"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 10, 2011

A CONSEQUÊNCIA DE DOIS GUMES : Metade dos brasileiros já gasta mais do que ganha

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A grande oferta de crédito levou o brasileiro a gastar mais do que ganhou em 2010. Segundo pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas), o gasto médio mensal do consumidor foi de R$2.171; já sua renda não passou de R$2.146.
Pela sondagem, 53% dos entrevistados disseram estar nessa situação - que não era registrada pelo conjunto da população desde 2005.

O buraco mensal médio de R$25 no orçamento foi coberto por empréstimos. Encomendada às consultorias Nielsen e Kantar WorldPanel, a pesquisa teve amostra de 8.200 lares em cidades com mais de 10 mil habitantes.

- O desejo de consumo, aliado à oferta de financiamentos, fez o consumidor se embebedar no crédito - disse Martinho Paiva, diretor de Economia e Pesquisa da entidade.

A pesquisa mostra que, em relação a 2009, os gastos mensais apresentaram uma variação de 16%. Já a renda média mensal subiu menos, 13%.

Desembolso das empresas com juros foi de R$42,4 bi

Enquanto o desembolso das classes D e E avançou 14%, os grupos de renda média e alta aumentaram o consumo entre 10% e 13%. Para a Apas, até o fim do ano, a população pertencente à classe C supera pela primeira vez aquela das classes D e E. Hoje 38% da população, a classe C deve chegar a 41%, contra 36% das D e E e 23% das A e B.

A entidade não vê um descontrole de gastos. O cenário é de equilíbrio do orçamento.
- O próprio consumidor corrigirá essa rota - disse Sussumu Honda, presidente da Apas.

A forte expansão das operações de crédito em 2010 fez os brasileiros desembolsarem R$54,4 bilhões apenas para pagar juros dos financiamentos nos primeiros quatro meses do ano, segundo a Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP).

Desse total, R$4 bilhões resultaram da alta dos juros médios dos financiamentos bancários no período, que passaram de 38% ao ano no fim de 2010 para 45% ao ano em 30 de abril.

- Essa alta é relevante, pois R$4 bilhões são um quarto de todo o desembolso previsto para o Bolsa Família este ano - diz Fábio Pina, economista-chefe da Fecomércio-SP.

Supondo que os bancos não repassem os três aumentos da Selic desde janeiro, o aumento dos juros no primeiro quadrimestre resultou em uma despesa adicional às famílias superior a todos os repasses previstos pelo programa oficial do governo, de R$15 bilhões este ano.

- Esse valor crescerá, pois os financiamentos antigos estão sendo quitados, e os novos são contratados a juros de 45% ao ano - diz Pina, que estima que a carteira de financiamentos bancários a pessoas físicas estaria em torno de R$600 bilhões atualmente; em 2010, o brasileiro gastou R$129,2 bilhões em juros.

Entre as empresas, segundo a Fecomércio, os gastos com juros chegaram a R$42,4 bilhões de janeiro a abril. Juntas, famílias e empresas desembolsaram com os juros R$96,8 bilhões.
Aguinaldo Novo e Ronaldo D"Ercole O Globo

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