"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 27, 2011

OLHO VIVO NO DÉFICIT EXTERNO

O Banco Central divulgou o resultado do balanço de pagamentos do país em 2010.
O fato de os investimentos estrangeiros terem sido, surpreendentemente, suficientes para cobrir o rombo nas transações correntes não deve retirar o foco nem as preocupações sobre o déficit recorde registrado.

As contas externas registram as transações comerciais, de serviços e transferências de renda do Brasil com o exterior.
Em 2010, o déficit em conta corrente ficou em US$ 47,5 bilhões, o maior em termos absolutos para a série iniciada em 1947.

Vale frisar: é o mais alto valor em 63 anos.

Entre 2009 e 2010, o rombo saltou de US$ 24,3 bilhões (1,52% do PIB) para US$ 47,5 bilhões (2,28% do PIB).
Ou seja, praticamente dobrou em um ano.
Foi o terceiro déficit seguido.
Neste ano tem mais.

O aumento no déficit de transações correntes deve-se, principalmente, ao fato de o país consumir acima de suas possibilidades de produção - algo que o dólar barato só incentiva:
as importações cresceram 42% no ano passado.
Outro exemplo são os gastos de brasileiros no exterior:
US$ 16,4 bilhões em 2010, o recorde de exportações do ano passado.

As contas externas só não fecharam no vermelho porque no finzinho do ano os chineses fizeram uma megaoperação ao adquirir participação de US$ 7,1 bilhões na petrolífera Repsol Brasil.

Coincidência ou não, também o setor de petróleo dera ao país, com operações fechadas pela Petrobras no apagar das luzes de 2010, o superávit comercial recorde do ano passado.

No total, os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 48,5 bilhões em 2010.
São, porém, cada vez mais concentrados em poucas empresas e setores, destaca O Globo.

Em 2010, o setor de extração de petróleo respondeu por 19% do total de recursos produtivos que entraram no país; produtos químicos, por 14%; e extração de minerais metálicos, por 12,7%.
Um terço das operações envolveram mais de US$ 1 bilhão (em 2009, menos de 6% dos casos tiveram esta característica).

Em geral, os chineses estão por trás destes negócios:
estima-se algo como US$ 17 bilhões, ou um terço dos ingressos para operações de participação no capital, segundo estudo da Sobeet divulgado pelo Valor Econômico.

"O mundo e o Brasil estão ficando um pouco reféns da China", resume Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP.

Além da componente dos investimentos estrangeiros, quem tem permitido que o déficit ainda seja financiável é a balança comercial.
Mas é preciso considerar alguns aspectos - todos declinantes - deste componente.
Neste ano, o superávit comercial deve despencar dos US$ 20,3 bilhões de 2010 para menos da metade, conforme previsões colhidas pelo BC.

A pauta brasileira está cada vez mais concentrada em commodities - tanto que nossa maior exportadora, a Vale, exibe saldo na sua venda de minérios ao exterior maior do que todo o superávit do país.

Hoje, dadas as condições macroeconômicas globais, a maior preocupação não é com o tamanho do déficit em conta corrente em si, mas com a velocidade do aumento.

Para 2011, o prognóstico é de um rombo externo ainda maior, atingindo US$ 67 bilhões ou 3% do PIB. (Nesta base, o pior resultado continua a ser o de 2001: 4,19% do PIB.)

Desta vez, porém, não se deve esperar que os investimentos estrangeiros cubram o rombo:
a estimativa é de ingresso de apenas US$ 40 bilhões.
Restará ao governo Dilma fazer a lição de casa e esfriar o consumo, segurando as despesas públicas.

Fonte: ITV

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