
Quer, com isso, impedir uma disseminação de prejuízos pela economia. Na crise financeira de 2008, quando o dólar saiu de R$ 1,56 em agosto para R$ 2,50 no início de dezembro, Aracruz Celulose, Sadia e algumas outras firmas amargaram rombo de US$ 10 bilhões por estarem altamente expostas à divisa norte-americana — na época, somavam dívidas de US$ 38 bilhões e não usavam nenhum mecanismo de proteção.
A preocupação do governo tem se elevado porque, da crise de 2008 para cá, o endividamento de companhias no exterior avançou 45,6% e chegou a US$ 89,6 bilhões.
Pelo menos até agora, manter débitos dolarizados tem se mostrado um bom negócio, principalmente se a empresa tem sede em países emergentes, nos quais o forte fluxo de recursos faz as moedas locais se valorizarem.
“É preciso cuidado, o governo não regula empresa nesse aspecto. O que se faz, nesse caso, é alertar e lembrar as pessoas que a economia não é uma linha reta”, disse um técnico graduado da equipe econômica.
No Brasil, a tendência de queda do dólar deve prevalecer ou pelo menos se manter estável. Com a elevação da taxa básica de juros (Selic) para 12% ao ano em abril, voltou a ficar interessante trazer dinheiro para o país, converter em reais e aplicar em renda fixa, mesmo com a cobrança de 6% titulada de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
A dinâmica é simples, quanto mais dinheiro vem para o Brasil, mais o real se fortalece e mais a dívida feita lá fora encolhe.
As empresas ganham tanto com os juros altíssimos no país quanto com a desvalorização do dólar.
A Petrobras, por exemplo, obteve no primeiro trimestre do ano, ganho adicional de R$ 2 bilhões apenas porque 80% dos seus débitos são em moeda estrangeira, principalmente em dólar.
Proteção
Os bancos também estão fazendo a festa no exterior.
Apenas de dezembro do ano passado a março de 2011, as dívidas do setor aumentaram 18,2%, ao chegar a US$ 121,9 bilhões — o equivalente a quase 30% do patrimônio liquido de todas as instituições financeiras do país juntas.
A situação só não é tão preocupante quanto a das empresas, porque os bancos são obrigados a fazer operações de proteção para não ficarem expostos às oscilações de divisas estrangeiras.
“No caso dos bancos, a exposição cambial é pequena. Se houver mudança cambial, não perdem nem ganham”, disse o técnico do governo.
Ele destacou que, neste momento, o Brasil vive um cenário ambíguo e o Banco Central e o Ministério da Fazenda não querem esperar um lado prevalecer, sobretudo diante da queda de 10% registrada pelas commodities (produtos básicos com preços internacionais) em pouco mais de 20 dias.
Os preços dessas mercadorias estão diretamente ligados è liquidez da economia (quantidade de dinheiro em circulação) e à valorização ou depreciação do real.
Controle de capitais divide o governo
Com o elevado endividamento em dólar do setor privado brasileiro e a entrada expressiva de dólares no país, o governo estuda adotar mais medidas para segurar a cotação da divisa norte-americana.
Algumas alas da equipe econômica começam a defender, no limite, um controle mais severo de capitais, com a obrigatoriedade de permanência dos recursos algum tempo em território nacional.
De um lado, o Banco Central resiste à ideia da quarentena e tenta apresentar outras soluções para conter a valorização do real.
Do outro, o Ministério da Fazenda, em contatos com investidores, afirma que a iniciativa pode ser adotada a qualquer momento.
A dúvida dos analistas é se o ministro Guido Mantega quer comandar o mercado “no gogó” ou se a ameaça é real.
Victor Martins Correio Braziliense
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