"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 18, 2010

CRESCIMENTO DO PAÍS E POUCA EVOLUÇÃO DO PADRÃO DE VIDA.


CONJUNTURA
Mantido o ritmo de expansão, o Brasil só alcança o atual nível dos EUA em 30 anos.

Último ano de sua gestão, a equipe econômica do governo Lula comemora a superação da crise financeira global e a expectativa de um crescimento sem precedentes nos últimos 25 anos.

O nível de desenvolvimento, porém, ainda está muito aquém do encontrado em nações avançadas e, para deixar definitivamente a condição de país emergente, é necessário acelerar o ritmo sob pena de levar até 75 anos para o brasileiro ter o mesmo padrão desfrutado hoje pelos norte-americanos.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) médio na última década foi de 2,3%.

Com essa taxa, o Brasil chegará aos US$ 46 mil equivalentes ao PIB per capita dos Estados Unidos apenas em 2085.

Se o país cumprir nos próximos anos o que os economistas chamam de PIB potencial, nível em que a expansão é sustentável, entre 4% e 4,5% no caso do Brasil, esse prazo cai para 54 anos e, mantido o fôlego de 7,2% previsto e documentado na quarta revisão do orçamento deste ano, alcança-se a atual condição norte-americana em 30 anos.

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Manter uma taxa de 7% por vários anos, do jeito que estamos hoje, é sonho.

No máximo conseguiremos sustentar um pouco mais de 4%, dispara José Luis Oreiro, professor do Departamento Econômico da Universidade de Brasília (UNB).

Para ele, a condição mínima para ampliar a capacidade de produção do país é aumentar em pelo menos cinco pontos percentuais a taxa de investimento, dos atuais 18%, para 23% do PIB.

O salto, no entanto, só será possível com o saneamento das contas públicas. É preciso mudar o perfil das despesas.

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Os investimentos totais do governo somaram R$ 28 bilhões nos primeiros oito meses do ano, conforme divulgou o Tesouro Nacional.

O valor é 62% superior ao registrado no mesmo período de 2009, mas ainda representa menos de 2% do PIB.

Obstáculos à frente

A economista-chefe da corretora Icap Brasil, Inês Filipa, também lista a melhoria da infraestrutura como premissa para turbinar os motores do país. Inclui ainda outros três fatores: educação, tecnologia e demanda externa aquecida.

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Somado às altas despesas mantidas atualmente pelo governo, Inês lembra que outro obstáculo ao crescimento é a baixa participação do setor privado nas grandes obras (estradas, portos, aeroportos) ainda é fruto de pouco estímulo.

Faltam garantias e incentivos para os empresários. Não há sequer a certeza de retorno, então o setor privado não entra nessas empreitadas, pondera.

Além da deficiência logística, outro entrave ao crescimento é a falta de poupança interna, que joga o país na dependência do financiamento externo para bancar seus gastos.

A China só consegue crescer a 10% ao ano, sem parar e sem gerar uma explosão na inflação porque tem uma das maiores poupanças internas do mundo, ressalta o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.

O economista diz-se contrário à linha de pensamento que defende que o investimento gera poupança (ao aumentar a produção de riquezas).

Não concordo, acho que um país que se propõe a investir mais do que a poupar acaba reforçando o deficit externo, afirma.

EDUCAÇÃO É CHAVE

O Brasil tende a perpetuar o crescimento a passos de tartaruga, enquanto mantiver a educação básica relegada ao segundo plano no que diz respeito ao planejamento de políticas públicas, garantem os economistas.

Sem melhora na estrutura de ensino dos primeiros anos da carreira escolar, o país tende a perder o pouco do protagonismo internacional conquistado após a crise.

O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, aponta essa como uma das chaves para o aumento da produtividade das empresas instaladas no mercado doméstico.

A falta de qualificação é um dos maiores empecilhos para a indústria nacional, lamenta.

Leal lembra que a escassez de tecnologia e maquinário dos parques produtivos pode ser rapidamente preenchida com a importação de bens de capital e insumos, solução que não se aplica à mão de obra.

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Qualificação

Em alguns setores da economia, a falta de profissionais qualificados se tornou um problema crônico, atrapalhando o avanço da atividade.

Na construção civil, segmento que passa por um boom de crescimento sem precedentes nos últimos 20 anos, a solução encontrada pelas empresas para driblar a escassez foi contratar os trabalhadores e treiná-los no canteiro de obras.
Gabriel Caprioli Correio Braziliense

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