"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 03, 2011

44 MILHÕES SEM VOZ NO CONGRESSO. É PRECISO URGENTEMENTE FAZER OPOSIÇÃO.

Se o país mantém sua economia em um ritmo razoável, que permite aprovação raspando, com nota cinco; a política vai muito mal. É curioso o descolamento da política em relação à economia. Lembra um pouco, guardadas às devidas proporções, o período do milagre brasileiro, durante o regime militar.

E se a ausência da política - devido a repressão - acabou mostrando que sem discussão não há nenhum crescimento sustentável da economia (basta recordar a crise do milagre), o mesmo caminha para acontecer na Presidência Dilma.


A economia dá sinais de que o ciclo iniciado em 2005 deu tudo o que tinha de dar. Caminhamos, caso nada mude, para dar um grande salto para trás. Como em um jogo de ludo, devemos voltar para a "casa" 1994, antes do Plano Real. Gastos públicos sem controle, falta de um projeto econômico e inflação, combinado com taxas espasmódicas de crescimento.

O mercado está descrente. Recebe cada declaração do ministro Guido Mantega com a mesma confiança quando a ministra Zélia Cardoso de Mello dizia, no governo Collor, que tudo na economia estava caminhando bem. E quanto mais o governo insiste que a inflação está sob controle - desmentindo a realidade - maior a desconfiança.

Apesar da falta de rumo na economia, dos sucessivos escândalos - mantendo a média da Presidência anterior, diga-se -, da incompetência administrativa, da inexistência de uma política estratégica e de tantas outras coisas, a presidente Dilma governa absolutamente tranquila.

Entregou para os oligarcas, sempre sedentos para saquear o Erário, rendosos cargos; usa e abusa do BNDES, oferecendo, como uma rainha absolutista, fortunas ao grande capital parasitário; soldou uma aliança com as grandes construturas - importantíssimas para financiar os partidos da base governamental, especialmente o PT - danosa ao interesse público, e cooptou as centrais sindicais, que foram adquiridas por um valor baixo, comparado ao que custou o apoio do grande capital.


Se durante o auge econômico do regime militar a repressão impedia a existência da política, hoje o quadro é distinto. A primeira diferença é que o país caminha a passo de tartaruga, a segunda - e mais importante - é que vivemos em um regime de plenas liberdades democráticas.

Agora é o abandono da política que não possibilita uma saída para a economia. O mais incrível é que o governo agrega apoio não pela sua competência política ou econômica, mas pela recusa consciente da oposição ser oposição. O mérito, portanto, não é produto da eficiência da presidente. O problema da oposição reside nela própria.


Fernando Henrique Cardoso escreveu um longo ensaio propondo a discussão pública dos rumos da oposição. Como, especialmente, o PSDB, seu partido, recebeu o desafio? Negando-se a discuti-lo.
O autoproclamado líder da oposição parlamentar, Aécio Neves, disse:
"Vejo o futuro da oposição numa ótica mais otimista."

Pela declaração é possível concluir que o senador não leu o ensaio.
Ou confundiu o tema com um livro de autoajuda.
O mais triste é que ele se julga, desde já, o candidato oposicionista à Presidência em 2014.

Como?
O que pensa sobre o Brasil?
Consegue debater seriamente os principais pontos do ensaio do ex-presidente?
A resposta é óbvia: não.
Ele é a mais fiel representação do primarismo da oposição brasileira: personalista, vazia de ideias e pouca disposta a combater o governo.


O desafio para qualquer oposição em um regime democrático é ter votos. A oposição brasileira, no segundo turno, teve 44% dos votos válidos. Isso após uma campanha errática e despolitizada.
O problema, portanto, não é ter votos. A oposição tem - e muitos.

A questão é outra: quer agir como na República Velha, garantir um canal privilegiado com o governo e só no momento eleitoral se apresentar para os eleitores. Essa estratégia pode até dar certo, mas na esfera estadual e onde não existe debate político. No campo federal está fadada ao fracasso.


Em meio a este vazio, os eleitores oposicionistas mais politizados ficam sem saber para onde ir. Não têm representação partidária. Seus representantes no Congresso Nacional estão silenciosos. Como explicar que o senador mais votado do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, até hoje não tenha feito um pronunciamento analítico sobre os rumos da oposição?

E como justificar que José Serra, que recebeu 44 milhões de votos, continue em uma espécie de silêncio obsequioso? Se a oposição não tem líderes, como fazer oposição?


Em política não existe vazio.
O PT sabe muito bem disso.
E vai ocupando todos os espaços na máquina pública e desde já estabelecendo alianças eleitorais para 2012.
Age profissionalmente, sem piedade ou sentimento.
O que vale é ampliar o poder, custe o que custar.
E custa muito, como sabemos.

As empresas e os bancos estatais estão entregues aos partidos da base. O PT reservou para si o que é mais lucrativo, e que permita estabelecer a conexão com o grande capital, negócio muito bom para ambos os lados e péssimo para o Brasil.


Para o governo, quanto menos política, melhor. Quer banalizar o debate. Não precisa convencer politicamente ninguém. Para os parlamentares usa o método delubiano. Quem tem de fazer politica é a oposição.
Não é possível assistir um governo destruindo o que foi edificado com tanto sacrifício.

Não é plausível recusar a construir canais efetivos de participação da sociedade civil nos partidos (que sequer ocorre nos momentos pré-eleitorais).


Marco Antonio Villa O Globo

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente a oposição se entregou ao governo federal com malas e bagagens, traindo sem pestanejar os eleitores que nela votaram.Estamos órfãos de homens públicos corajosos, honrados, decentes, que efetivamente possam representar os anseios dessa parcela de brasileiros que não acha nenhuma graça em ter governo petista afundando o Estado brasileiro, não só pela mais absoluta incompetência na administração da coisa pública, porém muito mais pela má fé e falta de seriedade com que a administra, pois gasta recursos que saem do bolso do contribuinte brasileiro que, a duras penas trabalha produzindo riquezas que vão para os cofres públicos, para que o governo de plantão os utilize fazendo propaganda enganosa, mentirosa, desonesta para mostrar um país de faz-de-conta, um quase paraíso na terra, e que ao mesmo tempo esconde o país real, aquele da saúde pública precária, da insegurança absoluta, da educação precária e dos níveis astronômicos de corrupção.
Enquanto isso governadores e demais políticos da “oposição”, fazem tudo, inclusive se pôr de joelhos perante os petistas, menos oposição.