"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 06, 2011

BRASIL : A CZARINA E O "RASPUTIN" ÉBRIO.


Intróito :

Místico russo nascido em Pokrovskoie, Sibéria, que exerceu forte influência na corte de São Petersburgo, onde se tornou favorito da czarina Alexandra Feodorovna, esposa de Nicolau II. Filho de camponeses pobres, ganhou na juventude o apelido de Rasputin, o Depravado.

Considerado monge, sem ser ordenado, adotou uma seita que chamava de flagelantes, e após peregrinar ao monte Atos, na Grécia, reapareceu em sua terra com a fama de poder curar doenças mas, ante a ameaça de ser tomado por herege, tornou-se andarilho.

Alexandra e Nicolau

Em pouco tempo a capital tomou ciência da importância do "profeta". Ministros, generais, os grandes do império, aventureiros, bajuladores e oportunistas de todos os calibres enfileiravam-se atrás do bruxo para conseguir algum favor real. Nunca se soube ao certo qual era o critério das escolhas de Rasputin.

Os relatórios que o casal recebia narravam intermináveis aventuras amorosas e um sem fim de bebedeiras, mas isso em nada afetava o seu prestígio. Ao contrário, estar de bem com o starets era adoçar a boca dos monarcas. Nenhuma das intrigas em que envolviam Rasputin tinham o poder de abalar a confiança cega que ele despertara em Alexandra e Nicolau.

O fato é que o enorme império dos Romanov, o maior em extensão em toda a Terra, passou a ser indiretamente regido por um bruxo.
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Ao intervir no governo da presidente Dilma, Lula fez o que tanto queria:
ser uma espécie de Rasputin político de nossa czarina.
É difícil dizer quem se saiu pior nesse episódio:
ele, como o aventureiro russo, que se dizia purificador de ambientes, ou ela, que aceitou tão estranha taumaturgia.

Ambos foram criticados severamente, pelo espetáculo que ofereceram ao Brasil e ao mundo.

Por sorte de Dilma, felizmente, dois de nossos partidos comunistas estão alinhados, e bem, com o governo. Seus Lenines e Trotskis apóiam incondicionalmente a czarina.

Quem abriu as baterias mais fortes contra o ex-presidente foi seu ex-ministro Ciro Gomes. Este, induzido por Lula, transferiu o título de eleitor no Ceará para São Paulo, acreditando no apoio lulista à sua candidatura a governador desse estado, em 2010.

Não sem razão, Ciro condenou o quixotismo intervencionista de Lula, que, a seu ver, fragilizou a criatura por ele mesmo lançada candidata e eleita presidente, como a pessoa mais capacitada a governar o país.

Dilma nasceu só da cabeça de Lula, não de uma concha de madrepérola, como nas lendas gregas, que ele achasse na praia de Guarujá.


Ele impôs a candidatura de Dilma a seu partido e agora, caprichosamente, age como se reparasse erro de sua pupila. Mas, ao fazê-la defender Palocci, dá um passo arriscado na política brasileira, perigoso para os dois.

Ao se expor, exageradamente, pró-Palocci, como salvador da pátria, o ex-presidente não tem a quem responsabilizar por esse fracasso, que põe em xeque sua suposta competência em escapar incólume dos erros que cometeu, quando na Presidência.

Sobre os ganhos espantosos da consultoria de Palocci, a pressão de Lula sobre Dilma e desta sobre o Congresso, reavivou, na memória popular, o caso do caseiro que denunciou as estroinices do ex-ministro, forçando o ex-presidente a demiti-lo.

Agora, porém, o lado cantinfliano e trapalhão de Lula, em fato muito mais grave, faz — quem diria? — exatamente o contrário e sai em defesa fervorosa de Palocci. Francamente!

O mito de sua suposta infalibilidade em acertos dá sinais de desmilinguir-se, inapelavelmente, e ameaça levar de roldão o governo Dilma.

Rubem Azevedo Lima/Correio Braziliens

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