"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 15, 2011

ONDA DE OPORTUNISMO

O Congresso Nacional tem se transformado em uma usina de fanfarronismo cada vez mais competente e menos convincente para boa parte da sociedade brasileira que não acredita em histórias da carochinha.

A reboque da tragédia de Realengo, parlamentares mais experientes no uso dos holofotes logo se anteciparam e propuseram novo plebiscito do desarmamento, isso sem ter nem sequer conseguido fechar a CPI do Tráfico de Armas, de 2005.

Dois anos de depoimentos e gastos vultosos de verba pública serviram, apenas, passados seis anos do início dos trabalhos, para a apresentação de 18 projetos que disciplinariam o comércio e o uso de armas de fogo no país, e investigariam organizações criminosas, mas nenhum deles, até o fim de 2010, havia sido aprovado.

Agora, enquanto as manchas de sangue de 12 inocentes ainda estão grudadas na memória do brasileiro, o Senado e a Câmara dos Deputados dão-se as mãos em mais um espetáculo de pura gabolice, para não dizer esperteza ou cinismo, e defendem novas regras para o desarmamento, em vez de se preocuparem em lutar por mais segurança —setor que, assim como o da saúde, é um dos calcanhares de aquiles da nação.

Não se trata aqui de ser contra ou a favor do desarmamento, mas de se tentar analisar a situação a partir da realidade do país.

Nos Estados Unidos, onde existe um arsenal de 240 milhões de armas nas mãos de civis, numa população de cerca de 304 milhões de habitantes, mata-se com arma de fogo cinco vezes menos do que no Brasil — a proporção é de quatro mortes por 100 mil habitantes lá, contra 20 assassinatos por 100 mil aqui.

Levando-se em conta que cerca de 17 milhões de brasileiros (contra 240 milhões nos EUA) estão nas ruas de arma em punho ou as guardam em casa, percebe-se que algo nas políticas de segurança anda errado. Muito errado.

O que se pretende mostrar com esses números é que há muita demagogia e oportunismo no grito em favor de um novo plebiscito, enquanto as autoridades do Executivo e do Judiciário e os representantes do povo brasileiro no Congresso cruzam os braços em relação a fazer algo de concreto e duradouro em defesa da sociedade.

Será que o Congresso teme o novo e receia lutar contra antigas instituições, como dizia Maquiavel?

A mídia, por seu lado, peca com a ausência de um espírito crítico mais contundente e por massacrar a população com imagens do assassino de Realengo.
É de se indagar:
será que essa estratégia não poderia influenciar a reedição da tragédia?

carlostavares.df@dabr.com.br

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