O sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, foi surpreendido pela elevação do rating soberano do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch em um nível acima do piso do grau de investimento, de BBB- para BBB.
Para ele, a decisão chegou em um momento "estranho".
"Não estávamos esperando uma melhora no rating neste momento, inclusive porque a política macroeconômica do País tem piorado, principalmente no último mês", afirmou.
Na opinião de Jensen, embora a Fitch avalie a situação econômica do País de um ponto de vista de longo prazo, não havia motivos para que a elevação do rating ocorresse neste momento.
"Mesmo que eles estivessem pensando em melhorar a classificação do Brasil, poderiam ter esperado mais um pouco. O Brasil tem cometido alguns pecados nas últimas semanas."
Jensen disse que a presidente Dilma Rousseff iniciou o governo com um discurso e ações consistentes, o que pode ter influenciado a decisão da agência.
Porém, ele enfatizou que, no último mês, o tripé macroeconômico tem "fraquejado".
"Se a elevação do rating tivesse vindo depois do primeiro mês do governo, não surpreenderia tanto. Mas as incertezas são bem maiores hoje do que eram há dois meses e, dado o último mês e as últimas medidas na área monetária, cambial e fiscal, o upgrade vem em um momento no mínimo estranho. Temos uma piora nessas três áreas e isso vai afetar o País no médio e longo prazo."
Jensen disse acreditar que o País cumprirá a meta de superávit primário para este ano e afirmou que a consultoria prevê que o crescimento do PIB deve chegar a 3,9% neste ano, mas disse que essa desaceleração não resolve a questão inflacionária.
Ele avalia que a Fitch deve ter levado em conta a boa recuperação do País após a crise de 2008, mas destacou que a melhora fiscal, por enquanto, é uma "promessa". "Parece que a Fitch está subestimando o risco inflacionário. A economia vem operando acima de sua capacidade", disse.
O sócio da Tendências Consultoria disse não compartilhar da avaliação da Fitch, que citou o anúncio do governo de um ajuste fiscal como decisivo para a elevação da nota do País.
"Embora o governo tenha anunciado um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, continuou a capitalizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em R$ 55 bilhões, o que, do ponto de vista da demanda agregada, tem impacto zero", explicou.
"O reajuste do salário mínimo apenas acompanhou a inflação do ano passado, mas, em 2012, o mínimo vai aumentar 14%, o que trará uma pressão de R$ 23 bilhões nas contas públicas."
Na avaliação dele, o Banco Central (BC) também está subestimando riscos inflacionários.
"As medidas macroprudenciais têm seus efeitos sobre a demanda, mas tem muita coisa incerta. O BC tem atuado de maneira diferente e negativa, fazendo algumas apostas que ele talvez não devesse fazer", afirmou.
Na questão cambial, avalia Jensen, o País tem adotado medidas para evitar a apreciação, interferindo no sistema de câmbio flutuante.
"A flutuação é suja, mas está cada vez mais suja."
Anne Warth/Agência Estado
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