraram que mais de dez inquéritos tinham sido instaurados na cidade para apurar várias irregularidades no uso dos R$10 milhões de verbas federais recebidas, o prefeito e seis secretários, em entrevista coletiva, tentaram desmentir as denúncias "maldosas e equivocadas" que eles atribuíam não ao Ministério Público, mas ao GLOBO. Um secretário chegou a afirmar que "nenhum recurso de reconstrução chegou ao município".
A resposta foi dada no dia seguinte pela indignação de "centenas de friburguenses que saíram às ruas para protestar", como noticiou o jornal "A Voz da Serra". O resultado é que no dia seguinte foi aprovada na Câmara de Vereadores a CPI que vinha sendo protelada há três meses "para investigar a utilização dos R$10 milhões repassados ao município para serviços de limpeza" - justamente aqueles que as autoridades negavam ter recebido e malversado.
Em seguida, a Polícia Federal fez uma devassa em documentos da Prefeitura. Fiquei orgulhoso da cidade que embalou minha adolescência.
Reclama-se que só evangélicos, gays e adeptos da maconha fazem passeatas, numa espécie de protestos, digamos, a favor.
Por que não uma contra a corrupção?
Já me contentaria com uma faixa em cada uma das manifestações:
"A favor de Jesus e contra a roubalheira";
"A favor da maconha e contra a corrupção";
"A favor dos gays e contra os ladrões do dinheiro público".
Houve um tempo em que uma onda de corrupção muito menor foi chamada de "mar de lama" e terminou em tragédia. Agora, um "oceano de lama" está mais para pastelão, sem direito sequer a uma simbólica torta de espuma, como a destinada a Rupert Murdoch em Londres.
Zuenir Ventura O Globo
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